Há dias assisti a uma conferência de um senhor que estuda
filosofia política, ciência política, teoria democrática e comunicação há mais de 30
anos. Contou que um jovem de 19 anos o “corrigiu” no Facebook a propósito de
uma discussão sobre a actual situação política brasileira. Pensei que o dito
Professor ia começar a dissertar sobre "o atrevimento da ignorância”. Ou
sobre a forma como as redes sociais permitem que qualquer analfabeto ou
ignorante tenha “opinião”. Mas não. O professor perguntou antes: se a sociedade
entende que alguém de 19 anos tem o direito de votar, por que motivo não
haveria também de lhe reconhecer o direito de expressar a sua opinião, por mais
idiota que ela possa parecer? O néscio pode votar, mas não pode discutir?
Aristóteles já tinha explicado que a democracia é o sistema
da mediocridade. Democracia não é sinonimo de qualidade, mas sim de
legitimidade. E muitas vezes esquecemo-nos desse princípio básico. Muitos gostam de proclamar o seu amor pela democracia, mas depois não querem aquilo que a democracia comporta.
A maioria dos intelectuais, em especial os de esquerda, recorre ao argumento do “senta-te e espera”. Ou seja, primeiro seriam necessárias doses maciças de educação para iluminar os espíritos e, depois sim, teríamos uma sociedade cheia de gente educada, preparada para discussões públicas sofisticadas. Podemos esperar sentados. No início do século XX, mais de 90% dos ingleses eram alfabetizados. Hoje, mais de 100 anos depois, não me parece que no Reino Unido o nível dos comentários nas redes sociais, blogues, caixas de comentários da imprensa, etc. se distinga pela sofisticação ou subtileza em relação ao que se passa aqui em Portugal.
A maioria dos intelectuais, em especial os de esquerda, recorre ao argumento do “senta-te e espera”. Ou seja, primeiro seriam necessárias doses maciças de educação para iluminar os espíritos e, depois sim, teríamos uma sociedade cheia de gente educada, preparada para discussões públicas sofisticadas. Podemos esperar sentados. No início do século XX, mais de 90% dos ingleses eram alfabetizados. Hoje, mais de 100 anos depois, não me parece que no Reino Unido o nível dos comentários nas redes sociais, blogues, caixas de comentários da imprensa, etc. se distinga pela sofisticação ou subtileza em relação ao que se passa aqui em Portugal.
Os académicos geralmente têm um discurso apocalíptico sobre as novas tecnologias. É assim desde que os jornais se massificaram a
partir do século XIX - e massificação é outro nome para democratização. A rádio, a televisão, a internet, os blogues, as redes
sociais iriam trazer um monte de desgraças: o isolamento dos indivíduos, o fim
da família, depressões, violência, suicídios, o fim da democracia representativa, alienação e estupidificação das
massas, etc. Lendo esses autores, uma pessoa pasma por ainda haver amizade,
famílias e, parece inacreditável, famílias felizes. Conheço casos.
Este discurso apocalíptico tem, todavia, o seu interesse e utilidade.
Chama-nos a atenção para alguns problemas e faz-nos pensar - como explicou
Umberto Eco há 50 anos no seu célebre “Apocalípticos e integrados”. De qualquer
maneira, independentemente destas visões do Apocalipse de muitos académicos e
intelectuais, o tempo resolverá o problema: é uma questão de morrerem estes
últimos resistentes para que o mundo fique todo “híperconectado” e, por consequência, repleto de opiniões. É um
admirável mundo novo. Gostemos ou não dele, é o que temos. As coisas são o que
são, como dizia o outro.
Ha anos (muitos, tanto que sou totalmente incapaz de repescar o nome do livro ou do autor) lembro-me de ler um livro de biologia (mais precisamente, uma colectanea de pequenos ensaios estimulantes ao estilo do Stephen J. Gould). Num deles sugeria-se que no caso dos insectos sociais o "organismo" era o grupo, a colmeia ou o fomigueiro, por exemplo. Um dia destes lembrei-me desse ensaio a proposito das sociedades humanas. Cada vez que aplico ao ser humano a mesma grelha de interpretacao que aplico aos animais chego a conclusao que ela serve perfeitamente. Este e mais um exemplo.
ResponderEliminarHa anos (muitos, tanto que sou totalmente incapaz de repescar o nome do livro ou do autor) lembro-me de ler um livro de biologia (mais precisamente, uma colectanea de pequenos ensaios estimulantes ao estilo do Stephen J. Gould). Num deles sugeria-se que no caso dos insectos sociais o "organismo" era o grupo, a colmeia ou o fomigueiro, por exemplo. Um dia destes lembrei-me desse ensaio a proposito das sociedades humanas. Cada vez que aplico ao ser humano a mesma grelha de interpretacao que aplico aos animais chego a conclusao que ela serve perfeitamente. Este e mais um exemplo.
ResponderEliminarEu também acho que a biologia é fundamental, os indivíduos e as sociedades não são apenas o resultado de "construções".
Eliminar"The selfish gene" explica isso muito bem.
EliminarTambém eu passei pela moda de fazer extrapolações de enxames, formigueiros, alcateias e matilhas para os humanos, mas só até ter tido acesso ao "Systemic risk in banking ecosystems (Andrew G. Haldane & Robert M. May).
EliminarMmmm... A possibilidade de ver cada um de nos como uma celula, um tecido ou um orgao dum organismo que seria a sociedade, nao me parece. Pelo menos nao me lembro.
ResponderEliminarEra a ideia de que a evolução leva a que os genes mais bem sucedidos se propaguem. O que aparentemente é um acto altruísta é na verdade um acto egoísta. Alguém que se sacrifica pela família, está não a sacrificar os seus genes, mas sim a perpetuá-los por via dos genes dos familiares (que partilham os mesmos genes).
EliminarO neodarwinismo do gene egoísta de Dawkins, que tem sido a escora do movimento neoateísta e de todas as suas derivações, é um aspecto de um sistema de heritabilidade - o genético - onde a evolução ocorre. Jablonka e Lamb, ao identificarem outros mecanismos de evolução igualmente válidos - a epigenética, a evolução comportamental e a evolução simbólica, deram um rude golpe nas suas ambições totalitárias.
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