Não fiz nada de produtivo durante a viagem; às vezes, falo ao telefone ou ouço livros em audio; desta vez, apenas ouvi música e apreciei a paisagem. As árvores estão nuas e, apesar da claridade do dia, parece que o manto de escuridão da noite as cobre. O azul do céu salpicado de núvens recorda-me sempre de "O Império da Luz," um dos meus quadros preferidos.
Durante as minhas paragens em bombas de gasolina, vi muito poucas pessoas de máscara, o que me pareceu um presságio do que estava para vir. A ideia original de passar o Natal com uma das minhas amigas portuguesas foi da mãe dela, que a sugeriu em Outubro. Para mim tinha um significado especial porque a última vez que estive com portugueses pelo Natal foi em 1998, quando visitei os meus pais.
Ah, a discriminação. Falo tanto dos meus amigos e das minhas coisas portuguesas aos meus amigos americanos, que na semana passada calhou a minha vizinha usar-me como exemplo de discriminação, logo não é de estranhar que os brancos procurem outros brancos, se a Rita de Portugal procura outros portugueses, apesar de estar longe de Portugal.
O nosso vizinho, que estava de visita, deu uma perspectiva romântica do que eu procuro, dado que o meu Portugal é uma coisa agradável, a comida é muito boa, os meus amigos portugueses são pessoas que eu adoro e que me adoram, ou seja, o meu estilo de vida é desejável. Quem cresce nos ghettos não deseja lá regressar, dizia ele, em vez do familiar, essas pessoas procuram o que lhes é estranho.
A minha procura do conforto nacionalista não correu como previsto porque um dos nossos amigos portugueses que ia passar o Natal connosco testou positivo e depois dele--mais um das minhas relações próximas que ficou infectado,-- que é uma pessoa extremamente cuidadosa e que não faz ideia de como tenha apanhado, pareceu-me que estava tudo perdido. Vamos apanhar todos, sei lá se já tenho ou tive.
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