quarta-feira, 11 de maio de 2016

Contas à Liberal

O Mário Amorim Lopes discorda do Carlos Guimarães Pinto (CGP): afinal, na educação há custos fixos. O Miguel Botelho Moniz acha o mesmo: o custo de construção e outros materiais deve considerado. Parece que os Insurgentes não se entendem...

No entanto, finalmente, estou convencida. O CGP diz que, em Portugal, o número de alunos por professor é 9 no segundo ciclo do público e 13 no do privado. Já no terceiro ciclo é 8 no público e 7 no privado. Note-se que estes rácios são relativamente baixos da lista de países que o CGP publica. E que se passa com os holandeses? Olha que forretas: têm 16 (público, segundo ciclo), 15(privado, segundo ciclo), 19(público, terceiro ciclo), e 19 (privado, terceiro ciclo) alunos por professor.

De regresso a Portugal: o CGP conclui que este rácio de alunos por professor é óptimo e deve ser mantido a todo o custo, logo meter mais alunos no público tem necessariamente de se traduzir em aumentar o número de professores contratados. Ou seja, não faz sentido que Portugal tenha 14 alunos por professor no público, por exemplo. No entanto, nenhum dos Insurgentes acha que ter mais alunos a estudar no público dilui os custos de construção por aluno e ter menos no privado os aumente. Mas não interessa, estes gajos são liberais e sabem fazer contas de dividir. Faz sentido! Convenceste-me, Carlos, não era isso que querias? (Já agora, o que é que vocês fumam? É muito bom...)

Julgo que o melhor é mandar construir escolas privadas novinhas em folha para todos os alunos do país, pois, se tudo for privado, o custo por aluno é menor. Não se esqueçam de dizer aos bancos para emprestar dinheiro às empresas privadas para construir essas novas escolas, mas continuarem também a financiar as empresas exportadoras no mesmo valor que financiavam antes, porque não podemos descurar o investimento no sector transaccionável. (Não, desculpem, isso só era válido no tempo da Troika.) Então que tal pedir ao BCE para comprar mais dívida pública portuguesa e perdoar a dívida correspondente à construção de escolas públicas? Esperem, de acordo com os preceitos de José Sócrates, a dívida pública não se paga, nem é preciso perdoar: refinancia-se.

Não se preocupem com o enviesamento de selecção das escolas privadas: a população de alunos que frequenta o privado tem exactamente as mesmas características da população de alunos que frequenta o público, logo fazer comparações de qualidade de ensino entre os dois grupos é absolutamente trivial e não requer nenhuma correcção estatística.

Adoro a matemática dos liberais: encaixa tudo tão facilmente, até parece a dos socialistas, especialmente a do tempo do Eng. Sócrates...

10 comentários:

  1. Rita, isto começa a resvalar para o absurdo, por isso não me irei alongar muito mais (pessoalmente, acho que já te apercebeste do teu erro inicial que era o meu objectivo). Se a escola pública é mal gerida, não passará a ser melhor gerida por se transferir alunos do privado. É verdade que, no curto prazo, poderá haver alguns ganhos de escala nalgumas escolas, mas no longo prazo é irrelevante porque escala é o que não falta já hoje à escola pública e não é por isso que é melhor gerida como se pode vêr pelos rácios. Neste caso apenas se aumentará o número de alunos num sistema mal gerido. Aliás, Mário Nogueira já veio dizer que por cada 10 professores despedidos no privado serão contratados 12 no público. Ou seja, há a expectativa de prolongar a ineficiência. O que era até agora feito com 10 alunos passará a ser feito por 12 (provavelmente 10 a ensinar, 1 no ministério a gerir e 1 no sindicato a protestar).

    Se existem dois sistemas: um grande e ineficiente (o sistema público estatal) e um pequeno e eficiente (o sistema público de gestão privada), aumentar a eficiência do sistema como um todo não passa por acabar com a parte do sistema que é mais eficiente. Dito de outra forma, se há 5 escolas numa zona, 4 públicas geridas de forma eficiente e 1 privada eficiente, a solução não pode passar por encerrar a única a operar de forma eficiente. Porque a gestão e respectivos incentivos não mudam e a prazo o que teremos é 4 escolas ineficientes.

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    1. Carlos, o Mário Nogueira, como tu, não sabe fazer contas, nem sequer pensa nas burrices que diz. Ora se por cada 10, ele contrata 12, então de onde vêm os outros dois? Não eram professores, devem ser desempregados.

      Mas, só para veres o tamanho do absurdo das tuas contas, pensa no rácio de alunos. Tu dizes que 9 tem de se manter, logo para ter turmas com número de alunos à volta de 28, precisas de três vezes mais professores no público. De onde vêm os alunos, meu caro? Estás a dizer que a população de alunos que o privado tem é três vezes superior à do público? Mas ainda é pior do que isso, porque só estamos a falar em contratos de associação, logo tu precisas que os alunos afectados por esses contratos sejam três vezes em maior número do que os que já estão no público.

      A não ser que os portugueses desatem a foder que nem coelhinhos, ou que se importem orfãos para frequentar as escolas portuguesas, as tuas contas são completamente absurdas.

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    2. Confesso que não estou a perceber muito bem as contas da Rita

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  2. O comentário saiu com erros:

    "O que era até agora feito com 10 alunos passará a ser feito por 12 (provavelmente 10 a ensinar, 1 no ministério a gerir e 1 no sindicato a protestar)." Em vez de "alunos", quero dizer "professores"

    "Dito de outra forma, se há 5 escolas numa zona, 4 públicas geridas de forma eficiente". Aqui quis dizer ineficiente.

    Espero que ainda dê para entender.

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  3. Rita:
    Tinha pensado não mais deixar comentários aos seus posts depois do seu incómodo com as minhas críticas.
    Só o fiz para lhe provar que também sei avaliar positivamente - e sou capaz de o fazer publicamente - quando concordo plenamente consigo: como é este caso.
    Para quem da escola só tem a experiência de utente (como aluna, tanto quanto intuo), acertou na mouche em praticamente tudo o que diz.
    E deixou os rapazes neoliberais às aranhas, engalfinhados uns contra os outros: entendam-se rapaziada.
    Mande-os ler os PISA de 2012 em diante, após cerca de 20 anos de cheque-ensino (ou similar, o nome pode variar de país para país) na Suécia. Os resultados pioraram paulatinamente e este país (que foi pioneiro na erradicação do analfabetismo há mais de um século, em que a escola pública deu um nível académico e cultural invejável a toda a população) ficou atrás de Portugal nos 3 itens avaliados: Língua Materna; Matemática; Ciências.
    E que vejam também a marcha atrás que os governos suecos, de direita e de esquerda, têm feito. Na Suécia diz-se que se tornou mais fácil abrir um bar do que uma escola: pudera, quando a coisa deu para o torto o Estado lá estava com os canhões de água.
    Afinal, o corte nas gorduras que os liberais passistas/portistas do anterior governo (que não passava por proibir a duplicação de recursos de oferta educativa, pois antes de saírem do governo tiveram o cuidado de armadilhar a situação deixando mais um novo quadro contratual leonino à iniciativa privada alimentada pelo malvado Estado) era só para os ordenados e as pensões (aí é que não há direitos adquiridos, só nestes contrato de associação com os colégios privados).
    A vergonha da reforma autárquica do ex-Dr. Miguel Relvas - mais do que urgente e apontada pela Troika como essencial – ficou-se pelo miserável corte das miseráveis freguesias que já não faziam qualquer sentido, o que nos poupou 0,2% dos gastos nesta área. 1500 em 4200. Mais fez o António Costa em Lisboa, reduziu-as de 52 para 24, sem Troika e sem grande alarido, e estando em minoria na Assembleia Municipal, que tinha de aprovar a redução.
    Autarquias com 13,9 Km2 quadrados de território (Entroncamento), contíguas a outras com 49 Km2 Vila Nova da Barquinha), donde foram criadas há 20 anos por desanexação, essas são para continuar: isto na época da internet, da autoestradas e dos meios tecnológicos como nunca houve.
    Retomando o assunto, só lamento que nalguns posts seus, que motivaram a minha crítica que tanto a desgostou, não tenha fundamentado os mesmos com a clareza e a assertividade que fez nos vários posts deste assunto: ao contrário do que se possa pensar, este assunto dos colégios privados não passa da extensão da luta ideológica geral na sociedade portuguesa dos fanáticos de direita contra os fanáticos de esquerda, agora estendida ao território deste negócio liberal do ensino à custa do Estado.
    As crianças, a qualidade das boas escolas (públicas e privadas), a melhoria e eficiências do que existe, o desperdício de contratar em cima do que existe, isso de pouco conta para esta gente. Tal como a racionalidade que devia existir em não construir mais escolas públicas – pelo menos enquanto o país estiver no estado comatoso em que se encontra – onde houver oferta privada que possa suprir as necessidades.

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  4. Rita, respira fundo. Acho que estás a confundir número de alunos por turma com rácio de alunos por professor. Um número médio de alunos por professor de 9 pode perfeitamente coexistir com turmas de 28 alunos (aliás, Portugal está próximo disso), dependendo do número de horas de trabalho dos professores. Imagina que numa escola existem 5 turmas de 28 alunos e 16 professores. O rácio aluno por professor é de 9 e as turmas são de 28 alunos. Pensa um minuto nisto.
    E sim, há professores desempregados, e desempregados que podem ser professores.

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  5. Correcção: No meu comentário anterior troquei a ordem das palavras.
    «Na Suécia diz-se que se tornou mais fácil abrir uma escola do que um bar»
    Assim é que eu queria ter escrito.

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  6. Confesso que, embora entenda a teoria, achar-se que é possível em Portugal aumentar o rácio de alunos por professor é dos maiores disparates que tenho ouvido para defender um menor custo por aluno neste caso...
    A sério que a Rita acredita que seria possível aumentar o racio para 14 ou 15 alunos por professor, sem aumentar funcionários da escola, nada...??? Num país onde há 5 anos atrás o horário completo de professor era de 22 horas semanais, passou a 40 e a barraca quase veio abaixo e agora desce de novo para 35h (sendo que quem conhece estes horários, sabe que várias destas horas são atribuídas para Horário de Biblioteca, Direção de Turma, Estudo acompanhado, reuniões pedagógicas, etc etc, que acabam, a maior parte das vezes, no café da esquina)???
    Então eu sonhei ou o governo apressou-se a referir que todos os professores que fossem despedidos das escolas privadas com contrato de associação devido a esta quebra contratual, teriam TODOS contrato no público (não obstante a ilegalidade desse acto, claro!!)...
    Que ingenuidade!

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  7. Sei que isto são blogues e os autores escrevem o que lhes dá na gana, mas o foco (de parte a parte) na picardia, leva a que me sinta cada vez menos esclarecido sobre o assunto em causa.

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  8. Das duas, uma: ou se melhora a gestão das escolas públicas, ou, achando-se que a má gestão é da natureza do estado (não é, amigos liberais?), acaba-se simplesmente com as escolas públicas e entrega-se aos privados. Qual é o problema? O estado já não produz pão e existem padarias em todas as aldeias e vilas deste país. Ah e eu tenho a certeza de que o padeiro não precisa do dinheiro dos meus impostos para nada.

    Eu apenas aguardo alguma coerência nisto tudo por parte dos liberais. Eu, de esquerda, sou mais claro, concordem ou não comigo: defendo que o Estado deve continuar a construir escolas e que não financie a mesma atividade nas empresas privadas.
    Renato

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