Como alguém escreveu, Bernardino Soares teve de chegar a
Presidente da Câmara de Loures para perceber o significado de “não há dinheiro”.
Enquanto admirador da democracia norte-coreana e líder da bancada
parlamentar dos comunistas, o bom do Bernardino parecia acreditar que a “austeridade”
era apenas uma grande mentira, uma manipulação orquestrada pelos “especuladores”, um
pretexto para os malévolos dos “neoliberais” cortarem nos direitos dos
portugueses. Bernardino parece ter caído na real e, contra tudo o que manda a
sua cartilha, terá de (segurem-se) cortar na despesa.
Muitos acreditaram que as eleições de Setembro na Alemanha marcariam
um ponto de viragem da política europeia (leia-se: os alemães abririam
finalmente os cordões da bolsa aos países do sul). Ao fim de mais de dois meses
de negociações, parece que a CDU lá se conseguiu entender com o SPD. Não há
nada no acordo anunciado que dê sinais de qualquer inflexão no caminho até
agora seguido. Para quem não andasse dormir ou não acreditasse em histórias da
carochinha, este desfecho era mais do que expectável. A necessidade de “poupanças”
(é assim que os alemães designam a “austeridade”) é consensual na sociedade
alemã e só um partido com instintos suicidas iria contra esse sentimento.
Esqueçam portanto os eurobonds e quejandos.
Ao contrário do que nos dizem os Bernardinos deste mundo (antes de assumirem
funções executivas, claro), a “austeridade” não é uma opção ideológica, é uma
fatalidade. A alternativa não é sobre se se deve ou não cortar na
despesa do estado, a alternativa é sobre onde e como se deve cortar. Era bom
que começassem, finalmente, a surgir "verdadeiras alternativas".