É evidente que João Miguel Tavares tem bastante razão no que diz (apesar de confundir o significado norte-americano de liberal — esquerdista — com o significado europeu de liberal).
Mas escrevo para deixar uma nota pessoal. Uma vez fui surpreendido com uma desse género. Não me chamaram super-hiper-mega-über-liberal, mas chamaram-me ordoliberal. Nem sabia o que isso era, mas recorro à definição que encontrei na wikipédia.
Pondo de parte os detalhes históricos, que obviamente não se me aplicam, e várias alegações sobre as suas implicações, com que não concordo, a verdade é que o âmago da definição se me aplica que nem uma luva. Passo a citar:
O ordoliberalismo enfatiza a necessidade de um Estado que garanta que os mercados livres produzam resultados próximos do seu óptimo teórico. (Tradução minha)
O óptimo teórico que os mercados livres devem, supostamente, atingir está condensado nos dois teoremas fundamentais de Bem-Estar. O primeiro teorema diz-nos que um equilíbrio competitivo gera sempre um óptimo de Pareto. E o segundo teorema diz-nos que qualquer óptimo de Pareto pode ser alcançado via mercado competitivos, desde que haja uma estrutura fiscal de redistribuição de rendimento adequada. Para mim, o ser-se de esquerda ou de direita está condensado no óptimo de Pareto que se pretende. Tanto pode ser um mais igualitário (e a igualdade total é, também, um óptimo de Pareto) como um em que não há qualquer acção redistributiva do Estado.
Bem, a seguir teria de explicar o que é um óptimo de Pareto, mas penso que por agora chega, senão nunca mais acabo.
A questão é que de facto existem também muitas soluções admissíveis que não são óptimas de Pareto, e portanto podem ser melhoradas.
ResponderEliminarJá a questão de "mercados competitivos" é difícil de garantir em abstracto. Muitas das soluções (frequentemente incorrectamente) apontadas como liberais vão no princípio de remover a presença do estado da economia, muito mais do que aumentar a competição.
E já agora uma provocação: é conhecido que soluções óptimas de Pareto podem não ser as melhores soluções em termos estruturais, uma vez que podem ser pouco robustas a choques no sistema. Uma solução não óptima mas robusta pode fornecer ao longo do tempo melhores resultados do que uma solução óptima mas "brittle".
ResponderEliminarUm exemplo que podemos encontrar facilmente: na procura de eficiência nas organizações, frequentemente eliminam-se aquilo que é considerado "desperdícios", cuja importância só é reconhecida quando são necessários em situações de crise.