A nossa época é perversa ao
interpretar enganadoramente uma excepção como uma regra, como se, por exemplo,
o sucesso do Mark Zuckerberg estivesse ao alcance de qualquer um. Na verdade, as
probabilidades de redirecionar com êxito uma determinada actividade comercial
são reduzidas.
Alain de Botton em “Alegrias e
tristezas do trabalho” conta uma história ilustrativa a esse respeito. Num daqueles eventos destinados a apresentar pequenas empresas a potenciais
investidores, Botton conhece um investidor em capitais de risco. O investidor
manifestava poucas expetactivas em relação às milhentas ideias e inovações
propostas nessa mostra em Londres, e a sua maior alegria era poder desfrutar da
oportunidade de passar um dia fora do escritório. Dos dois mil projectos que
lhe eram apresentados anualmente, excluía de imediato 1950, examinava mais
minuciosamente 50, e acabava por investir em apenas 10. Ao fim de cinco anos,
desses dez investimentos, quatro iam à falência, outros quatro estariam numa
situação periclitante chamada “ciclo de cemitério” e apenas dois viriam a ter
rendimentos significativos que permitiam as empresas manter-se à tona. Aqui
está uma visão decepcionante do sucesso: 0,1%.
Talvez por isso não consigo deixar de
ver uma certa beleza heróica nestas histórias. Histórias de pessoas que
investem as suas poupanças de anos, deixam para trás empregos frustrantes e, cheias
de esperança, atiram-se, muitas vezes, pelo penhasco das realizações
empresariais.
Após estes 40 anos de empresas desaparecidas, senhorios desaparecidos, filhos de patrões esbulhados, sindicatos que viciaram operários no fundo de desemprego, estudantes até aos trinta anos sem perspectivas, quem vai investir?
ResponderEliminarVai levar muitos anos até aprender novamente.