Numa
história grega antiga, o defensor de uma mulher muito bela mas cruel assassina
do seu marido, na falta de argumentos para convencer os juízes, desapertou o
vestido da acusada para a fazer aparecer em toda a sua nudez. À sua pergunta: “podeis
condenar uma mulher tão bela?”, o júri respondeu que não.
Moral
da história? Primeiro, antigamente, a beleza tinha virtudes que se calhar já
não tem. Segundo, o sentido pejorativo que a retórica adquiriu, sobretudo a
partir do século XIX, tem muito a ver com isto: na “arte de convencer”
o que interessa é a eficácia, faltando muitas vezes um travão ético – ao mesmo
tempo, esta crítica não deixa de ser paradoxal numa sociedade que endeusa a
eficácia. Terceiro, talvez nos possamos rir do júri grego em nome da ideia que
fazemos hoje de justiça. Mas talvez devêssemos parar de rir se pensarmos que
compramos muitas vezes produtos em massa devido a uma versão modernizada dessa
história da antiguidade: as belas mulheres (e homens) que aparecem nas
numerosas publicidades modernas sempre ao lado de um carro ou de qualquer outro
objecto, esperando a contaminação de um pelo outro no registo do desejável.
Concordo, mas olha que as linhas do meu carro são belas mesmo quando eu não estou ao pé dele...
ResponderEliminarCerto, mas olha que uma rapariga ao pé de um fantástico descapotável fica muito mais gira.
EliminarConheci uma rapariga numa free shop do aeroporto de Atenas, que era francamente bonita. Bonita e imensamente simpática.
EliminarNão lhe despi o vestido para lhe confirmar a beleza mas estou seguro que venderia qualquer carro, por qualquer valor, caso se colocasse ao seu lado. Jantámos dois dias depois...
Claro, porque não é tão gira quanto eu! ;-)
EliminarDesconfio que eu era menina para estragar o fantástico descapotável só de olhar para ele. Contamino, contamino: para pior.
Eliminar(Já me aconteceu: deram-me boleia num Porsche, e eu, além de achar o carro super desconfortável, perguntei quanto gastava aos 100. Coitadinho do condutor do Porsche, quase ia deixando o motor ir abaixo. E agora nada de críticas, que eu saco já do "podeis condenar uma mulher tão bela?")
Desconfio que eu era menina para estragar o fantástico descapotável só de olhar para ele. Contamino, contamino: para pior.
Eliminar(Já me aconteceu: deram-me boleia num Porsche, e eu, além de achar o carro super desconfortável, perguntei quanto gastava aos 100. Coitadinho do condutor do Porsche, quase ia deixando o motor ir abaixo. E agora nada de críticas, que eu saco já do "podeis condenar uma mulher tão bela?")
Saber quanto consome e quanto polui, são nos tempos atuais duas preocupações ambientais que todo o comprador deve ter em conta, antes de adquirir o automóvel. A menos que não pretenda circular com ele. Conheço quem, possua três modelos clássicos e se deleite a conviver com eles, na sala.
EliminarÉ mais uma pérola do José Carlos, porque a referida grega tinha sido modelo da estátua de Afrodite, deusa da Beleza, e estava perante uma denúncia contra a qual ninguém sabia argumentar, em palavras, devido à falta de experiência comum em casos motivados por inveja das demais cortesãs. Daí o recurso à imagem - como poderia o tribunal condenar quem tinha servido de modelo para a estátua da deusa da Beleza?
ResponderEliminarQuem poderá explicitar isto tudo, e muito bem, está perto:
As questões que se repetem, uma breve HISTÓRIA DE FILOSOFIA
Paulo Tunhas, ALEXANDRA ABRANCHES
Oficina do Livro, Jun./2012
SUMÁRIO
Uma breve história da Filosofia para alunos, pais e professores. A filosofia começa com os GREGOS. É uma trivialidade dizê-lo, mas é uma trivialidade verdadeira. É certo que os princípios da filosofia grega prolongam a sabedoria oriental, babilónica ou egípcia, nomeadamente no que diz respeito às teorias da criação do cosmos, as cosmogonias, e à ideia de um caos primordial a partir do qual tudo se organiza (o caos transforma-se em cosmos). Mas é com os Gregos que se acrescenta à interrogação sobre a origem do cosmos, aquele que é o gesto inaugural da filosofia: uma reflexão sobre o próprio acto de pensar e sobre a origem do pensamento no espanto, ou maravilhamento, com a própria existência de um mundo ordenado, de um cosmos. Uma reflexão que se desdobra num inquérito sobre a natureza da nossa vida moral e política, e sobre a essência da beleza. Estes três temas – NATUREZA, MORAL E BELEZA – manter-se-ão os três objectos principais da filosofia ao longo da sua história, ao ponto de quase se poder dizer que a filosofia consiste nas várias formas de os pensar e de os ligar entre si...
Obrigado pela dica, as coisas que fico a saber graças a si, não fazia ideia que a grande Alexandra Abranches já tinha escrito um texto sobre o assunto. Para dizer a verdade, ouvi ou li essa história algures e já nem me lembrava que a dita grega tinha sido modelo da estátua de Afrodite, ficou-me, no entanto, a ideia que o júri não a condenou devido à sua enorme beleza e que foi esse o estratagema usado pelo seu defensor.
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