segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Um conselho para um 2014 bastante melhor do que 2013

Malta, se há algo em que devem seguir o meu conselho é nisto que vos digo a seguir.
  • 1 taça de nozes,
  • 2 colheres de sopa de mel (2,5 colheres se forem muito gulosos) e
  • 1 colher de sopa, bem cheia, de whisky.
Misturar bem e comer imediatamente. Fabuloso. Para quem não sabe, esta sobremesa chama-se nozes com mel e whisky.

O peculiar ano de 2013

O Público pediu-me para fazer um balanço do ano em 5000 caracteres, para ser inserido no seu dossier 1973-1993-2013. Sem quaisquer falsas modéstias, reconheço que o meu texto não está à altura das reportagens que o Público tem vindo a publicar sobre o tema. De qualquer forma, bom ou mau, o meu balanço pode ser lido aqui

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Processos civilizacionais

Segundo Norbert Elias, a Europa moderna começou com A Sociedade de Corte. O que Elias não previu era que a Europa se tornasse uma "sociedade de cortes".

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Estética protestante e o espírito do capitalismo

Hoje, como símbolo da época, o Pai Natal é mais representativo do que o Menino Jesus. Assim se resume o mundo contemporâneo: o abandono ao esquecimento de um pequeno carpinteiro judeu e a preferência globalizada por um experiente empreendedor escandinavo.
A todos os crentes, desejo um Santo Natal.
A não crentes e crentes de outras religiões, desejo umas boas festas com os vossos.
Aos que, de todo, não ligam nada a esta estação, desejo que desfruteis da paz e harmonia características desta estação.
Aos que deploram a paz e a harmonia, desejo que aguentem com estoicismo: o novo ano está já ao virar da esquina.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Comentário político marialva

- Quando formos velhos não vai haver pensões.
- Pois não, agora é tudo residenciais, hosteles e guest houses.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Avaliação de professores

Pelo Facebook, vi vários professores universitários a argumentar que nunca se recusaram a ser avaliados e que, portanto, não compreendiam as queixas dos professores do secundário relativamente à prova de avaliação de hoje. 

É verdade que somos muito avaliados. Mas devo dizer que só se estivesse muito desesperado é que me sujeitava a uma prova tão humilhante como aquela a que os meus colegas foram sujeitos hoje. Estou solidário com todos os que boicotaram a prova de hoje, bem como com aqueles que, por desespero, se viram na contingência de ter de a fazer.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

O trabalho que custa

Na sequência da 10ª avaliação da troika, a ministra das Finanças  afirmou que “Nesta avaliação tivemos oportunidade de apresentar os dados que mostram que o ajustamento já foi feito”. Não sei a que dados Maria José Albuquerque se refere, mas poderiam bem ser estes. 


Segundo o INE, o ajustamento é essencialmente devido à diminuição do custo do trabalho na administração pública (-20%, face a 2008). Curiosamente, a descida dos custos do trabalho na indústria transformadora, principal sector do grupo dos transaccionáveis, só se verifica de forma significativa após o primeiro trimestre de 2012, estando actualmente próximo dos valores de 2008.
Uma possível explicação para o comportamento inesperado deste indicador para a indústria transformadora deverá estar relacionada com o papel dos fluxos de entrada e saída de trabalhadores a custos diferenciados: as saídas que se verificaram até 2011 deram-se essencialmente por via do encerramento das empresas  menos eficientes e pelo despedimento dos trabalhadores com remunerações mais baixas (jovens com contratos temporários). Este facto terá feito subir o custo médio do trabalho, pois os trabalhadores que permaneceram seriam os melhor remunerados.
Da mesma forma, a descida do custo do trabalho após 2011 dever-se-á, em grande medida, aos menores custos de contratação, os quais farão descer os custos médios do trabalho. A ser assim, não será de admirar que este indicador continue a descer, se a tendência de diminuição do desemprego se mantiver.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Mas não estamos todos no mesmo barco?

Sempre que há uma boa notícia sobre a economia portuguesa, a oposição fica sem palavras que disfarcem o incómodo.
Sempre que há uma boa notícia sobre o sistema educativo português, o governo fica sem palavras que disfarcem o incómodo.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Se Roma caiu...

Espalhou-se por todo o Império uma notícia inaudita: a 28 de Agosto de 410, Roma, que se tinha a si mesma como «eterna» - a «Roma aeterna», como os próprios cristãos diziam – tinha sido tomada e saqueada por Alarico, o rei visigodo que lutava por um território próprio. Os refugiados relatavam os horrores que haviam sofrido: incêndios sem fim, mulheres desonradas, senadores assassinados, perseguição dos ricos e extermínio de famílias inteiras, as mansões saqueadas, bens de toda a espécie roubados pelos bárbaros, o centro do governo e de administração do mundo ocidental destruído… A insegurança e o pessimismo alastravam: se Roma, a vetusta capital, tinha caído, já nada era seguro.

A voz dissonante de um general

É curioso reler o que se escreveu na imprensa nacional aquando da entrada em circulação do euro, em 1 de Janeiro de 2002. Regra geral, o tom foi de celebração e euforia com “este simples e prodigioso testemunho (…) legado por uma geração ímpar de homens convictos e corajosos” (Público, 02-01-02), “O triunfo da visão estratégica e da vontade política” (Público, 06-01-02), o “símbolo de um acesso ao desenvolvimento duramente conquistado” (DN, 06-01-02), “uma ideia que funciona” (Público, 05-01-02).
Verdade que havia a noção de que nem tudo eram rosas. O Diário de Notícias falava da “frivolidade guterrista” (05-01-02), que teria a obrigação de “saber tirar partido dessa mais-valia” e se não soubesse estaria a “falsear os cidadãos”. O Público admite que “ o euro não é um passo de mágica que desfizesse nomeadamente as desigualdades sociais” (06-01-02). Aqui e acolá, vislumbram-se mesmo algumas sombras. O euro poderia ser uma “droga” para “um doente em estado terminal de bulimia financeira” (Público, 07-01-02), os portugueses poderiam ver “ a sua vida continuar a andar para trás” (DN, 02-01-02). Curiosamente, as falhas, a existirem, seriam sempre da responsabilidade de instâncias governativas internas, que poderiam não ter arte nem engenho para saber aproveitar esta oportunidade histórica. E, claro, sobre o defunto escudo, nem uma palavrinha de tristeza ou saudade.
No meio desta “euroforia”, o militar Carlos Azeredo foi uma das poucas vozes dissonantes. Segundo o general, em causa estava “ a extinção da nossa moeda nacional abrir o caminho para a dissolução da nossa pequena mas antiga realidade como nação independente na vastidão de uma unidade (?) europeia, na qual os mais poderosos vão fatal e inexoravelmente impor os seus interesses.” (Diário de Notícias,11-02-02). O euro colocaria fatalmente a Alemanha como o (perigoso) centro do poder, “aquilo que Hitler não conseguiu com a mauser, vai finalmente ser consumado pelo marco ‘travestido’ em euro.”
De acordo com o general, não se tratava apenas de um problema de perda de soberania e de “esmagamento” do país face aos países maiores. Havia também um problema de ilegitimidade da decisão, um processo de “assassínio” por parte de um “conjunto de políticos e economistas que tomaram esta decisão sem qualquer arrepio e bem nas costas do povo português”.
Na altura, a opinião do general passou despercebida no meio do ruído dos festejos e celebrações; quando muito, era apenas mais um “velho do Restelo”. Hoje, parece-me interessante verificar que o general estava mais perto da verdade do que a carrada de políticos, economistas, gestores, comentadores e jornalistas que embarcou nesta aventura sem uma hesitação, sem um “arrepio”.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Super-hiper-mega-über-liberais


É evidente que João Miguel Tavares tem bastante razão no que diz (apesar de confundir o significado norte-americano de liberal — esquerdista — com o significado europeu de liberal).

Mas escrevo para deixar uma nota pessoal. Uma vez fui surpreendido com uma desse género. Não me chamaram super-hiper-mega-über-liberal, mas chamaram-me ordoliberal. Nem sabia o que isso era, mas recorro à definição que encontrei na wikipédia

Pondo de parte os detalhes históricos, que obviamente não se me aplicam, e várias alegações sobre as suas implicações, com que não concordo, a verdade é que o âmago da definição se me aplica que nem uma luva. Passo a citar:
O ordoliberalismo enfatiza a necessidade de um Estado que garanta que os mercados livres produzam resultados próximos do seu óptimo teórico. (Tradução minha)
O óptimo teórico que os mercados livres devem, supostamente, atingir está condensado nos dois teoremas fundamentais de Bem-Estar. O primeiro teorema diz-nos que um equilíbrio competitivo gera sempre um óptimo de Pareto. E o segundo teorema diz-nos que qualquer óptimo de Pareto pode ser alcançado via mercado competitivos, desde que haja uma estrutura fiscal de redistribuição de rendimento adequada. Para mim, o ser-se de esquerda  ou de direita está condensado no óptimo de Pareto que se pretende. Tanto pode ser um mais igualitário (e a igualdade total é, também, um óptimo de Pareto) como um em que não há qualquer acção redistributiva do Estado.

Bem, a seguir teria de explicar o que é um óptimo de Pareto, mas penso que por agora chega, senão nunca mais acabo.

O acordo de coligação entre a CDU e o SPD

Eu sou daqueles que nunca esperaram qualquer inflexão oficial na política externa alemã. Assim, o acordo entre CDU e o SPD não me surpreende. Aliás, penso que mesmo que houvesse esse objectivo, ele nunca seria anunciado publicamente. A ser alguma vez anunciado, sê-lo-á no quadro de uma dura negociação com os países sob auxílio externo (e aqui incluo também a Espanha e a Itália). Não é que discorde do Zé Carlos, mas simplesmente não atribuo grande importância ao que não foi anunciado no acordo alemão.

No entanto, algo foi anunciado que me parece da maior importância para Portugal. A instauração de um salário mínimo nacional na Alemanha. O principal problema de Portugal é o de competitividade. Desde que aderimos ao Euro que os nossos custos laborais têm aumentado relativamente aos dos nossos parceiros do Norte. É aliás esse o motivo por que muitos defenderam ser essencial baixar salários e muitos defenderam a descida da TSU. Se em vez de sermos nós a baixar os salários, forem os outros a aumentar os seus salários é mil vezes melhor para nós. A criação de um salário mínimo na Alemanha poderá ter esse efeito benéfico para nós. Adicionalmente, a melhor ajuda que os alemães podem dar aos outros países é aumentarem a sua procura interna e, consequentemente, as suas importações. A criação do salário mínimo, que se estima beneficiar directamente 5 milhões de famílias, a juntar ao aumento de diversas transferências sociais e ao aumento do investimento público, pode ser um importante estímulo nesse sentido.

Concluindo, ao contrário do Zé Carlos, não dou qualquer importância ao facto de os alemães não terem anunciado qualquer inflexão na sua política externa. Quer haja quer não haja, ela nunca será anunciada pelo que não há qualquer motivo para alterar o nosso a priori com base nesse não anúncio. Em relação ao que foi anunciado, parecem-me óptimas notícias para nós. Não vejo como pudesse ser muito melhor.