Pois é, o dinheiro não traz felicidade.
Isto foi dito
a propósito da triste história de Lourença G. e do seu balão voador. Quem
resiste a concluir moralidades, digam lá. Que história não nos faz
sentenciosos, que feito não nos transforma em sábios, que evento não nos
oferece verdades eternas. Nem razão haveria para acontecer alguma coisa se não
houvesse lições a retirar, máximas, advertências, adágios. Apotegmas de gravar
em pedra ou de escrever com sangue. Que alguém tropece correndo e logo se diz
não corras que tropeças, e depois quem corre tropeça, e finalmente correr e
tropeçar é o diabo a espreitar. Ou qualquer coisa do género. Que alguém grite e
ninguém ouça e de imediato se espalha não grites se ninguém te ouve, há quem
grite e ninguém ouça, gritar sem haver quem ouça é de partir a louça. Ou
qualquer coisa assim. Que alguém perca o tostão com que pagaria a branquinha e
não tarda muito se ouve perdes tostão e ficas são, tostão bem perdido alma
salva, perde e encontrarás, perder é ganhar quando nos afasta do bar. Ou coisas
semelhantes. Caia-se de um balão voador e depressa se alastra subir e cair é
num fósforo, quem sobe cai, não subas cairás e desgraçado te encontrarás. Foi o
que se passou com Lourença, tanto o cair do balão voador como o propagar-se o
prolóquio. Assistiu uma multidão, facilitando que alastrasse a notícia e que
fosse retirado o preceito. Belo exemplo, murmurou-se, estão a ver, repetiu-se,
é o que acontece quando, afirmou-se. Ai a presunção, a arrogância, o orgulho. O
dinheiro, a mania das grandezas, a altivez. Antes pobre que ridículo, quem tem
muito quer ter mais, não chega querer porque pode mais do que nós o fado, ser
feliz não se compra. Pobre Lourença, mais pelas bocas do mundo que por cair de
um balão, porque a verdade, a certeza, o dogma é que subiu um bocadinho, o que
sempre é melhor que não ter subido nada.
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