Foi na Primavera que fui ludibriada em $550 da seguinte forma. Uma das minhas empregadas enviou-me uma mensagem pelo Facebook Messenger a pedir um favor, mas tinha de falar comigo pelo WhatsApp. Fomos para o WhatsApp e pediu-me emprestado $350, que precisava de pagar a um tal de Frank. Eu, como tinha total confiança nela, enviei dinheiro ao Frank.
Depois disse que havia mais um problema e era preciso enviar mais $200. Barafustei, mas enviei porque tinha completa confiança que estava a falar com ela. As transacções foram feitas por Zelle, que é um serviço disponível nas contas a depósito em que transferimos dinheiro para uma pessoa só com o nome e o número de telefone. Aliás, quando inserimos o número de telefone, a aplicação Zelle dentro da app do nosso banco diz que é uma conta legítima e mostra o nome da pessoa que tem a conta.
Chega o problema seguinte, em que me diz que tinha ficado com o Facebook trancado e me pergunta se eu não tinha recebido um SMS do Facebook com um link onde eu podia carregar para destrancar o Facebook dela. Ah, merda, fui enganada e estão a tentar roubar-me a conta de Facebook! Telefonei logo ao meu banco para cancelar as transacções do Zelle e disseram-me que iam abrir uma investigação e que diriam qualquer coisa daí a uma semana.
Passada a tal semana, por email disseram que a queixa tinha sido recusada. Telefonei outra vez e dizem-me que eu devia falar com o comerciante com quem tinha feito a transação. Aí fiquei muito chateada porque não trataram o caso como sendo fraude. Então sugerem-me que eu escreva tudo num documento e envie para o email de investigação de fraude do meu banco para tentar outra vez. Entretanto, falei com a minha empregada e ela diz-me que tinha sido enganada e que várias amigas foram também e ela andava a coleccionar provas. Aproveitei a informação dela e escrevi tudo na minha queixa, incluí fotografias dos écrans de telemóvel, números de telefone que os criminosos estavam a usar, nomes de bancos envolvidos, etc.
O veredicto final do meu banco foi que, como eu tinha autorizado as transações, não podiam fazer nada, e devia falar com as pessoas do Zelle. Fui falar com o Zelle, que na página de Internet diz que levam fraude muito seriamente, mas que se a transacção foi feita pela app do banco, tenho de falar com o banco. Olha que giro, penso eu, acham que eu sou uma bola de futebol para andar a atirar de um lado para o outro.
Logo no início, eu tinha denunciado a conta de Facebook da minha empregada como conta comprometida e a conta do WhatsApp também foi denunciada, para além de ter dito ao meu banco e depois à Zelle que a conta do Frank era fraudulenta. Fui mantendo vigilância e vi que a conta do Frank ainda estava activa no Zelle e o número de telefone ainda está activo no WhatsApp, mas a foto do utilizador mudou várias vezes. Voltei a falar com o meu banco e népia, a Zelle também não fazia nada. Ralho com eles todos porque nem sequer desactivam as contas dos criminosos, logo disse-lhes que ia fazer queixa ao FBI e à secção de Fraude da Federal Trade Commission e fiz.
Estive quase, quase, para ir pessoalmente ao Wells Fargo aqui da terrinha, que era o banco onde o tal de Frank tinha conta e para onde enviei o dinheiro, mas depois não fui. Os criminosos estavam noutra cidade e abriram contas no Wells Fargo lá onde estavam, ogo os daqui podiam fazer pouco e, se calhar, até é bom que este banco não tenha ficado com a minha informação.
Ao fim de algum tempo, a conta do Frank ficou finalmente desactivada e o número do WhatsApp também deixou de funcionar, mas levou mais de um mês para cancelar tudo e nesse período os criminosos devem ter feito mais de $100 mil porque era uma bando de várias pessoas que envolvia vários números de telefone.
Por falar em telefone, esse foi o meu erro. Achei que era mais seguro ter a conversa por escrito em vez de falar ao telefone, logo não telefonei à minha empregada e, como tal, não me apercebi que não era com ela que falava. E coitada dela, perdeu $300, que lhe faziam mais falta do que o que eu perdi e ela ainda se ofereceu para trabalhar de borla até me pagar o dinheiro que eu tinha perdido, mas claro que recusei. É uma pessoa muito boa, por isso é que eu "emprestei" o dinheiro tão facilmente.
No final, talvez tenha sido bom que eu tenha sido ludibriada porque tive a iniciativa de fazer queixa e não descansei até que aquelas contas ficassem desactivadas. E mesmo o meu banco começou a meter muitos mais avisos quando usamos o Zelle depois de eu os chatear, mas eu disse-lhes logo que pela forma como tinham agido era quase certo que iam acabar processados em tribunal.
Tenho alguma simpatia pelos bancos porque isto é muito complexo e envolve muitas empresas: vários bancos, a Zelle, a Meta (Facebook e WhatsApp), mas já deviam ter arranjado um protocolo de segurança. Se não o fazem voluntariamente, acabam por se sujeitar a multas e a processos em tribunal.
Muito interessante e pedagógico este seu postal.
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