O Rui num
comentário ao meu post anterior lamenta a forma como a imprensa portuguesa
trata os assuntos da União Europeia. Tem toda a razão. Mas discordo do Rui num
ponto. A forma como os jornalistas portugueses trataram o tema das sanções não
foi um bom exemplo. Quem leu os jornais ou viu os noticiários televisivos
ficou, uma vez mais, com a ideia de que existe uma espécie de relação bilateral
entre Portugal e a “Europa”. Nós e eles. Nós contra o resto do mundo. Isto é do
mais puro provincianismo. Na verdade, os alemães estão-se nas tintas para
Portugal. Para eles, era suficiente venderem-nos os carros e dar por aqui umas
voltas no verão. O resto dispensavam. Portugal até podia sair amanhã da União
Europeia. Era um favor que lhes fazíamos – Merkel e Schäuble rebolaram-se com
certeza a rir se por acaso alguém lhes falou da ameaça de um referendo à
permanência de Portugal na UE de Catarina Martins. Aliás, se parte substancial
da nossa dívida pública não fosse a bancos alemães, a Alemanha, provavelmente,
nunca nos teria posto a mão por baixo em 2011. Ficaríamos ao Deus dará,
afundados numa dívida externa colossal e na nossa irrelevância.
As
preocupações da Alemanha são outras. A Ucrânia, por exemplo. Há quanto tempo os nossos media não dizem uma palavra sobre esse país? Ou sobre a
tensão das relações com a Rússia? As sanções nunca foram um tema central na
Europa nas últimas semanas. Lamento muito, mas as bravatas patrióticas do nosso
primeiro-ministro cá dentro não impressionam ninguém lá fora.
BRAVÔ! *clap clap clap* de pé. :-)
ResponderEliminarSem tempo para grandes considerações não quis deixar de aclamar o escrito que é genial. Tanto no que toca às omissões da imprensa Portuguesa como no que toca à irrelevância da República no contexto Europeu de onde advém o ridiculo das bravatas inconsequentes.
Gostei muito.
Obrigado.
EliminarDesculpe Jose Carlos, mas acho este post muito provinciano.;-)
ResponderEliminarPrezada Isabel, já percebi que temos uma visão diferente sobre os assuntos europeus. E, sinceramente, preferia que a sua visão, mais optimista, estivesse mais próxima da realidade do que a minha.
EliminarA titulo de curiosidade, o impacto das vendas de carros alemães em Portugal é tipo 0.3% para eles.
ResponderEliminarCompreende-se que os "nossos" media sejam muitas vezes chamados de meRdia.
ResponderEliminarCaro José Carlos Alexandre, agradeço ter respondido ao meu comentário.
ResponderEliminarDesculpe mas depois de ler o seu post em que refere que
"A forma como os jornalistas portugueses trataram o tema das sanções não foi um bom exemplo. Quem leu os jornais ou viu os noticiários televisivos ficou, uma vez mais, com a ideia de que existe uma espécie de relação bilateral entre Portugal e a “Europa”. Nós e eles. Nós contra o resto do mundo."
estranhei um pouco pois eu considero que sou uma pessoa razoavelmente bem informada e ao ler as notícias sobre esse tema aprendi algumas coisas sobre a "política/processo/burocracia" europeias. Assim para perceber se efetivamente tinha razão fiz uma pesquisa rápida no Google sobre as notícias referentes ao tema das sanções em Portugal. Envio-lhe em baixo alguns links que penso que tratam com maior profundidade do que o habitual os assuntos europeus e em que penso que não está de todo presente essa simplicidade provinciana de "nós contra eles" que refere:
http://www.tsf.pt/economia/interior/bruxelas-vai-recomendar-sancoes-a-portugal-e-espanha-5251598.html
http://www.tvi24.iol.pt/economia/defice/sancoes-bruxelas-propoe-multa-zero-para-portugal
https://www.publico.pt/politica/noticia/1sancoes-a-portugal-nas-maos-do-ecofin-1737626
Nota: optei por excluir links de noticias de imprensa económica pois assumo que em principio esse tipo de imprensa teria uma melhor cobertura jornalística deste tipo de assuntos