Ao contrário do que alguns parecem pensar, implodir um grande edifício exige muito cuidado e um planeamento meticuloso e caso a caso. Pequenos detalhes fazem toda a diferença e dois edifícios aparentemente iguais podem reagir de forma muito diferente à mesma disposição de explosivos.
Por mais cuidadoso e meticuloso que seja o planeamento, há sempre o risco da pegada da implosão ir muito além do perímetro do edifício. Milhares de toneladas de metal pedra e cimento em queda são sempre imprevisíveis. Por isso, o perímetro de segurança tem de ir muito além do perímetro do edifício.
Enfim, isto tudo para dizer que implodir o Ministério da Educação até pode ser um programa aceitável para um governo. Mas é para ser feito com planeamento pormenorizado e com um plano adequado para todas as contingências. Entregar a coordenação dessa implosão a um incendiário só pode dar merda.
Leio este seu apontamento e não posso discordar mas posso perguntar: Foram incendiários todos os ministros da Educação desde Abril de 74? Pergunto, porque, ou também me enganei nas contas, ou desde 74 até agora a permanência média do ministro da educação no posto pouco excede 1 ano, e Crato já lá está há mais de três.
ResponderEliminarPeço desculpa pela auto citação mas em Setembro de 2011 anotei no meu caderno de apontamentos :
"O Ministério da Educação é um triturador de ministros. Durante a Primeira República - 1913/1926 -, houve 53 nomeações, incluindo algumas reconduções e nomeações interinas, ou seja uma rotação ministerial por trimestre. Entre 1926/1932 (ditadura militar) houve, doze, ou seja uma rotação por semestre. Durante a ditadura / Estado Novo - 1932/1974, houve onze, uma rotação de cerca de 3,5 anos. Desde 1974 até hoje houve 33, incluindo algumas reconduções, mais 4 nomeados para um novo ministério, do ensino superior, desde 2002 até Julho deste ano, quando tomou posse o actual Governo, o que conduz a uma média de uma rotação por ano (nomeação ou recondução)."
Salvo melhor opinião, há uma causa para uma tão elevada eficiência da trituradora: a excessiva centralização do ministério. Do Ministro dependem, de facto, directamente centenas de milhares de profissionais. É uma estrutura em pente. Ingovernável, portanto.
Não se trata de implodir o edifício mas de o desmantelar. Planeadamente? Com certeza.
Mas não demoradamente. Porque, enquanto não forem descentalizadas várias funções, entre as quais a colocação de professores mas também as promoções, as provas (nacionais porquê?), cada erro tem "repercussão nacional" e o Ministro fica frito. Como no Ministério são hábeis (ou talvez sejam outra coisa) a errar (é raro o exame nacional que não contenha erros ou duplas interpretações) não há Ministro que resista aos inteligentes do ministério e aos líderes dos sindicatos. Qualquer Nogueira derruba em três tempos qualquer Crato.
Decididamente não embarco na ideia de que quando Crato for substituido o ministério passe a ser governado de forma geralmente aceitável se o governo em pente do ministério se mantiver.
Porque a causa do descalabro não é Crato.
A estatística de 74 até agora, parece-me ter pouca relevância. Estaria mais interessado numa estatística desde 87 até agora.
ResponderEliminarDe qualquer forma, penso que os ministros mais relevantes para estas comparações, por terem sido os mais marcantes, serão o Roberto Carneiro, o Marçal Grilo e a Maria de Lurdes Rodrigues. Nenhum dos outros teve muito tempo. A comparação não é favorável a Crato, naturalmente.
Quanto àquilo que defende, não me parece que discordemos. Por isso mesmo escrevi que "implodir o Ministério da Educação até pode ser um programa aceitável para um governo". A questão é que se se pretende fazer isto, é necessário escolher alguém muito competente e com uma capacidade política excepcional, precisamente o oposto de Nuno Crato.
Admitamos que sim, que falta a Crato competência e capacidade política que o cargo exige. Também penso, e anotei há muito tempo isso mesmo no meu bloco de notas, que Crato não fez o que devia para escapar à trituradora.
ResponderEliminarQuanto aos antecessores, vejamos, como sugere, quem foram eles desde 1987:
- Roberto Carneiro ... Ago 87/Out 91 ... 38 meses (números aproximados)
- Diamantino Durão .. Out91/Mar 92 ... 6 meses
- Couto dos Santos .. Mar92/Dez 93 ... 21 meses
- M. Ferreira Leite .. Dez 93/Out 95 ... 23 meses
- Marçal Grilo ...Out95/Out 99 .... 48 meses
- Oliveira Martins ..Out 99/Set 00 ... 12 meses
- Santos Silva ... Set 00/Jul 01 .... 11 meses
- Júlio Pedrosa ... Jul 01/Abr 02 ... 9 meses
- David Justino ... Abr 02/Jul 04 ... 27 meses
- M. Carmo Seabra ... Jul 04/Mar 05 .... 9 meses
- M. Lurdes Rodrigues Mar 05/Out 09 ... 58 meses
- Isabel Alçada Out 09/Jul 11 ... 22 meses
- Nuno Crato Jul 11/ Out 14 ... 39 meses até agora
Entretanto, entre Abril de 2002 e Junho de 2011 o ministério desdobrou-se em dois, com a criação do Ministério Ciência e Tecnologia (teve mais dois nomes mas mais ou menos o mesmo âmbito)
Peddro Lynce Abr 02/Out 03 .... 18 meses
Graça Carvalho Out 03/Mar 05 .... 18 meses
Mariano Gago Mar 05/Jun 11 .... 75 meses
Se considerarmos que o Ministério da Ciência e Tecnologia (ou o mesmo com outros nomes) é outra guerra, os recordistas são Marçal Grilo e M. Lurdes Rodrigues. Faltou competência e capacidade política a todos os outros. Em alguns casos, sem dúvida. Noutros, não me parece.
Marçal Grilo foi ministro num tempo politicamente relativamente fácil. M. Lurdes Rodrigues acabou por claudicar no programa de avaliações de professores onde, do meu ponto de vista, também se deixou cair na armadilha do centralismo. Nenhum, até hoje, fez o que devia: estruturar o ministério de modo a descentralizar responsabilidades.
Penso que Roberto Carneiro foi um ministro importante, que acabou por marcar ou definir a ideologia educativa que se seguiu.
EliminarQuanto à Mª de Lurdes Rodrigues, penso que o que ela conseguiu foi muito bom, dentro da ideologia dela, naturalmente, que não passava por implodir com o MinEduc. O Crato até esse legado conseguiu esfrangalhar muito rapidamente.
Este senhor Rui Fonseca não sabe distinguir o inchaço da gordura?
ResponderEliminarO que é que as médias de permanência dos ministros no cargo têm que ver com o Crato?
Ele não foi triturado pela máquina do ME.
Ele quis triturar (fazer implodir) o ME.
Mas como é um pirómano em vez de ser um pirotécnico rebentou-lhe o foguete nas mãos.