As flores carnívoras não são flor que se cheire. Tanto moralmente, pois são manhosas. Como materialmente, ou seja, cheiram mesmo mal.
Um dia destes tive uma conversa com o meu dentista, por falar em moral e material. Entrei no consultório, apertei-lhe a mão dizendo bom-dia, recebi em troca um bom dia acompanhado de um faça o favor de se sentar. Nada que destoe do habitual, pelo menos é esta a minha experiência. No que respeita a médicos em geral. O que muda quando vamos ao médico são as cadeiras, mas que haja um convite para que nos sentemos é uma coisa universal. Desde que haja cadeiras. Coisa que é costume acontecer. Nos consultórios dos dentistas as cadeiras que há são bastante mais sofisticadas do que as cadeiras que há noutros consultórios, admita-se. São mais parecidas com as cadeiras antigas dos barbeiros, daquelas que subiam e desciam com um pedal. Este pedal não é o pedal das bicicletas, entenda-se. Parece antes um pedal como os das máquinas de costura. Ou o dos macacos de levantar carros para mudar pneus furados. Este é um macaco figurado, claro. Seria difícil convencer um macaco literal a erguer um carro, muito mais à pedalada. E seria mais difícil ainda escolher o macaco mais adequado à tarefa. Somos demasiado liberais no uso que damos à palavra macaco. É o que eu acho. É o que também me diz a minha experiência, tal como no caso do que acontece quando entramos no consultório de um dentista. Sentei-me na cadeira correspondendo ao convite que me foi feito. Pareceu-me ser do meu interesse fazê-lo, isto é, não o fiz apenas por delicadeza. Há vezes em que podemos fazer as coisas apenas por delicadeza, mas noutras ocasiões as delicadezas podem fazer-nos perder a vida. Bem sei que não há muitos relatos de mortes nas cadeiras dos dentistas, mas o risco está lá. Nas brocas e agulhas e não sei como se chamam as restantes ferramentas de torcionário que o dentista tem sempre à mão e sem relutância em usá-las. Também não é de molde - de molde, reparem, não pode ter sido por acaso - a tranquilizar-nos que a cadeira esteja reclinada e a cara do dentista mesmo em frente da nossa. E em cima. Muitas vezes não sabemos para onde olhar, se para o tecto, se para os olhos do dentista. Deve haver quem se tenha apaixonado por dentistas, ao olhá-los nos olhos tanto tempo e com tal proximidade. Mas o olhar do dentista não se troca com o nosso, na verdade, são os nossos dentes que o dentista prescruta com tanta intensidade, não é a nossa alma, e são cáries aquilo que o dentista procura e não se a dita alma é gémea. Aqui está o moral e o material de que falei acima a propósito de flores carnívoras e dentistas. Só falta relatar a conversa que tive com o meu. Ele perguntou-me o que é que eu achava da subida abrupta do IMI. E eu, de boca aberta, respondi-lhe, ããããããã.
Um dia destes tive uma conversa com o meu dentista, por falar em moral e material. Entrei no consultório, apertei-lhe a mão dizendo bom-dia, recebi em troca um bom dia acompanhado de um faça o favor de se sentar. Nada que destoe do habitual, pelo menos é esta a minha experiência. No que respeita a médicos em geral. O que muda quando vamos ao médico são as cadeiras, mas que haja um convite para que nos sentemos é uma coisa universal. Desde que haja cadeiras. Coisa que é costume acontecer. Nos consultórios dos dentistas as cadeiras que há são bastante mais sofisticadas do que as cadeiras que há noutros consultórios, admita-se. São mais parecidas com as cadeiras antigas dos barbeiros, daquelas que subiam e desciam com um pedal. Este pedal não é o pedal das bicicletas, entenda-se. Parece antes um pedal como os das máquinas de costura. Ou o dos macacos de levantar carros para mudar pneus furados. Este é um macaco figurado, claro. Seria difícil convencer um macaco literal a erguer um carro, muito mais à pedalada. E seria mais difícil ainda escolher o macaco mais adequado à tarefa. Somos demasiado liberais no uso que damos à palavra macaco. É o que eu acho. É o que também me diz a minha experiência, tal como no caso do que acontece quando entramos no consultório de um dentista. Sentei-me na cadeira correspondendo ao convite que me foi feito. Pareceu-me ser do meu interesse fazê-lo, isto é, não o fiz apenas por delicadeza. Há vezes em que podemos fazer as coisas apenas por delicadeza, mas noutras ocasiões as delicadezas podem fazer-nos perder a vida. Bem sei que não há muitos relatos de mortes nas cadeiras dos dentistas, mas o risco está lá. Nas brocas e agulhas e não sei como se chamam as restantes ferramentas de torcionário que o dentista tem sempre à mão e sem relutância em usá-las. Também não é de molde - de molde, reparem, não pode ter sido por acaso - a tranquilizar-nos que a cadeira esteja reclinada e a cara do dentista mesmo em frente da nossa. E em cima. Muitas vezes não sabemos para onde olhar, se para o tecto, se para os olhos do dentista. Deve haver quem se tenha apaixonado por dentistas, ao olhá-los nos olhos tanto tempo e com tal proximidade. Mas o olhar do dentista não se troca com o nosso, na verdade, são os nossos dentes que o dentista prescruta com tanta intensidade, não é a nossa alma, e são cáries aquilo que o dentista procura e não se a dita alma é gémea. Aqui está o moral e o material de que falei acima a propósito de flores carnívoras e dentistas. Só falta relatar a conversa que tive com o meu. Ele perguntou-me o que é que eu achava da subida abrupta do IMI. E eu, de boca aberta, respondi-lhe, ããããããã.
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