A semana passada foi dominada pela histeria que acompanhou o aumento das taxas de juro por parte da Reserva Federal nos EUA: o maior aumento desde 1994. Dizer que era previsível é completamente desnecessário, mas como já há décadas que não havia inflação a sério, a maior parte das pessoas já se esqueceu do que era inflação. Esta inflação é o preço que pagamos pela recuperação da pandemia ter sido tão célere, mas é melhor do que ter a economia mundial numa nova Grande Recessão ou Depressão, até porque ambos os termos já não estão disponíveis.
No que diz respeito a experiências de economia estamos a meio de uma bem interessante, dado que, ao contrário do que aconteceu durante a Grande Recessão, a política fiscal reagiu muito rápido à pandemia, o que, combinado com uma política monetária generosa, permitiu que os consumidores saíssem da pandemia bastante animados e investidos em gastar, continuando a pressionar a cadeia de distribuição. Depois a invasão da Ucrânia pela Rússia apenas intensificou o que já de si era bastante intenso.
Há, no entanto, razões para sermos optimistas, pois a pandemia permitiu bastantes inovações na recolha de dados e no diagnóstico, quase em tempo real, do que se passa na economia americana. Combater a inflação para os americanos também não é difícil, dado que já o fizeram uma vez, logo basta aumentar as taxas de juro para níveis ainda baixíssimos e entra tudo em parafuso, ou seja, a Reserva Federal tem bastante credibilidade, logo facilita a tarefa.
Talvez até facilite um bocado demais porque o Presidente Biden ainda acha que tem de passar um estímulo, o tal do Build Back Better, o que é uma completa tolice e reflecte mais teimosia política do que necessidade fiscal. É melhor guardar o programa para depois da inflação estar mais controlada e a economia entrar na próxima recessão porque há sempre uma a seguir.
Neste momento, o que é mais premente é a necessidade de reorganizar o mercado energético. A Ásia, especialmente a Índia, começaram a comprar bastante petróleo russo; a África do Sul está a considerar fazer o mesmo. O Biden já fala em se comprar energia à Rússia se o preço for abaixo de um certo nível, mas essa ideia demonstra cima de tudo um desespero político porque está com os níveis de aprovação muito baixos e é esperado que os Democratas percam a(s) maioria(s) no Congresso em Novembro.
Um desenvolvimento bastante mais interessante é a visita de Biden à Arábia Saudita, no próximo mês, em que um dos motivos é tentar que aumentem a produção de petróleo. Temos de engolir o enorme sapo da morte de Khashoggi, mas só assim dá para tentar normalizar a circulação de energia a curto prazo e antes do Outono/Inverno. Biden não está mal de todo em termos de trunfos porque se a Arábia Saudita não coopera, apenas dá um incentivo aos EUA e agora à Europa para continuarem a investir em energias/tecnologias alternativas o que irá encurtar a dependência de petróleo.
É um bocado como a luta contra a inflação: os americanos já conseguiram enfraquecer o poder da Arábia Saudita no mercado de energia uma vez.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Não são permitidos comentários anónimos.