Tudo indica que o Partido Popular (PP) ganhe as eleições legislativas em Espanha com maioria absoluta. À terceira tentativa, o cinzentão Mariano Rajoy vai finalmente concretizar o sonho de ser Presidente do Governo de Espanha.
Todavia, prefiro, neste momento, falar sobre os oito anos de governação de José Luis Rodríguez Zapatero.
Zapatero ganhou as eleições na sequência do atentado terrorista em Madrid em 11 de Março de 2004. O poder caiu-lhe literalmente em cima. Inesperadamente. Uma das suas primeiras medidas foi retirar o contingente militar espanhol do Iraque. De uma assentada deu cabo da parceria estratégica de Aznar com a administração americana. O princípio não era nada auspicioso.
Entretanto, as coisas começaram a compor-se e a popularidade de Zapatero a subir. Isto deveu-se a três factores fundamentais. Primeiro, a economia. Até 2007, a economia cresceu de forma vigorosa. Até rebentar a crise internacional em 2008, a nona economia do mundo transpirava optimismo e dinheiro. Para isso contribuiu, sem dúvida, no primeiro mandato, o experiente Ministro das Finanças Pedro Solbes, que se encarregou de manter as finanças públicas em ordem. Sobretudo, contou o declarado amor de Zapatero pela economia de mercado e a iniciativa privada, que ele considerava quase sagradas. Ainda antes de rebentar a crise, já Zapatero havia liberalizado o mercado de trabalho tornando os despedimentos mais fáceis.
Segundo, mexeu nas autonomias das comunidades, algo que não acontecia desde a sua formação com a Constituição de 1978. A Catalunha ganhou um novo estatuto onde aparece mencionado o termo “nação” mas que trava a auto-determinação e deixa isolados os independentistas.
Terceiro, a “modernização” da sociedade espanhola. Os casamentos de homossexuais e a sua adopção de crianças. O fim de uma série de privilégios da igreja, nomeadamente no ensino. Por fim, a polémica “Lei de reconhecimento e extensão dos direitos das vítimas da guerra civil e da ditadura”.
Com esta estratégia, não mexer na economia e apostar nas chamadas questões “fracturantes”, Zapatero empurrou Rajoy e o PP para a direita fazendo-lhe perder o decisivo centro. E, segundo alguns estudos, 18% dos espanhóis consideram-se liberais. A oscilação deste grupo é que decide as eleições e Zapatero soube conquistá-lo. Esta estratégia garantiu-lhe a reeleição em 2008.
Infelizmente, não há bela sem senão. A economia afinal não estava tão vigorosa como parecia. Crédito barato, um boom na construção civil e consumo doméstico eram os motores da economia espanhola e não o investimento. A construção, que representava até há bem pouco tempo 16% do PIB e 12% do emprego, cresceu muito devido à chegada constante de imigrantes – mais de 3 milhões – e aos milhares e milhares de pensionistas alemães, franceses e ingleses que escolhem o sul de Espanha para viver. O elevado défice externo também não augurava nada de bom.
Todavia, prefiro, neste momento, falar sobre os oito anos de governação de José Luis Rodríguez Zapatero.
Zapatero ganhou as eleições na sequência do atentado terrorista em Madrid em 11 de Março de 2004. O poder caiu-lhe literalmente em cima. Inesperadamente. Uma das suas primeiras medidas foi retirar o contingente militar espanhol do Iraque. De uma assentada deu cabo da parceria estratégica de Aznar com a administração americana. O princípio não era nada auspicioso.
Entretanto, as coisas começaram a compor-se e a popularidade de Zapatero a subir. Isto deveu-se a três factores fundamentais. Primeiro, a economia. Até 2007, a economia cresceu de forma vigorosa. Até rebentar a crise internacional em 2008, a nona economia do mundo transpirava optimismo e dinheiro. Para isso contribuiu, sem dúvida, no primeiro mandato, o experiente Ministro das Finanças Pedro Solbes, que se encarregou de manter as finanças públicas em ordem. Sobretudo, contou o declarado amor de Zapatero pela economia de mercado e a iniciativa privada, que ele considerava quase sagradas. Ainda antes de rebentar a crise, já Zapatero havia liberalizado o mercado de trabalho tornando os despedimentos mais fáceis.
Segundo, mexeu nas autonomias das comunidades, algo que não acontecia desde a sua formação com a Constituição de 1978. A Catalunha ganhou um novo estatuto onde aparece mencionado o termo “nação” mas que trava a auto-determinação e deixa isolados os independentistas.
Terceiro, a “modernização” da sociedade espanhola. Os casamentos de homossexuais e a sua adopção de crianças. O fim de uma série de privilégios da igreja, nomeadamente no ensino. Por fim, a polémica “Lei de reconhecimento e extensão dos direitos das vítimas da guerra civil e da ditadura”.
Com esta estratégia, não mexer na economia e apostar nas chamadas questões “fracturantes”, Zapatero empurrou Rajoy e o PP para a direita fazendo-lhe perder o decisivo centro. E, segundo alguns estudos, 18% dos espanhóis consideram-se liberais. A oscilação deste grupo é que decide as eleições e Zapatero soube conquistá-lo. Esta estratégia garantiu-lhe a reeleição em 2008.
Infelizmente, não há bela sem senão. A economia afinal não estava tão vigorosa como parecia. Crédito barato, um boom na construção civil e consumo doméstico eram os motores da economia espanhola e não o investimento. A construção, que representava até há bem pouco tempo 16% do PIB e 12% do emprego, cresceu muito devido à chegada constante de imigrantes – mais de 3 milhões – e aos milhares e milhares de pensionistas alemães, franceses e ingleses que escolhem o sul de Espanha para viver. O elevado défice externo também não augurava nada de bom.
Com o rebentar da crise internacional, as debilidades da economia espanhola ficaram à vista de todos.
Zapatero em 12 de Maio de 2010 anunciou um corte de 5% nos salários na função pública – em Portugal, Sócrates faria o mesmo apenas a 29 de Setembro. Aumentou a idade de reforma para 67 anos. Foi imposto um limite constitucional à dívida pública. Desgraçadamente, o desemprego disparou, rondando agora os 22%.
É possível que daqui a uns anos Zapatero seja visto como o Gerhard Schröder espanhol: o homem de um partido de esquerda que fez as reformas difíceis no início da década passada que preparam a Alemanha. Entretanto, o PSOE, à semelhança do SPD alemão, afundar-se-á eleitoralmente.
Mas também é possível que Zapatero venha a ser recordado como o homem que, inadvertidamente, despertou velhos demónios que se pensava estarem há muito enterrados e que ninguém queria voltar a ver. As suas políticas “fracturantes” podem ter dividido e fracturado a Espanha.
A Espanha de hoje tem muitas semelhanças com a de 1936, nas vésperas da guerra civil e de centenas de milhares de mortos. De uma lado, uma Espanha anticlerical, federalista e “progressista”; do outro, uma Espanha conservadora, centralizadora e profundamente católica.
Zapatero em 12 de Maio de 2010 anunciou um corte de 5% nos salários na função pública – em Portugal, Sócrates faria o mesmo apenas a 29 de Setembro. Aumentou a idade de reforma para 67 anos. Foi imposto um limite constitucional à dívida pública. Desgraçadamente, o desemprego disparou, rondando agora os 22%.
É possível que daqui a uns anos Zapatero seja visto como o Gerhard Schröder espanhol: o homem de um partido de esquerda que fez as reformas difíceis no início da década passada que preparam a Alemanha. Entretanto, o PSOE, à semelhança do SPD alemão, afundar-se-á eleitoralmente.
Mas também é possível que Zapatero venha a ser recordado como o homem que, inadvertidamente, despertou velhos demónios que se pensava estarem há muito enterrados e que ninguém queria voltar a ver. As suas políticas “fracturantes” podem ter dividido e fracturado a Espanha.
A Espanha de hoje tem muitas semelhanças com a de 1936, nas vésperas da guerra civil e de centenas de milhares de mortos. De uma lado, uma Espanha anticlerical, federalista e “progressista”; do outro, uma Espanha conservadora, centralizadora e profundamente católica.
Nao me vou debrucar demasiado sobre a analise da historia recente que mereceria reparos, falta-me no entanto o conhecimento de facto para isso. Realco apenas o ensurdecedor silencio com que se tenta ignorar o elefante nesta sala: o Euro e a sua nefasta influencia em toda esta triste historia que tambem e nossa.
ResponderEliminarQuanto a Espanha em 1936, concordo muito, alias nao e so Espanha: a Grecia esta instavel e a Italia se se enfiar por esta via suicidaria da austeridade moralista tambem revelara a curto prazo os demonios internos que sempre carregou.
Mas mais importante e reconhecer que Portugal esta no ponto de 1926: as elites economicas rentistas re-instaladas, a imprensa controlada pelas supra-ditas, as forcas civicas que nunca chegaram a ser verdadeiramente fortes de novo amarradas com legislacao neo-liberal, o exercito inquieto, a bancarrota ao virar da esquina... esta no ponto, repare que ate ja um ministro das financas "extremamente competente" e pouco dado a discussoes por ai anda.
Conconcordo consigo. Há,de facto, semelhanças inquietantes. A História às vezes repete-se, só mudam os actores, o cenário e os figurantes.
ResponderEliminarA principal diferença, diria, é que, apesar de tudo, a nossa democracia parece mais estável e consolidada do que nos anos 20 do séc XX.
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