Devido
à crise internacional, começada em 2007 nos EUA, levantaram-se muitas
vozes a clamar por mais regulação do sistema financeiro. E as autoridades foram
ao encontro dessas reivindicações. Os bancos foram submetidos a vários testes
de stress, obrigados a operações de “desalavancagem financeira”, etc.
Entretanto, o Estado atirou milhares de milhões de euros em operações de salvamento
da banca. Sempre com os aplausos do “comentariado”, convém recordar. Foi assim
com o BPN em 2008, com o BES em 2014. À medida que se ia descobrindo o tamanho
dos buracos, esses aplausos foram-se transformando em apupos e vaias. Afinal,
não há “salvações grátis” para o contribuinte.
Há
perguntas que poucos fazem. Ter aumentado a regulação financeira após 2009 foi
bom ou mau? Será que o problema era, de facto, a falta de normas restritivas ou
seria antes o seu excesso? Será que favorecer a complexidade em detrimento da
simplicidade é o melhor caminho? Apertar os nós da rede de um sistema altamente
complexo como o financeiro – o mais complexo que o homem alguma vez inventou -
não tornará as rupturas ainda mais explosivas e catastróficas?
Da regulação espera-se que reduza o impacto dessas explosões impossíveis de
prever. Não é uma regulação mais pormenorizada do sistema que resolverá o
problema. É fundamental acabar com o sentimento reinante de impunidade
resultante da falta de punição dos gestores e accionistas incompetentes e
gananciosos. A justiça deve ser implacável e expedita. De uma coisa
podemos estar certos: gente gananciosa e sem escrúpulos haverá sempre no
sistema financeiro. Afinal de contas, é lá que está o dinheiro. Não há nada
mais dissuasor de práticas fraudulentas do que o encarceramento exemplar dos
maus banqueiros. Não é isso que se tem visto em em Portugal, onde a quadrilha
do BPN continua à solta.
Parece-me
que as medidas tomadas nos últimos anos, no sentido de uma maior regulação,
acentuaram, pelo menos, um efeito perverso. Uma pessoa lê e ouve as notícias e
fica com a sensação de que os principais culpados da actual situação do Banif
são, sobretudo, o anterior governo e o governador do banco de Portugal. Mariana
Mortágua acusou Passos Coelho e Paulo Portas de um "acto criminoso" – e diz que
mediu bem as palavras.
Nesta
narrativa, os gestores e accionistas que, por incompetência, ganância,
aldrabices, ilegalidades, etc., levaram os bancos à bancarrota passam para
segundo plano – aliás, os accionistas, coitados, às tantas até são
umas pobres vítimas. Isto é o mesmo que acusar de “criminosos” os bombeiros,
que, afinal, não conseguiram controlar o incêndio tão bem como se pretendia.
Eis aonde nos levou, para já, uma regulação mais pormenorizada do sistema
financeiro: fala-se mais dos bombeiros do que dos pirómanos. Os pirómanos, como
é evidente, agradecem.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Não são permitidos comentários anónimos.