Tinha 11 anos quando Zeca Afonso editou as “Galinhas do Mato”, com Zeca às portas da morte. Lembro-me de uma conversa do meu pai com um amigo sobre o álbum. Dizia esse amigo que tinha de ouvir muito mais vezes porque ainda não estava a gostar, mas que o Zeca Afonso era tão bom que só podia ser falha do ouvinte. Na altura gravei esta conversa no cérebro sem a perceber. Lembro-me de uns anos mais tarde achar isto uma estupidez. Parecia que Zeca era um Deus e que tudo o que fizesse tinha de ser bom ou que, por sabermos que ia morrer, não podíamos criticar o seu trabalho.
Já mais adulto, sinto-me quase obrigado a concordar. Realmente, José Afonso tem músicas de que não gostava e de que não gosto. Mas, mais tarde, há qualquer coisa que me faz gostar dessas músicas de que antes não gostava. Muitas vezes é a versão de um cantor mais recente, outras vezes são situações que assentam como uma luva numa canção do Zeca.
A vantagem é que, ao contrário desse amigo do meu pai, eu não me esforço por gostar. Vem por si.
A razão é que os constrangimentos dos tempos atuais são idênticos aos que inspiraram José Afonso.
ResponderEliminarA obra da Tori Amos também é assim. Às vezes, a primeira vez que se ouve não se apanha tudo e podemos não gostar; mas, subsequentemente, há coisas que aparecem que modificam o sentido e a nossa apreciação.
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