Depois de Rui Rio ter ganhado a liderança do PSD, o Primeiro Ministro António Costa afirmou que a oposição de Rui Rio não seria "seguramente difícil" de ser melhor do que a de Pedro Passos Coelho e desejou que fosse uma "oposição construtiva".
"Oposição construtiva" dito por António Costa parece-me um oxímoro, pois, do ponto de vista dele, algo construtivo não pode ser oposto ao que ele quer e algo oposto não pode ser construtivo. Senão, vejamos: se a oposição de Rui Rio é vista como construtiva por António Costa, significa que o Governo está a fazer alguma coisa que precisa de ter oposição e se esta oposição é construtiva, então a coisa que está a ser feita não deve ser muito boa. Nesse caso, se a coisa não é boa por que é que António Costa a defende?
Mas se ele acredita em "oposição construtiva", certamente que a praticou quando Pedro Passos Coelho era Primeiro-Ministro, logo seria importante que algum jornal ou TV nos fizesse uma revisão do que é "oposição construtiva" segundo António Costa enquanto líder da oposição. Recordo-me que, quando António Costa subiu ao poder, ninguém percebeu o que iria ser um governo dele.
Faz, no entanto, sentido falar-se em "oposição construtiva" do ponto de vista dos cidadãos. Pessoalmente, prefiro situações em que todos os partidos são fortes e têm pessoas competentes que consigam articular os diferentes pontos de vista do eleitorado. É lógico que é impossível agradar a toda a gente, mas haver forças opostas significa que o país seguiria um caminho mais regrado, em que os excessos são improváveis.
Espero que Rui Rio consiga aumentar a qualidade do debate político em Portugal. A primeira tarefa é controlar a mensagem do PSD, um partido que passa demasiado tempo a lavar roupa suja em público e descura o estudo e a proposta de políticas alternativas. Não é suficiente estar na oposição para se fazer oposição. É preciso conhecer o país e o mundo em que nos inserimos, identificar riscos e oportunidades, e ter planos de curto e de longo prazo. A curto prazo, é preciso compreender os pontos fracos da política proposta pelo governo e oferecer alternativas, mas deixem-se do pseudo-liberalismo esquizofrénico e do moralismo anacrónico a que nos habituaram.
Uma forma fácil de ser alternativa ao PS é melhorar a qualidade dos deputados do PSD: diversidade etária, de género, de percurso profissional, etc. Invistam em pessoas com valor que sejam bons líderes hoje, mas que também possam liderar no futuro, em vez de andarem a fabricar pessoas como Miguel Relvas. E liberalizem os votos da bancada do PSD no Parlamento: deixem que os deputados votem com a sua consciência -- note-se que é necessário que tenham consciência -- e incentivem o contacto dos deputados com o eleitorado. Com a Internet não é assim tão difícil e caro de fazer. O PSD precisa de demonstrar que está no Parlamento para servir o povo que representa e não para tratar da vidinha dos do costume.
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