Nesta novela, exploram-se relações de ódio e de amor. Há o amor encontrado entre António Costa, Catarina Martins, e Jerónimo de Sousa (de Esquerda), que muita vezes parece frágil, ou talvez haja um pouco de apatia emocional entre estas três pessoas que supostamente têm tanto em comum, e pelo qual muitos portugueses torcem. Já entre António Costa e as personagens da Direita, Cavaco Silva, e Pedro Passos Coelho, exploram-se situações de ódio. Os espectadores portugueses estão completamente divididos por esta dicotomia Esquerda-Direita, que nos recorda o conflito e ódio de estimação entre os Capuletos e os Montecchios do enredo Shakespeareano, Romeu e Julieta. Nessa obra prima da literatura inglesa, o final é trágico e os protagonistas, que não se odeiam, acabam mortos. Em Portugal, tal não acontecerá: haverá tragédia, mas nenhum dos protagonistas acabará morto literalmente; no entanto, a morte política de Pedro Passos Coelho é altamente provável dado o seu desempenho actual.
Um enredo semelhante a este já foi explorado recentemente, há duas novelas: o ódio foi uma das armas usadas por José Sócrates para dividir o país e o empurrar para a bancarrota. E até houve uma altura, nessa novela, em que Pedro Passos Coelho e José Sócrates se amavam. José Sócrates ainda está vivo, mas nem todos os portugueses sobreviveram. Durante a novela seguinte, protagonizada por Passos Coelho, Sócrates já era uma figura odiada pelo protagonista. Perdeu-se nessa novela uma grande oportunidade de eliminar o ódio em Portugal; mas num país que foi fundado em 1139, o que não faltam são oportunidades para amar, odiar, falhar, e voltar a repetir a dose. Note-se que o amor e o ódio são coisas muito próximas e como "O amor é fogo que arde sem se ver", isso pode dar aso a muitos incêndios.
Mesmo em países mais jovens, o ódio é instrumentalizado para escudar más governações: veja-se o caso da Argentina de Cristina Kirchner ou dos EUA de George W. Bush, em que cada um teve dois mandatos, ambos os países perderam e bastante; os ex-governantes sobreviveram e têm boa qualidade de vida. Kirchner ficou com a conta de Twitter da Casa Cor-de-Rosa; Bush finalmente conseguiu que uma universidade aceitasse a sua Biblioteca Presidencial.
Como é característico das novelas, para além do arco principal da história, que é o percurso do protagonista, há outros sub-arcos, que são introduzidos semanalmente para entreter e embrutecer as massas. Se os tópicos mudarem frequentemente, nenhum é aprofundado, e a má governação é, por isso, camuflada mais facilmente. Por exemplo, já assistimos aos seguintes sub-arcos (não aconteceram necessariamente na ordem mencionada; perdoem-me se a memória me falha, mas estou completamente destreinada na arte de ver novelas):
- Negociações para a formação de governo
- (Des)acordo que supostamente dá legitimidade ao governo da Geringonça
- Ataques ao Presidente da República
- Elenco de Ministros e outros personagens
- Legalização da adopção de crianças por pessoas em relações homossexuais
- Infelicidade infantil causada por exames escolares
- Indiferença felicífica causada por exames escolares se propostos por um governo PS
- Aumento do salário mínimo nacional
- Redução dos horários de trabalho da função pública
- Rumores do Banif iniciados pela TVI
- Queda do Banif
- Venda do Banif
- Orçamento rectificativo por causa do Banif
- Início da Comissão de Inquérito por causa da venda do Banif
- Eleições presidenciais
- Provocação dos credores internacionais e detentores de instrumentos de dívida do Novo Banco
- Regresso da TAP ao estado
- Orçamento de estado, versão I, chumbada por Bruxelas e Excel de Centeno
- Orçamento de estado, versão II, chumbada por Bruxelas
- Orçamento de estado, versão III, condicionalmente aceite por Bruxelas
Neste momento, já se vislumbram mais histórias que irão ser exploradas na novela actual, como a eutanásia, a pseudo-tentativa para demitir Carlos Costa do cargo de Governador do Banco de Portugal, a necessidade de injectar mais dinheiro (mais €567 milhões, é só 0,3% do PIB, não sejam mesquinhos) no BPN/CGD, etc.
Quanto mais ódio for cultivado, no decorrer destas histórias, melhor a probabilidade de António Costa ser eleito caso haja eleições antecipadas. Projecta-se que estas eleições serão o clímax político desta temporada. A derrocada final está agendada para uma temporada futura porque esta novela não é à brasileira; é uma soap opera à americana: nunca mais acaba...
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