terça-feira, 24 de setembro de 2024

Pelo campo

Fui a Oklahoma na semana passada, mais propriamente a Stillwater, que é uma cidadezinha universitária que tem pouco mais de 49 mil almas e a área metropolitana tem 78 mil. Como foi o primeiro sítio onde vivi nos EUA, é como um regresso a casa para mim.

A viagem de carro demora umas seis horas e meia pela autoestrada com portagens; se for sem portagens, demora mais 40 minutos. Para lá chegar atravessa-se o Arkansas inteiro, o que tem algum charme na parte oeste, mas a parte leste entre Memphis e Little Rock costuma ter imensos camiões e é uma enorme seca. O Arkansas não tem portagens, todos os turnpikes (autoestradas com portagens) estão em Oklahoma. Não sei porquê, mas o Texas e Oklahoma adoram portagens.

Como estamos em época de eleições, umas das coisas que gosto de ver é se há anúncios políticos. Desta vez vi um no Arkansas e vários em Oklahoma a apoiar o Trump (na zona da I-40, perto de Sallisaw e Muldrow, que ficam na zona sul da Nação dos Índios Cherokee, em Oklahoma). Um dos campos por que passei tinha várias bandeiras americanas e o "Make America Great Again". Eu acho divertido que os agricultores apoiem o Trump porque ele foi péssimo para a agricultura.

Não vi nenhum anúncio pró-Harris, mas os estados por onde passei não são púrpura, logo não deve fazer sentido andar a gastar dinheiro por estas bandas.

segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Tiro ao Trump

No dia a seguir ao debate, fui finalmente ver o vídeo do Alan Lichtman com as chaves para a Casa Branca. Estava quase a animar com a previsão dele, quando caí à terra e pensei que talvez fosse demasiado cedo para deitar foguetes. Mas tenho duas garrafas de champagne no meu frigorífico que são pau para toda a obra, quer ela seja chorar ou celebrar--a opcionalidade é sempre bem-vinda.

O resto da semana decorreu mais ou menos e houve imensas piadas pós-debate. Talvez as mais engraçadas tenham resultado da insistência de TRump de que há imigrantes ilegais a comer animais de estimação em Springfield, Ohio. Já vi duas memes com o ALF, aquele extra-terrestre da sitcom dos anos 80. Numa o ALF está ao telefone a pedir a alguém para o levar para Springfield. Na outra, vê-se uma mugshot do ALF com uma legenda a dizer que foi apanhado pelo FBI. O ALF era uma das minhas sitcoms preferidas, e teve bastante sucesso em Portugal, apesar de não ser muito popular nos EUA.

Hoje, Trump foi alvo de outra tentativa de assassinato: o FBI encontrou um individuo que disparou tiros no campo de golfe onde jogava o ex-presidente. Se ao primeiro atentado muita gente ficou chocada, desta vez já está normalizada a completa maluqueira. Ninguém achava que a campanha ia ser pacata ou normal.

quarta-feira, 11 de setembro de 2024

A terminar o debate

Nada de novo debaixo do sol. Trump inventou como de costume e disse coisas sem sentido ou falsas. Ele insistiu que Biden e Harris apoiam o aborto após o nascimento, o que não tem ponta por onde se lhe pegue--um bebé que nasce não pode ser abortado por definição, mas definições nunca foram um entrave para Trump. O principal é que o público para quem ele fala ou não entende quando ele não faz sentido ou não fica incomodado.

Kamala podia ter estado melhor. Ela tem um discurso mais sofisticado, o que nem sempre é bom. O ideal é comunicar de forma bastante simples, ao nível do oitavo ano de escolaridade, mas o vocabulário dela é muito mais alto, o que pode afastar alguns eleitores. Na presença física, ela olhou muito para ele e gesticulou bastante, o que pode parecer um sintoma de ansiedade. Ele manteve-se sempre a olhar para a camera, e movimentou-se com bastante calma e exactidão.

No entanto, duvido que haja muitos indecisos nesta altura do campeonato, até porque Trump já governou, logo ninguém está a alimentar ilusões de que ele vai agir de forma "presidencial". Trump continua com a vantagem da geografia pelo facto de muitos dos seus eleitores estarem em zonas rurais, mas há muitas pessoas que votaram nele à primeira vez e que mudaram de ideias; duvido que votem em Kamala, o mais provavel é acabarem abstendo-se.

terça-feira, 10 de setembro de 2024

Ready to Rumble

No final do último século, um dos jogos de vídeo mais populares era o Ready to Rumble, que se tornou ainda mais popular quando saiu a o GameCube da Nintendo. Agora também é o nome de um filme, diz o Google, mas não é isso que despoleta a minha imaginação. Amanhã é dia de debate entre Harris e Trump e é bom que estejamos "Ready to Rumble". Tenho visto pouquíssimo entusiasmo com esta eleição, apesar de, no dia 5 de Novembro, os EUA não decidirão apenas quem será o Presidente--o que está em causa é o futuro da história mundial e até da raça humana, ou não fosse um dos tópicos caros ao establishment Trumpeta a eliminação da fertilização in vitro.

Ainda estou à espera que alguém tenha o bom senso de propor acabar com o Viagra porque, se Deus quisesse que os homens tivessem ereções, não teria permitido que eles as perdessem. E homens casados com mulheres já na menopausa também não precisam de ereções porque já não têm mulher com quem procriar, logo não faz sentido que tenham acesso a tal tratamento, até porque o divórcio é anti-Deus porque separa o que Deus uniu. Era tão bom ter uma lei que controlasse o corpo dos homens, seria uma prova suprema de que estamos a caminhar para a verdadeira igualdade.

Quando o Brett Kavanaugh estava a ser entrevistado para o SCOTUS pelo Senado, a Kamala Harris perguntou ao Brett se ele conhecia alguma lei que regulasse exclusivamente o corpo do homem; ele não se lembrava de nenhuma. Amanhã o debate deverá ser bastante interessante.

segunda-feira, 9 de setembro de 2024

A qualidade de vida

No outro dia, alguém postava no Facebook um argumento semelhante ao que o Nicholas Kristof fez há umas semanas no NYT: o PIB per capita europeu está a crescer tão devagar que as comparações com os EUA não são favoráveis.
"France offers almond croissants, luxury brands and an enviable way of life. But if it were a state, it would be one of the poorest per capita, on par with Arkansas.

[...] But by one European calculation, if economies continue to grow at the current pace, by 2035 the average American and the average European will be as far apart economically as the average European and Indian are today (in fairness, assessing the gaps also depends on what exchange rate is used).

Fonte: Nicholas Kristof, "Is Europe a Model for America? Or a Warning?" NYT, 28 de Agosto de 2024

E num dos comentários ao post dizia um português que a qualidade de vida nos EUA não era tão boa como na Europa. Mesmo muitos dos próprios americanos dizem o mesmo. Mas a Europa não é tão diferente dos EUA em qualidade de vida: há uma parte da população que tem dinheiro e consegue ter boa qualidade de vida e outra que nem por isso.

Um dos meus vizinhos é um americano que é médico reformado do sistema militar. Os militares nos EUA podem reformar-se ao fim de 20 anos de serviço activo. Para além da casa na minha vizinhança, ele e a esposa têm uma casa num lago. Todos os anos fazem uma ou duas férias internacionais. No ano passado, estiveram na Alemanha, agora estão no Canadá de férias.

Por falar em viagens internacionais, isto recorda-me o cunhado de uma ex-vizinha, um engenheiro reformado, que teve de cancelar várias viagens à Europa por causa da pandemia e que estava muito chateado porque sendo ele reformado, dois anos era um pedaço de tempo bastante significativo do período que ele tinha delineado para viajar.

Claro que casos avulsos não dão para generalizar, mas pelo que observo não acho que a qualidade de vida dos americanos seja assim tão má, apesar de nem toda a gente viver bem. E a tendência é para as coisas melhorarem.

sábado, 7 de setembro de 2024

A house for free

Daqui a menos de duas semanas, a expectativa é que o Federal Open Markets Committee decida cortar as taxas de juro de referência nos EUA, só não se sabe se vai ser 0,25% ou 0,5%. Também é esperado que o BCE continue a cortar os juros e as taxas de euribor já estão em tendência de queda. Tudo boas notícias para o programa de apoio a aquisição de habitação por jovens com menos de 35 anos e residentes em Portugal, que ganhem menos de 81 mil euros e queiram comprar casa até 450 mil euros.

As agências imobiliárias que lidam com estrangeiros já tomaram nota e estão a promover o programa. Penso que o objectivo desta política será diversificar a idade dos imigrantes, os tais que são conhecidos como "expats" na gíria americana. Com esta coisa do Trump e do Brexit, há muitas mulheres americanas e britânicas com mais de 50 anos a quererem mudar-se para Portugal e que precisam de namorad@s jovens e enxutos para gozarem melhor o sol e a praia. E se tais namorad@s já tiverem casa, tanto melhor.

sexta-feira, 6 de setembro de 2024

Com tradição de contradição

Discute-se mais uma vez a privatização da TAP. Não devia ter sido nacionalizada, mas já chega de empatar o país com esta discussão: vem um governo de Esquerda e nacionaliza; um de Direita e privatiza. Tudo isso consome recursos que o país não tem. Se é para andar neste tango, mais vale fechar a companhia porque assim não se gasta dinheiro e os contribuintes não têm de andar a financiar experiências ideológicas. Isso sim, seria corajoso!

quinta-feira, 5 de setembro de 2024

385

Já há uns tempos que não recordava de termos um tiroteio, mas hoje um miúdo de 14 anos matou quatro pessoas e feriu pelo menos nove numa escola secundária na Geórgia. Claro que deve haver bem mais traumatizados, mas nós não contamos esse tipo de ferimentos.

Não sei se era falha minha, que não prestei atenção, ou se realmente as coisas tinham acalmado. Há uns anos era quase um evento semanal haver tiroteios e parecia que as coisas não iam melhorar, mas ultimamente já não eram tão notícia. Mas consultei os dados agora e acontecem e acontecem com mais frequência do que antes.

A base de dados da Gun Violence Archive indica que desde o início da pandemia a violência com armas aumentou. No ano passado houve 656 tiroteios e, relativamente a este ano, o tiroteio de hoje foi o número 385.

quarta-feira, 4 de setembro de 2024

Dois meses e dois dias

A dois meses e dois dias das eleições, ainda não é muito visível que estamos em campanha. Como esta é a terceira campanha de Trump, deve haver alguma saturação, pois já se sabe que ele diz palermices e poucos já ligam. Vi hoje uma notícia em que ele disse que as escolas faziam operações para os miúdos mudarem de sexo. É irrelevante. Quem acredita em tal coisa não tem os filhos na escola; em vez disso educam-nos em casa. Não é tanto o que acontece que me surpreende. Estou curiosa para saber por onde anda a família de Trump. A Ivanka, o Jared, e a Melania não têm aparecido; mesmo o DJT Jr. anda murchinho.

Do lado azul, tem se falado da Kamala e do Tim terem a mesma idade, mas ele parecer muito mais velho do que ela. A meu ver, ele precisava de uma dietazinha; mas é saudável ver-se um homem a ser julgado pelo seu aspecto físico, dado que esse é o pão nosso a que se sujeitam as mulheres. O Steven Moore, um antiquário inglês, conhecido como o David Attenborough das chávenas, acha que os homens se deviam vestir de forma mais colorida, como antigamente. Isso seria o ideal para Walz, toda a gente iria falar dele.

terça-feira, 3 de setembro de 2024

Sugestões

Há dias, a revista The Atlantic publicou uma peça de opinião do HR McMaster, onde ele explicou a inovação da Administração Trump ao tratar a China como um adversário, em vez de parceiro. "Explicou" nem é de todo o tom usado, mas não me vem à cabeça uma boa tradução para a expressão que me ocorre "wax lyrical".

A tese é que Trump corrigiu várias políticas que o McMaster considera insensatas. A política da China ser vista como um parceiro social já vem da década de 70, logo subentende-se que McMaster acha que a política dos presidentes desde então, tanto Republicanos, como Democratas, estava errada.

Vindo de um militar de carreira, é natural que lhe seja mais fácil ver inimigos do que amigos: se todas as nações fossem amiguinhas, não haveria necessidade de haver forças militares. No entanto, a Constituição prevê que a máquina militar esteja sob a alçada do Presidente e o poder de declarar guerra caiba ao Congresso, ou seja, a ideia dos Founding Fathers é que a máquina militar é subserviente ao poder civil. O McMaster andou lá às voltas a tentar explicar que isto da mudança de atitude para com a China foi ideia do Trump, mas era uma ideia que ele próprio já tinha há bastante tempo. Ou seja, penso que o mais provável é ele ter sugestionado o Trump.

segunda-feira, 2 de setembro de 2024

August 30

Dear J.,

I hope you are doing well, now that the summer is almost over. When my alarm clock comes on at 6 AM, it is still almost dark and the morning feels crisp. Last week, I was in West Texas to visit the cotton crop. I think we, my coworker and I, drove to 16 or 17 counties, but my hotel was in Lubbock. I stayed at an Embassy Suites that had an indoor garden, which I really enjoyed; I knew about it from the previous time I had been to Lubbock. However, I did not sleep very well, since the bedroom was a bit chilly, even though I had the temperature set to 76º F as I do at home.

The other reason for my lack of enthusiasm for being there was my coworker. He sometimes asks personal questions like my age or in which party I vote. He is a Republican and says he does not like Trump, but he voted for Trump against Hillary and did not vote when Trump ran against Biden. He did not say whether he would vote in this election, but indicated that he does not like Kamala because she did nothing, especially on immigration after going to Latin America. Funny enough he did mention that he liked Trump’s policies, but wishes he would keep his mouth shut. He failed to recognize that Kamala did not have executive power to decide what to do on immigration policy and, I am afraid that, at the time, I also failed to remind him of that and the fact that immigration policy was at the heart of Trump’s presidency and, if that had been solved by him, then there would be no reason for Kamala to visit Latin America. Instead, I just had a little ranting episode about how we needed a woman president because woman are 50% of the population and should be represented in the higher office. Of course, it is true, but my tone of voice and impassioned speech did not help my or Kamala’s cause.

With the trip preventing me from doing my normal work, I ended up having to work during the weekend, which was probably just as well, so that I could keep my mind occupied, while I continued to fume about misogynistic men. Then, on Monday evening, as I was getting ready to go buy some food for my dog, my car would not start. Seconds after, I happened to get a message from one of my neighbors across the street and took the opportunity to lament my car situation. He immediately came over with his wife to check on my car. While we were looking at what could be wrong with it, we spoke about putting out flags to decorate the neighborhood for Labor Day, which I did not recall us doing—-not all holidays get a neighborhood decoration. Then he mentioned that if Trump won, we’d be decorating the neighborhood. I asked about Kamala winning, which would be an historical event, and he said “That bitch! I want to retire one day…” I was so shocked at what he said, plus upset at my impassioned rant when I was with my coworker, which had absolutely no persuasive value, that, this time, all I could think to say was to advise him to watch it, since Memphis is two-thirds Democrat, so it would look bad if anyone heard him in the neighborhood.

All last and this weeks I have been feeling strange, like I am on edge, and I think it has to do with all these Trump supporters. I actually know very few people who were promptly as happy as I was that Kamala was the candidate. The media is extremely pro-Kamala, but I still remember eight years ago thinking that there was no way Hillary could lose and, yet, she did. So now I am drowning my enthusiasm for Kamala and, instead, inviting dread to live rent-free in my head. I hope I have not made you more worried. I am planning on taking a meditation practice more seriously, so that I can stop being overly dramatic.

Have there been any good news in our old neighborhood?

I love you dearly,

Rita