Mas vou-vos contar uma das minhas humilhações para vocês verem do que eu (não) sou feita. Quando estava a preparar a defesa da minha tese de doutoramento, o meu orientador disse que queria que eu lhe apresentasse o trabalho só com ele na sala, para eu praticar. Eu, na boa, muito auto-confiante, disse-lhe que não era preciso, que sabia aquilo de trás para a frente. Ele riu-se e disse para eu ir reservar a sala, que ia lá ter.
Fomos para a sala, ele trouxe um gravador e eu comecei. Fui horrível. Hesitei, não fui clara, tive brain freezes (congelamentos cerebrais), etc. Eu pedia desculpa ao meu orientador e dizia que, pronto, realmente tinha de praticar mais, que podia parar, eu já tinha percebido. Ele calmamente dizia "Continua". E eu continuava a humilhar-me e, no fim, ele deu-me a gravação da minha humilhação. Era tão mau, tão mau, mesmo gloriosamente mau. Aprendi a minha lição. Vi que era um ponto fraco meu e compensei.
A minha defesa verdadeira correu muito bem e um dos meus professores disse-me que tinha sido uma das melhores defesas que ele tinha visto. Uns anos mais tarde, disseram-me que tinham lido uma carta de recomendação que esse professor tinha escrito em meu nome e era uma recomendação esplêndida, suponho que muito em parte por ele ter ficado impressionado com a minha defesa. Mas eu sei, e agora vocês sabem, que foi boa porque a primeira vez foi péssima.
Já corre, no Facebook, um vídeo com o Mário Centeno no meio de um congelamento cerebral. Tenham dó. Eu não concordo com os números do senhor, mas julgar uma pessoa só porque um dia teve um momento menos bom, revela mais acerca de nós do que dessa pessoa. Ele tem a minha simpatia porque eu já tive, e decerto voltarei a ter, o mesmo problema.
Momento ZenPosted by Francisco Louçã on Friday, April 24, 2015
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