Há coisa de um ano, escrevi um artigo para o Público com o título "A Máfia, o tribunal e o multiplicador da despesa orçamental". Entre outras coisas, discutia a dificuldade de estimar o valor dos multiplicadores orçamentais e descrevi a forma engenhosa como uns economistas italianos se tinham valido da luta anti-máfia para calcular esses multiplicadores:
Graças a uma lei anti-Máfia nos anos 90, três economistas italianos conseguiram encontrar uma resposta. De acordo com essa lei, mal a polícia tivesse evidências de que as decisões das câmaras municipais eram controladas, ainda que indirectamente, pela Máfia, o Governo central nomeava comissários externos que ficavam encarregados da gestão municipal. Uma das primeiras medidas era, invariavelmente, o de suspender os fluxos financeiros dedicados a obras e investimentos municipais. Assim, os economistas Giancarlo Corsetti, Saverio Simonelli e Antonio Acconcia identificaram reduções exógenas na despesa municipal, observaram o seu impacto na economia local e, com isso, puderam calcular o valor do multiplicador orçamental. Os valores que encontraram para as províncias italianas situam-se na casa de 1,8, ou seja, mais do dobro do considerado por Gaspar e pela troika para Portugal.
Acabei de reparar que este artigo saiu publicado no número deste mês da American Economic Review. Como argumento de autoridade será impossível encontrar melhor.
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