quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Abstencionista e ausente

Desde há umas semanas, nos grupos de Facebook frequentados por emigrantes portugueses, notou-se um enorme interesse em participar nas últimas eleições. As pessoas perguntavam umas às outras como podiam votar, se já tinham recebido o boletim de voto, se tinham tido problemas em enviar por correio, se o boletim tinha sido devolvido, etc.

Parece que o governo português decidiu enviar boletins de voto com um envelope de retorno, em que a morada do remetente e do destinatário no envelope estavam pré-preenchidos na face do envelope e alguns correios não percebendo de como encaminhar a carta, devolveram para o remetente. Foi o que se pagou com alguns votos enviados do Reino Unido. Aliás os correios de sua majestade estavam a investigar o que se passava com os votos portugueses. Depois também houve problemas porque o envelope de retorno era pré-pago e alguns correios não o reconheceram. A modos que há uma petição "Também somos portugueses" que visa que o Parlamento passe uma lei que facilite o voto aos emigrantes.

Mas será que vale a pena? Os emigrantes tinham até 6 de Outubro para enviar os votos pelo correio, o que é difícil de comprovar porque um envelope pré-pago não leva carimbo, e os votos teriam de chegar a Lisboa até 16 de Outubro. Hoje são 9 de Outubro e o Presidente da República já indicou ontem que quer indigitar o Primeiro Ministro porque os votos já estão contados. Ainda por cima, Marcelo Rebelo de Sousa apelou ao voto antes da eleição e agora, pela sua atitude, apela a que não se contem os votos restantes. Depois quem não vota, os chamados abstencionistas, são maus.

Eu não votei. Quando contactei o consulado para pedir um boletim de voto lamentaram, mas já tinham enviado o boletim e já era tarde para actualizar a morada -- temos de o fazer 60 dias antes das eleições. Eu não sabia do prazo, logo não actualizei a tempo. O engraçado é que na Primavera passada os senhores da Autoridade Tributária enviaram-me um email a mandar-me limpar o pinhal porque era obrigatário os donos limparem os pinhais. Só que eu não sou dona de nenhum pinhal; mas sou recenseada, logo sou eleitora, logo porque é que o mesmo governo que me manda limpar um pinhal que eu não tenho, não me pode mandar actualizar a morada a tempo e horas?

Não se preocupem comigo, que sei cuidar muito bem de mim, pois para além de abstencionista, decidi ser ausente. Já não vou a Portugal desde Junho do ano passado, apesar de ter 30 dias úteis de férias por ano e também tenho direito a dois feriados flutuantes, quer dizer, que posso tirar quando me apetece, então 32 dias úteis livres por ano (são mais de seis semanas) na América, onde o capitalismo reina em força.

Desde a ultima vez que fui a Portugal, já fui a Nova Iorque três fins-de-semana longos, Washington, D.C., por duas semanas, Houston dois fins-de-semana longos, Nashville fim-de-semana longo, e agora vou passar um fim de semana longo a Bentonville, AR, para visitar o Crystal Bridges Museum, e depois vou passar um fim-de-semana longo em Miami, em Dezembro, e o meu hotel vai ser mesmo na praia--cheguei a dizer-vos que em Nova Iorque fiquei no Hotel Roosevelt uma vez e noutra fiquei no Park Lane, que é mesmo em Central Park, é só atravessar a rua?

Ou seja, desde que estive em Portugal, já gastei bem mais de 10 mil euros em viagens e Portugal não recebeu nada.

2 comentários:

  1. Cá em casa, recebemos e reenviamos os boletins de voto, 2 semanas antes do Domingo de eleições. Sem problema nenhum. Só não vota quem não quer. Nalguma falta, experimente dizer ao IRS que desconhece as regras fiscais, por exemplo.

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    Respostas
    1. Nuno Gaspar, nem parece seu. Não leu o meu post e ainda por cima acha que ignorância da lei é defesa admissível. Tem a certeza que reside nos EUA?

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