Pergunto-me que liberdade de decisão sobre o seu corpo tem uma mulher criada e educada nos preceitos do Islão, à qual desde o nascimento foi dito que uma mulher destapada é uma pecadora destinada à condenação eterna, e que, se o fizer, será, no mínimo, repudiada pela família.
Na Europa, a discriminação de género não é admissível.
Fonte: Inês Pedrosa, Sol, 8/24/2016
Ainda sou do tempo que se dizia às mulheres que tinham o período para não lavar a cabeça porque enlouqueceriam, que não podiam fazer bolos porque a massa não cresceria, etc. Aposto que algures em Portugal ainda há mulheres que acreditam nisto. Talvez seja bom, para as libertar da opressão, irmos à caça delas e darmos-lhes um bom banho na Praça Pública para lhes demonstrar que não, não enlouqueceriam. Se mandar despir uma muçulmana na praia em França, a liberta e a faz sentir melhor; então dar banho a uma portuguesa no meio da rua também a libertará e ficará melhor.
Hoje um homem português explicou-me esta coisa do que eu devia sentir como mulher -- estou sempre a receber lições dos homens e muitas vezes fantasio em cortar-lhes a pilinha: sem pilinha, estariam mais próximos fisicamente de uma mulher, logo seriam ainda mais qualificados para me dar lições. Então dizia-me ele que não foi para usar o burkini que se lutou para libertar as mulheres, no Ocidente. Ele achava que elas não deviam andar de burkini, mas depois diz-me que também não deviam andar nuas porque o nudismo ofende os outros.
Porque razão é que o nudismo ofende as pessoas? Não é porque há quem ache que o corpo humano nu é obsceno, porco, convida a sexo, e sexo é também uma coisa porca, que se deve esconder porque senão somos uns grandes depravados? Então que diferença há entre os muçulmanos e os outros que não permitem o nudismo? Ah, já percebi, na proibição do nudismo ninguém pode andar nu, logo não é verdadeiramente discriminação porque em vez de só o corpo das mulheres ser porco, o dos homens também é uma javardice. Então, sentem-se melhor, seus porcalhões pecadores?
Haver alguém que acredite nesta ideia de que, na Europa, a discriminação de género não é possível é para mim surpreendente. Basta ver a composição dos governos ou dos parlamentos, por exemplo, para se constatar que a discriminação das mulheres está bem viva na Europa. Enquanto for preciso legislar para as mulheres terem direitos, as mulheres são discriminadas. Um governo que diz ser a favor das mulheres e também diz que está à espera de passar legislação para dar oportunidades e direitos às mulheres, é um governo que discrimina à vista de toda a gente.
Em Portugal, é flagrante a discriminação das mulheres. Não se sintam muito superiores por acharem que os homens muçulmanos discriminam muito mais do que os ocidentais. A discriminação não é uma variável contínua; é uma variável binomial, que admite dois valores: sim ou não.
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