quarta-feira, 1 de março de 2023

Comparações

Diziam-me no outro dia que não fazia sentido comparar os EUA com Portugal porque eram realidades completamente diferentes. Não me posso considerar uma especialista em português, até porque já saí de Portugal há 25 anos e já aí não vou há quase cinco, logo a língua materna sofre, mas não me parece que faça sentido comparar coisas iguais, logo uma comparação é, por definição, algo que se faz a coisas diferentes. Depois, há também o outro lado da coisa e que é o de não haver realidades iguais, logo todas as realidades são diferentes, algumas mais do que outras.

Tenho andado a pensar nisto porque calhou ver vários portugueses a pedir informações acerca de como emigrar para os EUA e outros tantos já nos EUA a responder. Enquanto que os que querem sair têm uma certa preocupação com as condições climáticas e querem um sítio de clima ameno, os que já saíram aconselhavam sítios em que os impostos eram baixos, quer dizer, estados onde não havia imposto estadual sobre o rendimento, dado que imposto federal há em todo o lado. Achei o contraste bastante interessante.

A propósito da comparação de países, tenho empregados domésticos novos. As duas senhoras que antes cá trabalhavam casaram-se e uma até está grávida. Esta deixou de fazer limpezas por causa do bebé, e a outra decidiu apenas organizar as limpezas e também ajuda o marido que tem uma companhia de ar condicionados, se percebi bem. Então os empregados novos é um casal, ele e ela e são mesmo casados. Vieram da Colômbia no ano passado e trabalham para a outra senhora que cá costumava vir, que também é de lá. Nenhum dos três fala inglês.

Na Colômbia, este casal trabalhava para um governo local, mas mudou o partido no poder e eles foram despedidos. Para se ter um bom emprego, tem de se pertencer ao partido certo, disseram-me, o que me recordou de uma amiga portuguesa que, há dias, me dizia que foi a entrevistas de emprego em Portugal em que lhe perguntaram de que partido era. Fiquei chocada, é uma coisa que eu pensei já não se fazia em Portugal depois da Revolução. Afinal, mudaram-se os tempos, mas não as vontades.

Hoje perguntei aos empregados novos se gostavam de estar nos EUA e disseram-me que sim, que havia muitas oportunidades, o que não deixo de pensar ser irónico. A senhora andou na universidade e estudou Administração, mas o que a apaixona mesmo é contabilidade e trabalhar em Excel: gosta muito de tabelas dinâmicas, contou-me ela, que deve ser o que nós em inglês chamamos de "pivot tables" em Excel. Agora que penso nisso, se ela tivesse computador, podia aprender a usar o Tableau. Tenho de lhe dizer; pode ser que um dia lhe sirva de alguma coisa.

Descreveram-me o que era viver na Colômbia, para além de ser preciso ser do partido certo, há cunhas e subornos. Ah, percebi, é como Portugal. A grande diferença é que é mais violento do que Portugal. Os colombianos têm ideia que os europeus são todos muito civilizados e bem comportados, mas tive de lhes dizer que o sul da Europa é bastante diferente do norte. No sul também há cunhas, favores, corrupção, etc. É parecido com a América Latina, que, por alguma razão, fala espanhol e português.

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