Quem tem muitos anos de vida tem memórias
de muitos Natais. De quando se era criança e se aguardava o momento de, pela
manhã do dia 25, ir à chaminé ver o sapatinho que lá se tinha posto na véspera
(eu testemunho: fi-lo, e até fui por vezes generosamente compensado…), e
depois, de muitos outros em que, havendo diferenças, se repetiam – e repetem –
umas quase formalidades, no fundo rituais que é difícil romper, ainda que
possam mudar. Quem não se lembra das resmas de cartões de boas festas a enviar
pelos correios, hoje substituídos por mensagens de e-mail ou sms?
Não sou diferente de outras pessoas, mas
tenho na minha vida um Natal muito especial, e é esse o motivo deste post. Em
1967 eu tinha sido colocado como professor efectivo no então Liceu Nacional da
Horta, na ilha açoriana do Faial, para onde viajei em Outubro. Porque fora
sozinho queria vir no Natal ao continente, pelo que atempadamente marquei a
viagem de ida (via marítima, porque nessa altura era complicado usar a via
aérea) no navio Funchal, um dos mais
rápidos em serviço, que tinha como dia da chegada a Lisboa precisamente o dia
24 de Dezembro. Não me recordo bem do dia da partida, mas não deveria andar
muito longe de 19. Tenho uma vaga ideia de por minha causa se ter antecipado
uma reunião de professores para lançar as classificações do período.
Aconteceu, no entanto, que o dia da chegada
do Funchal coincidiu com um violento
temporal que quase impediu a entrada no navio no porto e tornou completamente
impossível a sua saída. Durante dois dias de chuva intensa, mar de vagas
alterosas que varriam o cais, tornaram-me prisioneiro na ilha. E quando o tempo
acalmou, havia uma certeza: o meu Natal ia ser passado no Atlântico! E assim
foi: véspera e dia de Natal passei-os num navio em que os tripulantes eram
muitos mais do que os passageiros, felizmente com um mar razoável para a época,
e com porventura refeições melhoradas (mas sinceramente não recordo as
ementas).
Por isso eu sei com toda a certeza o que
foi o meu Natal de 1967, e não serei capaz de ter qualquer certeza se quiser
lembrar, por exemplo, o Natal de 1985.
Para todos, um bom Natal! E um feliz 2016.
O meu pai também já por diversas vezes me falou no Funchal. Ficar prisioneiro na ilha é muito comum. Nunca fiquei, porque raramente as visito no inverno, mas o Cristóvão já ficou por diversas vezes.
ResponderEliminarEu precipitei-me para apanhar a aberta entre duas falências (arrestos?) do Funchal e corri o risco de ir nele aos Açores em 2013 sem ter a certeza certa de que tudo estava OK do ponto de vista de segurança. De facto, valeu a pena chegar a Ponta Delgada com o barco dos pilotos, e os rebocadores embandeirados em arco a roncarem uns para os outros (um som de ir às lágrimas!), com tudo o que era varanda a dar para o porto pejado de gente para ver chegar o Funchal ao fim de 31 anos de ausência:
ResponderEliminarhttp://www.acorianooriental.pt/noticia/emocao-na-chegada-do-funchal-a-ponta-delgada
O "Funchal" era um navio muito querido dos açorianos. Quando iniciou as viagens, nos anos 60, era um paquete moderno, confortável, com o senão de, como se dizia, "ser muito dançarino", isto é, aguentar mal o mar bravo. Como conheci, também, os dois navios que faziam a carreira regular para os Açores, o "Lima" e o "Carvalho Araújo", posso tstemunhar que quer o "Funchal" quer o "Angra do Heroísmo", que também surgiu na altura, foram um grande melhoramento para os viajantes que demandavam as ilhas.
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