domingo, 22 de dezembro de 2024

Homem bom, homem mau

A periodicidade de ir ao dentista fazer a manutenção dos dentes (limpeza) é seis meses porque, pelos ditames do seguro de saúde, só pagam duas limpezas por ano, mas tais limpezas têm de ser espaçadas exactamente como o seguro quer e não pode ser exactamente meio ano, tem de ser meio ano e um dia, disseram-me. E disseram-me porque a limpeza que fiz em Maio, que foi feita meio ano e um dia após a de Novembro foi rejeitada. Não liguei muito à decisão no início e nem sequer contactei o dentista, nem submeti um pedido de re-avaliação da despesa, o que é completamente contra o que se deve fazer nos EUA. Aqui quando há alguma coisa incorrecta, deve-se contactar a entidade e o normal é a coisa ser resolvida por alguém, mas sejamos honestos que por vezes não é resolvida.

Quando recebi a conta, estava atarefada no trabalho e pensei que não me apetecia tratar do assunto, como se os minutos que iria perder fossem mais preciosos que os $135 que me pediam. No entanto, não fui completamente "desleixada" porque ainda telefonei à seguradora e disseram-me que tinha de telefonar para outro número, e também enviei um email à senhora dos Recursos Humanos a expor a situação e ela reencaminhou o meu caso para a representante que trata com os seguros, que, tal como eu, não percebeu a razão de não aprovarem a despesa por casusa do tal meio-ano e um dia que estava a ser respeitado. Pedi que me enviasse as regras e as regras não diziam nada acerca da periodicidade exacta, apenas que não podia ser mais do que duas limpezas no espaço de um ano.

Vou confessar a que o meu cérebro tende a entrar em labirintos facilmente em situações destas porque começo a contemplar o tamanho dos meses e, se calhar, a culpa é de Fevereiro ser um mês curto e coisas assim. Com muito esforço, arrumei os macacos no sótão, que depois falava com o dentista para não me estar a chatear mais, dado que o apelo tem de ser feito por carta enviada por correio físico, não há um formulário na Internet, nem sequer um número de telefone que se possa chamar. Só falta pedir que a coisa seja feita em papel azul de 25 linhas com um selo, como muitas coisas se fazia quando eu morava em Portugal.

Neste passado Novembro, fui outra vez ao dentista e falei com a gerente do gabinete que me disse que aquela rejeição não fazia qualquer sentido e que ela ia contactar o seguro outra vez. Sugeri que se calhar devia ter feito o tal pedido de re-avaliação e ela achou que sim. Ia para o fazer, mas tinha de ser submetido 180 dias depois da decisão da rejeição e o prazo já tinha passado.

Andava eu meia chateada com a seguradora, que por acaso é a United Healthcare, quando o CEO foi assassinado e olha que coincidência interessante, que ele não tinha perdido pela demora. Um amigo meu até me enviou uma mensagem a dizer que a United Healthcare era a seguradora que rejeitava mais benefícios, cerca de 32% dos pedidos ou seja um em três. Julguei que, se calhar, tinha negado benefícios a alguém que precisava e fora essa a razão do atentado. Passam-se dias e o caso desenrola-se, mas o motivo acabou por não ter nada a ver com um caso específico de rejeição de benefícios, o que me desagradou. Ainda por cima a avó do presumido autor do crime tinha uma cláusula no testamento em que deserdava a família se houvesse um crime.

Entretanto, os americanos entraram em parafuso, como é normal: iniciaram uma campanha de angariação de fundos para o presumido autor, preocupraam-se com o bem-estar do dito porque a foto da polícia mostrava-o com uma aparência desfavorável, há quem se tenha apaixonado por ele, quem tenha ficado muito feliz, quem lhe tecesse elogios, etc. E claro que, como eu, muitos acham que o CEO não tinha perdido pela demora. Com uma opinião pública tão favorável ao presumivel autor não me admiraria que ele fosse absolvido e senti um enorme desconforto em pensar que um rapaz ainda tão jovem que tenha cometido um crime destes pudesse andar por aí à solta, mesmo sendo bem-parecido e ter levado desta para melhor o CEO da seguradora que não quer pagar a limpeza dos meus dentes.

Mas, verdade seja dita, quando vou à consulta médica anual e me mandam fazer uma ecografia ao peito porque a mamografia é inconclusiva, a United Healthcare paga a conta da ecografia. A seguradora que eu tinha antes, a Blue Cross Blue Shield, não pagava porque a ecografia não era considerada parte do pacote de cuidados anuais necessários e lá tinha eu de pagar os $900. Note-se que Blue Cross Blue Shield só rejeita 17% dos pedidos de comparticipação, se calhar porque o CEO é melhorzinho do que o da United Healthcare.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

Os cómicos

Em resposta à proposta de lei de financiamento adicional da despesa federal negociada pelo Porta-Voz Johnson, Trump e Vance acham que não deve ser passada sem incluir um aumento do limite da dívida pública, dado que o actual fica inválido daqui a uns meses. Já Ramaswamy e Musk acham que a lei está cheia de "pork", quer dizer, despesa desnecessária. Musk diz mesmo que é uma lei criminosa."

A malta ainda nem entrou em funções e já está em desacordo. Será que Trump entra em funções com o governo paralizado? Em Janeiro de 2019, quando Trump era Presidente, o governo federal ficou sem financiamento durante cinco semanas e foi uma enorme confusão.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

Coitados deles e de nós

Num dos almoços desta semana, calhou conversar com uma conhecida (apoinate de Trump) cuja irmã foi recentemente ao médico--são americanas. A novidade foi que a irmã descobriu que tem problemas graves na tiróide e nos níveis de hormonas, o que lhe causa excesso de peso, cansaço, perda de cabelo, etc. Finalmente sabe a razão de muitos dos problemas que tem porque arranjou um emprego que tem seguro de saúde, o que lhe permitiu ir ao médico.


Fiquei um pouco frustrada com a história e perguntei por que não tinha ido ao médico há mais tempo. Disse-me que só agora é que tinha tido acesso a um emprego com seguro de saúde. E perguntei porquê nao ter comprado um seguro de saúde antes e respondeu que o seguro de saúde era muito caro. Ora depende porque há seguros para todos os gostos. Há programas federais que subsidiam o acesso a seguro para pessoas sem rendimento e que são mais em conta, há empregos que oferecem seguros mais baratos que são chamados de catastróficos que compensam caso a pessoa seja saudável e só precise em casos excepcionais, mas há também seguro normal, cobrindo condições pré-existentes, e que custa menos de $200 por mês para o empregado.


O sistema é complexo, mas dá para tudo e a vantagem é que para quem é saudável acaba por ser mais barato do que um sistema de saúde europeu e os americanos acham que um sistema assim constitui um incentivo para as pessoas prestarem mais atenção à sua saúde e escolherem estilos de vida mais saudáveis. E depois sendo mais barato, as pessoas podem poupar o dinheiro para terem quando ficam doentes e precisam de ir ao médico. Isto é o que eles dizem, mas não é o que fazem.

Depois me pergunta se não seria bom que o meu emprego oferecesse seguro de saude para o meu cão. Eu disse que não queria seguro de saúde para o cão. Quando o meu cão vai ao médico, a decisão é feita com base no que é bom para a saúde do cão e, no meu caso, não há grandes restrições financeiras. A verdade é que o meu cão tem acesso a melhores cuidados de saúde do que as mulheres nos EUA. Depois acrescentei que tive seguro pelo Obamacare e não foi caro, custava menos de $400 por mês sem subsídio. Ou seja, não disse, mas pensei que, se a irmã não tem seguro, é porque não se sabe orientar. Há imensa gente que chega aos EUA sem sequer falar inglês e desenvencilha-se melhor do que a irmã.

Ao longo da conversa tambem fiquei a saber que a apoiante do Trump, que é fumadora, tinha acabado de comprar roupas de inverno pelo Shein, apesar da política do Trump ser anti-China. Ou seja, postulam uma coisa e fazem exactamente o contrário mas nao têm culpa no cartório.