O primeiro perfil pertence a Janet Yellen, economista com uma carreira notável, até
dentro da Federal Reserve. É casada com um das mentes mais brilhantes da
academia económica do século XX, George Akerlof. O segundo nome
que se perfilha como sério candidato é o de Larry Summers. Macroeconomista de topo, naturalmente,
mas que, adicionalmente, foi reitor daquela que talvez seja a melhor universidade
do mundo: a Universidade de Harvard. É sobre esta faceta que queria falar.
Enquanto reitor
de Harvard, entre 2001 e 2006, Summers foi autor de algumas declarações
polémicas que acabaram por levar à sua demissão. A mais famosa foi a sua
explicação sobre a sub-representação feminina nos lugares de topo nas
universidades.* Summers também terá dito que, regra geral, os economistas são mais inteligentes do que os cientistas políticos que, por sua vez, são mais inteligentes do que os sociólogos.
Em 2004, para
fazer face a um programa de expansão muito ambicioso, Harvard pediu uma série
de empréstimos de longo prazo. No entanto, como economista prudente que é, Larry Summers resolveu precaver-se contra eventuais subidas da taxa de juro. Com empréstimos de alguns milhares de milhões de dólares, uma subida das taxas seria catastrófica. Por isso, Larry Summers contratou uns swaps, fixando a taxa de juro que, originariamente, era variável.
Como em 2004 as taxas de juro estavam a níveis
historicamente baixos, a prudência aconselhava a que de facto fizessem uns swaps. A decisão revelou-se certeira, dado que logo a seguir as taxas de juro subiram a pique.
O resto da história é conhecido. Em finais de 2007, com a crise financeira, as taxas de juro caíram para níveis ainda mais baixos e assim se mantêm
até hoje — e se espera que se mantenham por mais uns bons anos. Assim, os contratos revelaram-se financeiramente péssimos, com os empréstimos a saírem muito mais caros do que seriam se se tivesse mantido a taxa de juro variável. Harvard para se ver livre destes contratos, a que hoje chamaríamos tóxicos, teve
de pagar aos bancos cerca de mil milhões de dólares no ano de 2009.
Pensava eu que o que classificaria um swap como "tóxico" seria mais a complexidade/incomprensabilidade das condições e o facto de não estarem a servir para hedging do risco, mas sim para outra coisa qualquer (no caso português, desorcamentação, diminuindo as taxas a pagar no curto prazo em troca de aumentos possivelmente brutais no médio/longo prazo). Pelo que é afirmado, as Swaps do Summers cobriam explicitamente o risco contratado - e, já agora, terão sido resolvidos em tempo útil.
ResponderEliminarSe bem que de facto, o que caracteriza um "toxic asset" é de facto ter um valor negativo e não ser possível desfazer-se dele por não existirem compradores, pelo que de facto o termo "swap tóxico" se adequará a ambos os casos (o americano e o português)
ResponderEliminarUma coisa que não percebo muito bem nesta história dos swaps - mas não há bancos que ofereçam empréstimos a taxa fixa? Pelo menos quando comprei a minha casa apresentaram-me essa opção.
ResponderEliminarÀ partida, dá-me a ideia de que contratar um empréstimo a taxa fixa ficaria ligeiramente mais barato (e seria mais simples) do que contratar um a taxa variável e depois usar os swaps para o "transformar" em taxa fixa (digo que ficaria mais barato por ter menos custos de intermediação).
Eu tenho um empréstimo assim, com taxa fixa a 30 anos. Na verdade, a operação que o Banco fez foi o de fazer um empréstimo a taxa variável e depois o próprio Banco fez um swap a 30 anos no mercado. Ou seja, o próprio banco cobriu o seu risco com um swap.
EliminarCobriu? O Luís pensa que cobriu, mas pode não ter acontecido assim e o seu Banco estar e perder, no negócio que fez consigo.
EliminarO "certo", parece-me a mim, era o Banco ter captado recursos a taxa fixa abaixo da que lhe concedeu, e por igual prazo.
Mas como isso não aconteceu, a Banca Portuguesa está demasiado exposta a essas operações, parece-me. O que constitui um grave problema.