Falei com amigos em Houston e a maior parte está sem água e electricidade. A rede energética do Texas tem sido um dos tópicos mais quentes na comunicação social, pois é uma rede independente das outras duas redes dos EUA, pois o Texas para fugir à supervisão e regulação federal não vende, nem compra electricidade de outros estados. O Governador diz que a culpa do que se está a passar é das energias alternativas, com a falta de sol, mais algumas turbinas eólicas terem ficado congeladas, mas o Texas também usa muito gás natural e as baixas temperaturas também congelaram as condutas de gás.
Esta independência energética permitiu ao Texas investir em energias alternativas mais depressa do que outros estados, mas o enfoque em preços acessíveis sacrificou a construção de redundância no sistema e não se investiu tanto em armazenagem de energia, nem criação de rotas alternativas. Por outro lado, não é normal gastar-se recursos em isolamento contra baixas temperaturas, dado que são tão raras. Também não é líquido que, caso tivessem feito esse investimento as coisas teriam corrido sem quebras, mas é expectável que houvesse menos falhas ou afectasse uma menor porção da população.
É um bocado desconcertante para mim, que estou aqui no conforto da minha casa, sem ter perdido electricidade, nem água, conversar com as minhas amigas, algumas nonagenárias, e sentir a sua frustração e dificuldades. A mais velha, que tem 96 anos e com quem falei ao telefone, quase que não conseguia pensar e perdia o fio à conversa, pois estava sem electricidade e a casa estava fria há mais de 24 horas. Por sorte, tem fogão a gás e conseguia aquecer água e comida. O vizinho tem um gerador de electricidade e convidou-a e à filha para se abrigarem lá em casa, mas ela acha que está demasiado velha para ir para casa dele; para além disso, tem medo da pandemia.
O WashPost diz que, desde Domingo, morreram 16 pessoas com o frio, mas decerto que agora já são mais. Algumas das fatalidades deveram-se a monóxido de carbono, depois de as pessoas se abrigarem dentro dos carros ligados para se aquecer. Mesmo assim, não é muito para um país do tamanho dos EUA. Se uma coisa destas acontecesse em Portugal, decerto que morreria mais do que uma pessoa e uma pessoa num país do tamanho de Portugal representa quase 32 pessoas nos EUA.
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