domingo, 25 de novembro de 2018

Excitação à vista

O James Bullard, Presidente da Reserva Federal de St. Louis, tem andado a dar umas palestras em que defende uma actualização da regra de Taylor, aquela regra que é usada para receitar o nível adequado de política monetária. A regra original foi formulada com dados referentes a uma altura em que a Reserva Federal não tinha uma política monetária com uma inflação-alvo; mas, desde o final do século passado, o alvo de inflação tem sido explicitamente 2%.


Sempre que a Reserva Federal acha que há risco de inflação, as taxas de juro são ajustadas, mas ultimamente com a Grande Recessão a pressão inflacionária desacelerou, apesar da política monetária extremamente expansionista. Isto tem algumas implicações interessantes para a teoria económica, pois a relação de curto prazo entre a inflação e o desemprego, a chamada curva de Phillips, deixou de se observar. Há quem diga que já não existe, mas Bullard diz que a Reserva Federal a matou. Pensem nisto como nas vacinas: não é que os virus tenham desaparecido, as pessoas vacinadas é que ficaram mais resilientes.

De acordo com a regra de Taylor versão James Bullard, a política monetária actual é demasiado contraccionista, o que aumenta o risco de causar uma recessão. Por falar em recessão, estamos numa altura em que não se sabe muito bem o que irá acontecer à economia americana. O desemprego está abaixo da taxa de desemprego natural, a guerra comercial iniciada por Donald Trump não está a ajudar, as empresas endividaram-se para comprar as próprias acções aumentando artificialmente o seu preço para agradar aos accionistas, mas como não houve um aumento correspondente dos dividendos -- dívida que é usada para financiar compras de acções não é usada para financiar investimento. O S&P 500 está com um índice CAPE demasiado alto (o Cyclically Adjusted Price Earnings Ratio é um rácio desenvolvido pelo Robert Shiller da Universidade de Yale e que, basicamente, divide o preço composto do índice do S&P500 pela média do dividendo composto dos últimos 10 anos).

Depois de Outubro ter sido um péssimo mês para o mercado accionista americano, Novembro continua a tendência com dias maus seguidos por dias de recuperação seguidos por dias maus... Um dos problemas é que os grandes fundos de investimento discricionários não têm andado a comprar o mercado quando o preço baixa e não há investidores individuais em número suficiente para sustentar a subida do mercado. Como muitas das poupanças dos americanos são investidas na bolsa, há sempre um mercado base, mas isso apenas desacelera a descida e não elimina por completo o seu risco, até porque, durante o crash de 2008, muitas pessoas liquidaram as poupaças do 401K metendo-as em dinheiro líquido. Os americanos só recebem a correspondência com o desempenho do seu 401k neste trimestre em Janeiro, logo 2019 tem potencial para ter um início excitante.



Fonte: Bloomberg, 20/11/2018

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