Um blogue de tip@s que percebem montes de Economia, Estatística, História, Filosofia, Cinema, Roupa Interior Feminina, Literatura, Laser Alexandrite, Religião, Pontes, Educação, Direito e Constituições. Numa palavra, holísticos.
sexta-feira, 31 de julho de 2015
O Estado não tem mãos
Balança ideológica
Conselho à PAF
quinta-feira, 30 de julho de 2015
Conclusão: daqui a uns tempos vamos enriquecer todos na bolsa
quarta-feira, 29 de julho de 2015
terça-feira, 28 de julho de 2015
O poder limitado das baionetas
Loucura megalómana e revolucionária
segunda-feira, 27 de julho de 2015
Números do desespero
Delfins, versão desalinhada*
Ode ao Fisco
Eu abanei a cabeça. O que ele quer não tem nada a ver com os EUA. Os americanos usam muito o sistema de honra para pagar impostos. Há lojas que até passam recibos à mão. O que ele quer é o sistema português. E isto é uma oportunidade para Portugal brilhar. Porque é que o governo português não partilha o que aprendeu em Portugal nestes últimos anos com a Grécia? Aliás, o que o Ministério das Finanças devia fazer era escrever um case study de como Portugal modernizou a colecta de impostos. Apesar de eu detestar e ser contra a invasão de privacidade, acho que o sistema português deve ser dos mais modernos do mundo. Podia ser melhorado, mas ainda não está acabado, logo quem sabe o que nos aguarda amanhã?
sexta-feira, 24 de julho de 2015
Outbreak
quinta-feira, 23 de julho de 2015
Sadismo-masoquismo
Ontem, numa maratona legislativa, foram aprovadas, em Portugal, alterações à lei da interrupção voluntária da gravidez (IVG). Segundo me informei, estas consistiram na introdução de taxas moderadoras, na obrigatoriedade de aconselhamento psicológico e social e de consultas de planeamento familiar para as mulheres que decidam fazê-la e no fim do registo dos médicos objectores de consciência.
Até aqui, a IVG esteve isenta de taxas moderadoras por ser considerada um cuidado materno-infantil. Reconheçamos o paradoxo: havia isenção por estar grávida, mas a intervenção era para deixar de o estar. Segundo me consta, uma colonoscopia tem uma taxa moderadora de 14 euros. É obviamente preciso pôr a malta a pagar o exame, caso contrário estariam semana-sim-semana-não de rabo para o ar (literalmente), a enfiar um tubinho ânus acima, que é sempre uma coisa agradável e um bom pretexto para só comer gelatina 3 dias seguidos. O mesmo para um aborto. Nesse sentido, não me choca a introdução de taxas moderadoras. Não me surpreende, digo melhor. Faz parte de uma ideia de que os portugueses são masoquistas - o que, vendo certas coisas, é capaz de não ser completamente disparatado... E, portanto, há que moderá-los na algaliação, nos pensos a amputação com necrose e, claro, no aborto.
Já a obrigatoriedade de aconselhamento psicológico e social tem ar de coisa de sádicos. Uma espécie de bullyingzinho sobre mulheres que tomem a opção - inimaginavelmente difícil - de terminar uma gravidez. Os defensores da proposta falam num direito das mulheres. Assim muito de repente, parece-me que o direito se acaba onde entra a obrigação. Eu acho, sem sombra de dúvida, que a decisão deve ser feita com acesso à informação. Informação que deve ser disponibilizada, não impingida. Mas, já agora, por princípio, acho que as nossas decisões devem ser todas tomadas em consciência. Que me dizem de termos vegans eco-freaks nos talhos do supermercado?! Para que optemos informadamente por carne ou legumes. Ou sermos obrigados a ir a vários templos antes de adoptarmos uma religião. Tudo a nosso bem, claro.
Quanto ao fim do registo dos médicos objectores de consciência, nada a obstar. Como defensora incansável do direito à privacidade, apoio. Só acho curioso que os mesmos que a aprovaram queiram os nomes de pedófilos escarrapachados.
quarta-feira, 22 de julho de 2015
Uma ideia que não brilha
terça-feira, 21 de julho de 2015
O paradoxo do estatismo
O problema francês ou o privilégio exorbitante
segunda-feira, 20 de julho de 2015
Pois é, dava um filme...
Náufragos
Este desabafo de um “true detective” fez-me lembrar uma das ideias centrais da “teoria geral da vida humana” (ou metafísica) de Ortega y Gasset. A vida é um caos onde cada um está perdido. O homem suspeita dessa verdade, mas aterroriza-o ficar cara-a-cara com essa terrível realidade. Procura ocultar a realidade com uma “cortina fantasmagórica”. No fundo, sente que as suas “ideias” não são verdadeiras, mas utiliza-as como trincheiras para se defender da sua vida e afugentar a realidade. Ao contrário, um homem lúcido e de “cabeça clara” é aquele que se liberta das “ideias fantasmagóricas” e observa de frente a vida; percebe que tudo nela é problemático e difícil, e sente-se perdido. Aquele que não se sente verdadeiramente perdido está condenado a perder-se e jamais se encontrará. Como isto é a mais pura das verdades – a saber, que viver é sentir-se perdido – aquele que o aceita já começou a encontrar-se e a descobrir a sua realidade autêntica. Instintivamente, como um náufrago, procura agarrar-se a alguma coisa. Esta “visão trágica, peremptória, absolutamente verdadeira, porque se trata de salvar-se, far-lhe-á ordenar o caos da sua vida.” Estas são as únicas ideias verdadeiras: as ideias dos náufragos. O resto, dizia Gasset, é retórica, pose e farsa.
domingo, 19 de julho de 2015
Amoras imorais...
Comprei grego, mais ou menos...
sábado, 18 de julho de 2015
No Fundo
No fundo azul
no espelho de uma delicada tristeza
que os meus olhos reflectem:
vês-me?
vês-me como eu sou?
vês-me como algo que se descobre
na acrobacia da imagem?Na sensual tranquilidade da palavra
o poeta tenta uma arriscada ordem
e entre a fábula e a reportagem
simula mentir
para atingir
a superior verdade.
~ Ana Hatherly
Torso
1932
granito
William Zorach
(n. 1889, Lituânia; m. 1966, EUA)
Smithsonian American Art Museum
sexta-feira, 17 de julho de 2015
Exportações da Grécia
Depois de adoptar o euro, as exportações para o resto do mundo subiram muito mais depressa após 2006. Para a zona euro subiram um bocadinho; depois, em 2008, tropeçaram e nunca mais recuperaram o nível que tinham nesse ano. Já as do resto do mundo, vê-se o efeito da crise financeira internacional, depois uma forte recuperação e, em 2013, as coisas começaram a correr mal. Os problemas com as exportações são claramente pré-Syriza.
Como é que se explica que os parceiros da UE não comprem mais à Grécia? Parte da explicação são as políticas de austeridade, mas essas políticas afectam mais os rendimentos das pessoas nos países mais pobres da UE. As pessoas nos países mais ricos não perderam assim tanto nível de vida.
Poderei inferir, então, que eram os países pobres que contribuíam mais para o crescimento das exportações gregas dentro da UE? Ou será que houve uma clara intenção dos países ricos não comprarem mais à Grécia? Ou nem pobres, nem ricos, querem consumir grego?
Tão próximos e tão distantes
Mas, mesmo rindo-me, há sempre uma coisa no fundo do meu pensamento: a Grécia é um país que pertence ao clube dos países mais ricos do mundo. Se este bloco não consegue encontrar uma solução para o problema sem destruir completamente a Grécia, então que esperança podemos ter para o resto do mundo?
Missionários e pecadores
quinta-feira, 16 de julho de 2015
Por falar em tingir bigodes...
Eu respondo que ele não percebe nada do que eu digo. Ele acha que eu sou engraçada e, assim, à laia de me desmascarar, pergunta se eu conheço algum alemão. Eu digo que tenho uma amiga japonesa que é casada com um alemão. Ele pergunta se eu conheço o marido. Eu digo que não e noto que ele fica quase todo vitorioso; acrescento que também tive uma penpal alemã, mas não funcionou bem. Ele não se convence...
É óbvio que eu não atacaria nenhum alemão que estivesse a gastar dinheiro em Portugal, dado que é exactamente isso que eu quero que eles façam não só em Portugal, como na Grécia--duh!
No meio disto tudo, esqueci-me completamente do Peter, que é o meu cabeleireiro. Hoje tive uma marcação com ele para ir pintar o cabelo, ou "tingir", como diria o Camilo. O Peter gosta muito de mim, chama-me "buddy", porque eu sou descontraída, rio-me muito, e sei conversar sobre a Europa. Ah, o Peter é filho de um italiano e de uma alemã, tem a cidadania alemã, mas já vive nos EUA desde 1983. Disse ao meu buddy Peter que ia a Portugal e ele deu-me um corte de cabelo todo giraço.
Como de costume falámos de cidadanias e passaportes porque ele nunca adoptou a cidadania americana--diz ele que, como está, pode andar em 28 países, não precisa da americana. Depois, quando eu estava a pagar, mostrei-lhe o meu cartão de cidadão português. Ele disse que nunca tinha visto um. Disse que tinha tido um cartão de identidade da Alemanha, mas quando veio viver para os EUA, os alemães obrigaram-no a entregar o cartão. Se ele não está lá para pagar impostos, não tem direito a um cartão, que é para não ir lá usar os serviços de saúde e segurança social. Só o deixam ter o passaporte.
Depois de se tornar residente permanente americano, o Peter passou cinco anos na Alemanha; quando regressou, os EUA obrigaram-no a pagar os impostos mínimos da Segurança Social para os anos todos que esteve fora, cerca de $10.000 de uma vez só. Digam lá se a América e a Alemanha não são países simpáticos? Eu acho que Portugal nem sabia do meu paradeiro durante anos a fio, depois de eu vir para os EUA.
Eu não me importaria se Portugal me desse a opção de eu contribuir um X todos os anos para poder ter acesso a serviços de saúde depois de eu ter 65 ou 70 anos. Por exemplo, só podia receber cuidados depois do 65 ou 70 anos e pagava €600/ano (actualizados anualmente por causa da inflação) durante um mínimo de 20 anos antes da idade em que começaria a receber cuidados e continuaria a pagar depois dessa idade. Se eu morresse antes dessa idade, podiam ficar com o dinheiro. Parece-me uma ideia interessante para diluir os custos fixos de manter o serviço de saúde nacional. E também serviria de incentivo para eu ir para aí gastar a minha reforma. Claro que, depois dos 65, eu também receberia cuidados nos EUA, logo Portugal não assumiria todo o risco da minha saúde.
Quando ao meu rendez-vous com o alemão, nenhum alemão foi magoado no evento; já a minha carteira levou um rombo de $185 mais $35 de gorgeta. Com que então eu odiava alemães?!?
Blogues, segundo o romantismo
Preços hedónicos
Hedonic pricing ou hedonic valuation (preços hedónicos ou valorização hedónica) é um dos métodos de valorização de bens ou recursos ambientais, mas também pode ser usado para avaliar características não ambientais. Por exemplo, é muito usado em avaliar características do imobiliário, mas nesse caso convém fazer uma análise mais precisa do que apenas olhar para a diferença dos preços, pois é preciso controlar o efeito de várias variáveis ao mesmo tempo. No caso do meu quarto de hotel, estava praticamente tudo controlado e a única diferença entre os quartos era a vista. O objectivo do método é encontrar um valor para coisas que não são comercializadas em mercados privados. Não se pode comprar apenas uma vista para o mar ou uma localização ao pé do Marquês de Pombal, mas pode-se comprar isso associado a outro bem como uma casa, um apartamento, um quarto de hotel. Ao ver as diferenças de preços entre os bens comercializados com e sem a característica de interesse, podemos isolar o valor da característica.
Há vários outros métodos de valorização de bens não comercializados no mercado, como por exemplo os recursos naturais. Cada método tem vantagens e desvantagens e é adequado para certos tipos de bens e/ou situações. Podem ler mais sobre os métodos de valorização aqui.
quarta-feira, 15 de julho de 2015
A floresta e as árvores
Posto isto, não faz sentido falar na credibilidade de Tsipras porque quem não tem dinheiro, nem opções, faz o que lhe deixam, não faz o que quer. Pode tentar fazer outra coisa, pode dizer que vai tentar fazer outra coisa, mas quem sabe avaliar a distribuição de poder na relação, pode muito bem ver quando há bluff e quando não há. Vale a pena, no entanto, pensar na credibilidade de quem tem mais poder porque esses têm poder de negociação e margem de manobra. E quando se tem poder, não faz sentido fazer bluff, especialmente se não há a intenção de seguir em frente com a ameaça porque, se o bluff for chamado e não se fizer o que se disse, a credibilidade vai ao ar. É o caso de Angela Merkel.
Primeiro, a Sra. Merkel dizia que a UE não estava a atravessar crise nenhuma, depois que a crise estava contida e não havia possibilidade de contágio dos problemas da Grécia, depois o problema da Grécia estava resolvido e nem se punha a questão do país sair do euro, depois se os gregos votassem "Não" ao referendo, era provável que saíssem do euro. Ou seja, em que ficamos, Sra. Merkel?
Já defendi aqui que a Grécia não sai do euro por pressão dos EUA. Enquanto Schäuble não quer saber da posição dos EUA na equação, Merkel, apesar de mandar bocas aos americanos, é fiel aos EUA. Henry Kissinger uma vez perguntou "Who do I call if I want to call Europe?" Vladimir Putin também foi confrontado com essa questão quando um avião cheio de europeus foi abatido sobre a Ucrânia. A resposta de Putin: "Barack Obama". É um bocado diferente da forma como José Manuel Barroso tinha interpretado a questão de Kissinger.
Ontem foi um dia histórico para Barack Obama, pois foi anunciado o acordo dos EUA com o Irão. A notícia foi tão inesperada e importante que o drama da Grécia foi relegado para segundo plano. Agora pensem bem nisto: na segunda-feira é anunciado um acordo com a Grécia; na terça-feira é anunciado um acordo entre os EUA e o Irão; na quarta-feira o FMI diz que não quer participar no acordo da Grécia, sem que haja cortes significativos na dívida (esta postura do FMI é interessante porque claramente indica que o FMI não confia na Alemanha).
Estou mesmo a imaginar a conversa entre Obama e Merkel:
Obama: "Querida Angela, se os EUA podem chegar a um acordo de compromisso com o Irão, explica-me porque é que a UE não pode chegar a um acordo de compromisso com a Grécia que seja favorável a ambas as partes?"
Angela: "Não subsidiamos vagabundos."
Obama: "Então explica-me porque é que os cidadãos americanos, que têm seguros de desemprego miseráveis e têm o sistema de saúde mais caro do mundo civilizado e com piores resultados, têm de pagar para proteger a UE militarmente? Não foste tu que sugeriste que os EUA deviam gastar menos em despesas militares e mais no bem-estar dos seus cidadãos? A propósito, não é a Alemanha que tem as forças militares em ruínas? Ouvi dizer que os soldados alemães têm de fazer de conta que cabos de vassoras são metralhadoras durante os exercícios da OTAN. Ainda não gastaste um euro sequer com a crise da Grécia no orçamento alemão, apenas te comprometeste no papel. E já agora, não é a Alemanha o país que mais beneficiou com o euro, ou seja, não tiveram vocês um "free lunch"? "
Angela: "Hmmm?!?"
Pois, eu também não sei a resposta. O que eu sei é que o mandato de Angela Merkel chega ao fim em 2017 e, daqui a cinco meses, celebra-se o seu décimo aniversário no poder. Se a Grécia sai próximo do seu mandato, há bronca na UE, e o projecto europeu se desintegra, toda a sua administração será eclipsada pelo desastre.
Tsipras desafia: “Quem tiver uma solução alternativa que avance e diga qual é”
Brincar aos políticos
Ter um acordo com a Grécia não é coisa da qual nos devamos vangloriar. Já houve vários acordos com a Grécia e a situação piorou, logo chamar a si responsabilidade por um acordo cujo sucesso não está garantido é uma posição de risco. Se o acordo falhar, o falhanço extender-se-á a Pedro Passos Coelho. Como todos os acordos prévios falharam, a probabilidade deste--que nem sequer foi aprovado nos parlamentos nacionais--suceder é quase nula.
E era este o ponto fraco que António Costa devia ter explorado, mas decidiu que a melhor estratégia era menosprezar o "contributo" de Pedro Passos Coelho. Não percebo como é que este argumento tão fraco prevalece sobre o argumento muito mais forte que eu apresentei.
O nosso Presidente da República, por sua vez, diz que a Grécia fez um "erro estratégico de negociação" do acordo. Também não percebo esta atitude de altivez. O governo grego não tem margem de manobra. Sempre que um acordo é rejeitado, o que a UE oferece a seguir é pior. Como é que eles saberiam que ao rejeitar um, o que viria a seguir seria pior? Só rejeitando...
Os gregos também não têm credibilidade e quem não tem credibilidade tem pouco poder de negociação. Parece que já nos esquecemos que quando nós tivemos a nossa intervenção, tivemos um acordo muito pior do que o que poderia ter sido. Nós também fizemos "um erro estratégico de negociação". Talvez o nosso PR queira elaborar o porquê do nosso acordo ter sido pior do que o que poderia ter sido. Depois do nosso acordo, demorou muito tempo e muitos sacrifícios até a credibilidade de Portugal ser reabilitada. Mas nós divertimo-nos na mesma, pois tivemos uns flirts com o masoquismo: o fiasco da TSU, a demissão de Vítor Gaspar, e a pseudo-demissão de Paulo Portas. Nós eramos tão bons a criar desvantagens como o Syriza, só que fomos um bocadinho mais lentos. A nossa lentidão tem explicação: o actual governo português administrou o nosso bail out logo desde o início, mas o Syriza quando tomou posse herdou a administração anterior, logo começou de um ponto muito menos vantajoso porque os cofres já estavam quase vazios outra vez.
Mesmo que o Syriza fosse o partido e o governo ideal, os que vieram antes dele tiveram um peso muito maior em determinar a forma como os gregos são tratados. E mais: a credibilidade que não foi destruída pelos próprios gregos foi destruída pelos bitaites da Alemanha. O objectivo é duplo: castigar a Grécia e usar a Grécia "pour encourager les autres". Portugal faz o papel de um dos ajudantes do bully da UE.
Rui Moreira, o Presidente da Câmara do Porto, tem razão: Portugal, especialmente o governo, fala demais sobre a Grécia estando o nosso país numa situação precária. Só espero que quando chegar a altura de nós levarmos pontapés outra vez, nos console aqueles que demos aos outros.
Relatividade e preguiça
As pessoas ficaram ofendidas porque os americanos já trabalham muitas horas. Depois ele clarificou, dizendo que queria dizer que os americanos que trabalham a horário parcial deviam trabalhar mais horas. Presume ele que quem trabalha a horário parcial preferia trabalhar a tempo inteiro; se não têm esta preferência são preguiçosos. Nestas discussões, o que se segue é a óbvia constatação de que o trabalho paga impostos mas o tempo de lazer não, logo a solução é reduzir os impostos sobre o trabalho, especialmente sobre o trabalho dos mais ricos, que pagam taxas de impostos mais altas porque também ganham mais dinheiro.
Como eu já estive desempregada involuntariamente várias vezes--a crise financeira foi um "óptimo" exercício de resistência emocional e financeira--, acho esta discussão interessante, mas um bocado aérea. Sim, o trabalho paga impostos e o lazer não, mas o lazer tem o custo de usarmos as nossas poupanças, mais vários custos de oportunidade, como o salário que se prescinde porque não se trabalha e os juros que prescindimos porque temos de usar as nossas poupanças.
Os desempregados involuntários, quando têm direito, têm um seguro de desemprego muito baixo e não dá para ter o nível de vida de um salário normal; para além disso só dura no máximo seis meses (durante a crise financeira, houve extensões). Ainda por cima, sem emprego não há seguro de saúde; tem de se comprar com o nosso próprio dinheiro e agora é obrigatório ter ou então pagamos uma multa. (Mesmo com emprego, nem todas as companhias oferecem seguro de saúde.)
As férias de trabalho normais nos EUA são 10 dias, i.e. duas semanas, mas há companhias que dão um pouco mais ou aumentam o número de dias de férias com o número de anos que se trabalha para a empresa. Note-se que os americanos têm mais feriados do que os portugueses, mas a lei não obriga a que sejam pagos, depende do acordo entre trabalhador e patrão.
Quando eu conto aos meus amigos em Portugal o que é trabalhar nos EUA, toda a gente fica horrorizada, mas gostam dos salários. Quando eu conto aos americanos como é trabalhar em Portugal, os americanos ficam horrorizados com tanto lazer e regalias, e detestam o salário.
Os americanos acham os europeus pessoas muito preguiçosas, pouco ambiciosas, e paparicadas pelo estado. É mais ou menos a ideia que os europeus têm dos gregos.
terça-feira, 14 de julho de 2015
À deriva
Irão ou não?
Vale a pena ver qual a diferença entre um tratado e um acordo na lei americana e que pode ser consultada na página do Departamento de Estado americano. De acordo com a Constituição, um tratado é um acordo internacional que obtém uma maioria de dois terços no Senado. Os acordos que não obedecem a essa maioria, mas que são implementados por força constitucional, são "acordos internacionais" ou comummente designados por "acordos executivos". [Note-se que o Congresso americano é composto por duas câmaras: o Senado, que tem 100 senadores, e a Casa dos Representantes, que tem 435 representantes. Cada estado americano tem dois senadores; o número de representantes por estado depende da população de cada estado, que está dividida por distritos.]
Uma parte integrante deste acordo é a inspecção permanente das instalações nucleares iranianas. Estas inspecções serão não só detalhadas, como muito frequentes. Segundo o que foi dito no programa da Diane Rehm, para o Irão construir uma arma nuclear, i.e. violar o acordo, teria de o fazer no espaço de semanas. Qualquer indicação de violação do acordo traria imediatamente a imposição de novas sanções ao Irão.
Os efeitos mais imediatos deste acordo ser conseguido serão no preço do petróleo. De acordo com Neil Atkinson, citado no blogue do Houston Chronicle dedicado ao petróleo, o Irão pode disponibilizar cerca de 40 milhões de barris de petróleo num curto espaço de tempo, ou seja, o preço do petróleo tem o potencial de baixar. O West Texas Intermediate pode baixar para $50/barril; neste momento está a $52.89.
Falta de profissionalismo
A nível pessoal, há uma coisa que se faz em Portugal que é muito estúpida, mas que já me aconteceu várias vezes. Quando não gostam do que eu digo, dizem que eu estou bêbada ou ando enfiada no vinho. Por vezes, dizem a coisa a brincar; outras vezes é mesmo para insultar. A última vez que me aconteceu foi hoje. Como eu afirmei que a estratégia da Alemanha pode ser óptima, mesmo destruindo a Grécia, alguém, que eu respeitava profissionalmente, diz-me "Rita, deixa o vinho e volta aos iogurtes." Que refutem as minhas ideias com argumentos minimamente lógicos, eu aceito. Que sugiram que eu estou embriagada num espaço público--o Facebook--, onde há um rastro do que é dito, é uma ofensa séria à minha reputação profissional.
Vocês podem achar que eu estou a exagerar, mas não estou. Os clientes para quem eu trabalho incluem companhias e indivíduos que exigem um certo nível de reputação. Por exemplo, os meus clientes passados incluem uma das maiores companhias da Arábia Saudita, uma das maiores companhias petrolíferas do mundo, uma multinacional japonesa, etc. Sugerir sequer que eu estou embriagada, quando estou a discutir um assunto de forma séria, afecta a minha pessoa--é difamação--e afecta a reputação das companhias para quem eu trabalho. Eu compreendo que em Portugal, um país pequeno, não se tenha noção da escala das coisas, mas eu não trabalho em Portugal. Eu trabalho na economia global.
Depois, há a questão de género. Eu sou mulher; é difícil para uma mulher conseguir singrar no mundo dos negócios. Um homem que se embriaga é um garanhão; uma mulher que se embriaga é uma vadia incompetente. O universo dos profissionais onde eu trabalho tem cerca de 100 pessoas nos EUA--sim, só há para aí 100 pessoas que fazem o que eu faço num país de mais de 300 milhões. A maior parte são homens, eu sou uma das poucas mulheres. Uma piada que para um homem é inofensiva, para uma mulher pode destruir a carreira. Até literalmente porque eu sou uma Carreira.
Não digam que eu não tenho sentido de humor. Eu tenho muito sentido de humor; mas também tenho muita noção das consequências das coisas. Há coisas que não são engraçadas; são estúpidas.
Adenda: Isto não é dirigido a uma pessoa em particular. É apenas o culminar de vários episódios que me aconteceram.
Partidos políticos
Dois idiotas são dois idiotas.
Dez mil idiotas são um partido político."
~ Franz Kafka
segunda-feira, 13 de julho de 2015
Um dia excelente!
A cereja no topo do bolo é que na Bloomberg acabaram de chamar aos dirigentes da UE de loucos. E usaram a citação do Einstein. Ah, pá, foi o que eu postei no outro dia.
Eu sei que em Portugal temos de ser humildes, especialmente se formos mulheres. Que se lixe a humildade. Hoje foi um dia óptimo para mim...
Afinal era "business as usual"
Será que posso acreditar em si? Não foi você que anunciou o fim da crise há vários anos e que a saída da Grécia estava fora de questão? O problema das coisas normais é que tendem a recorrer com alguma frequência...
Por falar em normalidade, depois de cinco anos de crise permanente--acho que uma crise permanente de cinco anos deixa de ser crise para ser status quo; mas divago, como de costume--, já observámos alguns comportamentos recorrentes. Acho que o que vem a seguir a um acordo com a Grécia é alguém na Alemanha se virar para Portugal e dizer que nós não andamos muito bem e que podemos muito bem ver-nos gregos!
Paralisia moral
domingo, 12 de julho de 2015
Tragédia grega
De acordo
Show me love
Though I may make mistakes
Don't let me show ugliness
Though I know I can hate
And don't let me show evil
Though it might be all I take
Show me love
Show me love
Show me love
Don't let me think weakly
Though I know that I can break
Keep me away from apathy
While I am still awake
And don't let me think too long
Of the one I'm bound to face
Show me love
Show me love
Show me love
A silly season ataca de novo...
Quando conversava com um amigo sobre o caso de Laura Ferreira, ele mencionou a falta de equidade no tratamento de tragédias. A esposa do Primeiro Ministro de um partido de direita aparecer em público sem uma peruca é aproveitamento eleitoral; a queda da esposa do fundador de um partido de esquerda e antigo Presidente da República, já é uma tragédia nacional. Agora vocês dizem-me que não são coisas comparáveis porque Maria Barroso infelizmente faleceu; a Laura Ferreira ainda está viva. E depois, não se escolhe cair, mas escolhe-se sair à rua sem peruca. E eu retorquirei com dois argumentos:
- O primeiro não é meu; é da minha mãe. Dizia-me ela: "o único requisito para morrer é estar vivo." E digo-vos eu: respeitem as vítimas de cancro; têm coisas muito mais importantes para tratar do que lidar com argumentos idiotas. Já não basta ter de ser envenenada para combater o cancro, também tem de sofrer o calor de usar peruca em pleno verão ou então não pode sair de casa.
- O segundo é que, entre a data da queda de Maria Barroso e a da sua morte, passaram alguns dias e ninguém sugeriu que a sua tragédia dava jeito ao PS em véspera de eleições.
E, já agora, quem se incomoda de ver mulheres sem cabelo durante tratamentos de quimioterapia devia ter o mesmo descontentamento para com os homens que perdem o cabelo quando fazem quimioterapia. Ou será que um homem careca já é sexy e não incomoda ninguém?
sábado, 11 de julho de 2015
A DdD é cabeça de lista
sexta-feira, 10 de julho de 2015
Ou almoças com o pai, ou vais preso!
"Three Oakland County children who refused to go to lunch with their father, as part of a bitter divorce and custody battle between their parents, are spending their summer in the county’s juvenile detention center, according to court records."É tão bom viver num país totó...
Isto promete!
#OXI WE CAN! #Greece pic.twitter.com/2Q7Hp0DNcP
— ian bremmer (@ianbremmer) July 10, 2015
Uma op-ed de Mohamed El-Erian a dizer que o Tsipras pode muito bem ser brilhante; para já demonstra um talento fascinante para manobras políticas:
Alexis Tsipras, Greece’s charismatic prime minister, has shown a fascinating talent for political maneuvering.When an impressive electoral victory carried him to office in January, he inherited a horrid economic and financial situation. He initially struggled to gain control, and relations with creditors collapsed in an acrimonious mess. But as Greece teetered on the edge of an economic and institutional abyss, he repeatedly caught everyone off guard by taking charge of a narrative that was slipping away both at home and abroad.
Now, he may be able to deliver what many (including me) thought improbable: a policy deal that is acceptable to the majority of Greeks, the country’s European partners and the International Monetary Fund. Yet, as brilliantly as he appears to have navigated the crisis so far, he still faces an uphill battle that will determine his political legacy.
Justiça disfuncional
Best. Silly Season. Ever.
Capítulo Primeiro: Sporting, o Renascido
O Sporting começa a silly season de bomba atómica em punho e vai buscar o JJ que, aparentemente sempre foi sportinguista, e nem sequer olhou ao dinheiro (que ninguém sabe muito bem de onde veio). O único senão desta jogada de mestre foi o Sporting se ter esquecido que ainda tinha um treinador sob contracto por mais umas épocas. Um tipo jeitoso que até ganhou a taça e fez mais pontos com o Sporting que qualquer outro treinador este século.Mas a coisa lá se resolveu: primeiro iam despedi-lo por justa causa por ter usado um sobretudo do Sporting num jogo da taça em Fevereiro mas depois lá o entalaram o suficiente até o homem não ter solução que não fosse rescindir por mútuo acordo de modo a não por em causa o seu próximo emprego (em termos de convenções da Organização Internacional do Trabalho, só não quebraram duas!) Tudo tranquilo.