quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Friendsgiving

Amanhã celebra-se o Thanksgiving, o dia de Acção de Graças, nos EUA; notem que o Canadá também tem um Thanksgiving, que foi introduzido no país pelos refugiados da Guerra Civil Americana e que, desde 1957, se celebra na segunda Segunda-feira de Outubro. O Thanksgiving americano também é um feriado móvel e celebra-se na quarta Quinta-feira de Novembro; é o feriado mais importante nos EUA e, nos últimos anos, com a Internet e os americanos a postar fotos e a escrever sobre este feriado, tem-se notado que muitas pessoas noutros países também já falam em Thanksgiving. No entanto, para além dos EUA e do Canadá, há outros países que têm celebrações parecidas com o Thanksgiving e que antecedem a Internet.

Tradicionalmente, as famílias nos EUA juntam-se e cozinham um peru recheado (stuffed turkey), que é acompanhado pelo molho (gravy; feito com as entranhas do perú e o molho de assar o peru, mas podem fazer de pacote), o recheio (stuffing, muitas vezes, o recheio é cozinhado à parte, de pacote, e costuma ser servido com o molho por cima), compota de arandos (cranberry sauce, que em muitas famílias se resume a arandos enlatados), batata doce (sweet potatoes, yams), puré de batata (mashed potatoes), e pãezinhos (dinner rolls). Para sobremesa há tarte de abóbora (pumpkin pie) e tarte de noz pecan (pecan pie); as tartes são servidas com Cool Whip, que é uma imitação de chantilly. Isto é mesmo o mais popular, mas depois há variações, até porque muitas famílias introduziram comidas da sua etnia. E notem que isto é um jantar, mas come-se por volta das duas da tarde...

Nos últimos anos, especialmente desde há três anos, nota-se que, para além ou em vez do Thanksgiving, muitas pessoas também celebram o Friendsgiving, que é um jantar passado com os amigos. A CNN escreveu um artigo há dois anos em que relacionava esta tradição com a geração dos Millenials. Neste jantar, quem oferece a casa costuma cozinhar o perú e os convidados trazem os outros pratos -- é estilo potluck. Há quem celebre o Friendsgiving na Quarta-feira antes ou na Sexta-feira depois do Thanksgiving, se também têm de festejar com a família o Thanksgiving.

Gostaria de dar aos meus amigos leitores uma receita de compota de arandos que já faço há uns 15 anos. Encontrei-a numa revista, não me recordo de qual, que folheava em casa da minha sogra e cativou-me a atenção porque leva vinho do Porto. Fiz e gostámos tanto que assim nasceu uma tradição. Já dei esta receita a várias pessoas e, às vezes, como prenda de Natal, ofereço um frasco desta compota.

Uma história engraçada: fui passar o Thanksgiving ao Colorado há uns anos e a amiga que visitei disse que a tradição da família dela era os arandos enlatados, mas eu insisti em fazer a minha compota também. Toda a gente gostou e, como a minha amiga estava a tomar conta da casa de uma colega e eu tinha feito tanta compota, deixámos alguma para a dona da casa, que também adorou. No Thanksgiving seguinte, a minha amiga pediu-me a receita. Ah! Mais uma consumidora de vinho do Porto...

Então aqui vai:

= Ingredientes =
1 colher de sopa de manteiga (eu uso metade disto)
1 colher de sopa de gengibre fresco ralado
1 saco (340 gr) de arandos frescos ou congelados
1 colher de chá de raspa de laranja
1 colher de sopa de sumo de laranja
1 colher de chá de raspa de limão
1 colher de sopa de sumo de limão
1,5 a 1,75 chávenas de açucar
0,5 chávenas (125 ml) de água
0,25 chávenas (62,5 ml) de vinho do Porto (eu uso o Ruby)
0,25 colheres de chá de canela

= Preparação =
Num tacho, em lume médio, derreter a manteiga, adicionar o gengibre a deixar cozinhar 1 a 2 minutos. Adicionar os restantes ingredientes e, depois de levantar fervura, deixar cozinhar por 10 minutos ou até os arandos começarem a estalar. Meter em recipientes de vidro com tampa ou em boiões. Conserva-se no frigorífico por uma semana. Esta compota também é boa em torradas.

Notas:
  1. Se apenas usarem 1,5 chávenas de açucar, a compota ficará mais para o amargo -- notem que os arandos são uma fruta bastante amarga.
  2. Se querem conservar a compota durante mais tempo, usem mais açúcar e fervam até atingir o ponto estrada num prato frio. Depois guardem em boiões esterilizados e sigam as instruções de como selar as compotas.
  3. Os americanos, como são muito cromos, têm muitas publicações dos serviços de extensão das universidades públicas de como fazer compotas e geleias de forma segura -- vejam por exemplo a Universidade da Geórgia. Nesta Universidade, fica o National Center for Home Food Preservation. Para além disso, o United States Department of Agriculture (USDA) também tem uma publicação oficial com instruções. Como eu trabalhei na Divisão de Agricultura da Universidade do Arkansas, tenho o folheto deles.
  4. A minha revista preferida, a Donna Hay Magazine, que é australiana, tem umas instruções mais rápidas. Na revista de papel, já a vi aconselhar a enfrascar a compota assim que feita e, depois de enroscar as tampas nos frascos, virá-los para baixo para o calor da compota criar o selo do frasco na tampa. Já usei este método e funciona bem.
P.S. Já fiz a minha compota de arandos de 2017:


3 comentários:

  1. Boa receita. Por aqui come-se javali :)

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  2. Passei nos Estados Unidos quatro Thanksgiving, três deles em anos sucessivos, e no primeiro em casa de uma família americana. É uma festa muito interessante, agregadora, na qual um estrangeiro se sente bem. De algum modo, “apropriámo-nos” (minha Mulher e eu) do significado do dia, e continuamos, em Portugal, a lembrá-lo, sacrificando um peru e apreciando uma pecan pie. Aliás, lembramos também o 4 de Julho… Porquê? Acho que a razão foi termos gostado de viver nos Estados Unidos e termos sido capazes de distinguir o que lá (aí…, para a Rita!) existe de muito mau e de muito bom e de a este muito bom darmos valor.
    Feliz Thanksgiving!

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