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domingo, 24 de março de 2013
Falsidades transformadas em dogmas
Duas falsidades (ou factos não verificados) transformadas em dogmas: a recente geração é a mais qualificada de sempre - confundindo-se percentagem de canudos com conhecimento; as mulheres, para as mesmas funções, ganham menos do que os homens. Este autor refere-se ao caso espanhol, mas o caso português não deve ser muito diferente.
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De que autor falas tu?
ResponderEliminarÉ o tipo (que não conheço) que escreveu o artigo que está linkado: Rafael Cerro Onda. Tens conhecimento de estudos empíricos que confirmem (ou desmintam) aqueles dois "dogmas" para o caso português?
ResponderEliminarJá vi o link. Eu pensava que o autor ia apresentar algo que lhe permitisse negar dezenas, se não mesmo centenas, de estudos que comprovam aquilo a que ele chama dogmas. Afinal não.
ResponderEliminarE o que ele diz sobre os salários das mulheres é, pura e simplesmente, mentira. Depois de controlares para as qualificações, para o posto de trabalho, para os anos de trabalho, para a região, enfim, para tudo o quer te lembres, os homens têm um prémio salarial de cerca de 15% em relação às mulheres. Um dia que venhas cá visitar-nos terei todo o gosto em te levar às bases de dados com os "quadros de pessoal" onde poderás comprovar isto mesmo.
PS Uma vez estive a ver com o Miguel essa base de dados com algum detalhe. A única excepção que encontrámos foi para os ginecologistas. Em concreto para essa profissão, as mulheres ganhavam um pouco mais do que os homens.
Quanto ao primeiro dogma, de esta ser a geração mais bem preparada de sempre, apenas conheço anecdotal evidence. Como o facto de virem da Alemanha contratar engenheiros a Portugal, ou de Inglaterra à busca de enhfermeiros, para não falar nas centenas de académicos espalhados pelo mundo. Penso que isto há uns 20, 30 ou 40 anos não se passava. Mas não conheço nenhum estudo empírico que meça essas diferenças, não.
ResponderEliminarObrigado pelo teu esclarecimento. Mas esse tal Rafael Onda refere um estudo, ou um levantamento, do Ministério de Trabalho espanhol de 2011 em 445 empresas, tendo sido detectados apenas 3 casos de injustiça. Essa diferença salarial (15%) que referes entre homens e mulheres em Portugal é, portanto, para situações em que ambos executam exactamente o mesmo tipo de funções e cargos e trabalham o mesmo número de horas, certo? De qualquer maneira, presumo que te referes apenas ao sector privado, ou no sector público também há prémios salariais?
ResponderEliminarEu não consideraria uma inspecção feita pelo direcção geral do trabalho, ou lá como se chama isso em Espanha, um estudo, e muito menos evidência académica. Até porque não sei o que estavam os senhores a inspeccionar, nem quais os critérios deles. O mais provável é que estivessem a zelar o cumprimento da lei, dificilmente terão competências para mais do que isso.
EliminarQuanto ao que me perguntas no fim, sim, é apenas para o sector privado. Os quadros de pessoal não incluem dados sobre o público. Mas no sector público, dado que (quase) todos os salários são tabelados não é discriminação para as mesmas categorias. Um prof associado no 2º escalão ganha o mesmo quer seja homem ou mulher e quer trabalhe na Covilhã ou em Lisboa. Questão diferente seria saber se há discriminação nas promoções. Mas sobre isso, nada sei.
A questão é, porque é que uma empresa tende a dar um salário mais elevado a um homem?
ResponderEliminarPara os trabalhos que exigem esforço físico isso é evidente, para os outros não é.
Mas pergunto, entre esses muitos fatores controlaram que falta mais? E controlaram prémios de produtividade?
O simples facto dos homens terem, regra geral, mais resistência física, acaba por se traduzir em ganhos de produtividade mesmo nos trabalhos que são essencialmente "mentais".
Para além disso está amplamente demonstrada que para idênticos níveis de instrução formal os homens têm mais instrução, mais capacidades não formais. As jovens concentram-se mais nos cursos, para igual classificação, igual instrução, o que acontece quase sempre é que eles têm mais conhecimentos extra-curriculares que elas. E isso também pode interessar às empresas.
xyz
"Para além disso está amplamente demonstrada que para idênticos níveis de instrução formal os homens têm mais instrução, mais capacidades não formais."
EliminarIsso é muito interessante. Pode-me indicar algum link? (não tem de ser para nenhum estudo formal, apenas para poder explorar essa hipótese)
Eu sou um físico teórico, leio estas coisas por uma questão de cultura geral, mas não guardo links sobre este tipo de assuntos.
EliminarTalvez tenha sido um nº qualquer da scientific american, mas não posso garantir. No entanto é fácil explorar isto mesmo num grupo pequeno, basta indagar meia dúzia de pessoas numa universidade que normalmente isto torna-se rapidamente evidente.
Também li na scientific american (e isto tenha a certeza que foi aí) que nos extremo superior das notas de qualificação dos acessos às universidades de topo americanas a proporção de notas entre o sexo masculino e feminino têm-se mantido constante ao longo de décadas, para cada 3 rapazes há 1 rapariga. Parece que no topo dos topos, nos testes QI também é esta a proporção, 3 para 1. Parece que há aqui uma base genética, para além da que referi da resistência física (um ex-reitor de Harvard teve de se demitir por ter dito isto...) A confirmar-se isto, estaria aqui uma das razões profundas da reduzida presença de mulheres em cargos de topo na sociedade. A confirmar-se... como disse não sou especialista destes assuntos...
xyz
Esse ex-reitor é um famoso macroeconomista, Larry Summers. :)
EliminarUma vez também li um paper que, basicamente, concluía que em média as raparigas e rapazes tinham resultados similares num qualquer teste de inteligência. Mas, e esse era o resultado interessante, os rapazes apresentavam uma variância muito maior, o que é compatível com o que acabou de escrever sobre o topo dos topos.
O Larry Summers também ficou famoso por um comentário sobre sociólogos, cientistas políticos e economistas. Segundo ele, economistas eram mais inteligentes que cientistas políticas que, por sua vez, eram mais inteligentes que sociólogos:
Eliminar"Over lunch not long after Summers took over the presidency in 2001, Ellison said, Summers suggested that some funds should be moved from a sociology program to the Kennedy School, home to many economists and political scientists. ‘’President Summers asked me, didn’t I agree that, in general, economists are smarter than political scientists, and political scientists are smarter than sociologists?” Ellison said. ‘’To which I laughed nervously and didn’t reply.”" -- http://themonkeycage.org/2008/11/29/are_political_scientists_stupi/
Voltando o primeiro dogma. Luís, dizes que conheces apenas a anedoctal evidence, dos académicos portugueses no estrangeiro, dos engenheiros portugueses na Alemanha, etc. e isto não se passava há uns anos. Muito bem. Admito que os melhores de hoje (estamos a falar, talvez, de 10%) até estão mais bem preparados que os de há 30 ou 40 anos, embora essa análise diacrónica seja sempre complicada: estamos a comparar realidades e épocas diferentes, com necessidades diferentes, conhecimentos diferentes, etc.. Podia também dar muitos exemplos de anedoctal evidence que mostram o contrário, nomeadamente respostas dadas por alunos, dos vários níveis de ensino, em exames, etc. Mas, para o efeito, parece.me mais útil fazer comparações com as crianças e jovens estrangeiros. E aí há muitos estudos (o PISA, por exemplo) que nos põem sistematicamente na cauda, apesar de até termos melhorado nos últimos 4 ou 5 anos ao nível da matemática. Ou seja, o nosso nível médio não é famoso
ResponderEliminar"E aí há muitos estudos (o PISA, por exemplo) que nos põem sistematicamente na cauda, apesar de até termos melhorado nos últimos 4 ou 5 anos ao nível da matemática."
EliminarO problema é que estes estudos não existiam antes, pelo que não temos termos de comparação. Do que não há dúvidas é que os níveis de escolaridade são muito mais elevados agora, do que eram há alguns anos. Há muito menos analfabetos do que há uns anos. Assim, eu diria que o ónus da prova está do lado de quem contesta que as gerações são mais qualificadas do que as anteriores.
PS Diga-se de passagem que me parece que se mitifica imenso a qualidade de ensino de há umas décadas. Em tempos estava a conversar com uma sexagenária sobre esse assunto. E dizia-me a senhora que na primária dela teve de decorar todas as estações de caminho-de-ferro e todas as minas de Portugal. E dava-me isso como exemplo da excelência do ensino desse tempo -- as coisas que ela sabia e que os jovens de hoje ignoram... Eu não só não consigo considerar esse tipo de conhecimento excelente como me questiono quantas dessas estações e dessas minas ainda estarão abertas.
Há outra categoria, para além dos ginecologistas, onde as mulheres ganham mais do que os homens - tudo o que tenha a ver com o mercado de sexo. A diferença de salários está bem documentada no mundo da pornografia, por exemplo. E é interessante notar que não são só os economistas que se têm intrigado com a discrepância salarial entre homens e mulheres. Há vários biólogos que também estudaram o tema, e concluiram que uma boa parte do diferencial não tem que ver com discriminação mas com maior "bargaining effort" por parte dos homens, que valorizam mais um salário superior.
ResponderEliminarAcerca das supostas qualificações das gerações mais velhas: eu acho que o apontamento do LA-C faz todo o sentido ("Eu não só não consigo considerar esse tipo de conhecimento excelente como me questiono quantas dessas estações e dessas minas ainda estarão abertas"). Hoje em dia, saber os rios de fio a pavio não tem grande importância, porque essa informação está facilmente disponível numa consulta da wikipedia. Num mundo em que o tempo é finito, faz todo o sentido que os miúdos percam menos tempo a decorar os rios do que a aprender a manipular correctamente os instrumentos que permtiem aceder a essa informação de forma rápida e simples.
O facto de as críticas que cada geração faz aos conhecimentos da geração mais nova não serem coisa nova (já o Platão dizia coisas engraçadas acerca dos jovens que lhe calharam em sorte) sugere que estas resultam de um facto transversal a todas. E este facto não é a degradação inexorável da inteligência ao longo do tempo, mas sim uma alteração do leque de conhecimentos que é relevante, em cada momento, para a resolução de problemas.
Mas neste caso concreto nem me parece que estejamos mesmo só a falar de anecdotal evidence: http://en.wikipedia.org/wiki/Flynn_effect
"Há outra categoria, para além dos ginecologistas, onde as mulheres ganham mais do que os homens - tudo o que tenha a ver com o mercado de sexo. A diferença de salários está bem documentada no mundo da pornografia, por exemplo."
EliminarPriscila, ou eu me engano muito ou nos quadros de pessoal do Ministério do Emprego essas profissões não estão representadas. Mas não tenho dúvidas de que tens razão.
O ponto é que não me parece legítimo fazer comparações, em termos de qualificações, entre épocas diferentes. Concordo com o Rafael Cerro quando diz “ni se puede comparar la sabiduría de unas épocas con la de otras.”. Apesar disso, insistimos em alimentar ese chavão de que temos “a geração mais qualificada de sempre”, quando as estatísticas que mais interessam para o caso - as que nos comparam em termos internacionais - nos dizem que não estamos lá muito bem.
ResponderEliminarJá agora, aproveito para dizer que ainda não estou completamente convencido em relação ao segundo dogma. A questão que se deve colocar, como disse o nosso leitor no seu comentario, é: por que motivo as empresas pagam mais aos homens do que às mulheres para as mesmas funções e cargos? Quais são os outros factores tidos em conta pelas empresas além das qualificações académicas? A produtividade é a mesma, as mulheres trabalham o mesmo número de horas? Ou seja, estamos a comparar realmente bananas com bananas ou bananas com laranjas? As estatísticas conseguem captar todos estes factores? Penso que só depois de esclarecermos este tipo de questões é que poderemos falar, ou não, de situações de preconceito e discriminação.
Eu diria que comparar qualificações entre épocas diferentes é perfeitamente fácil e legítimo: compara-se graus académicos, anos de escolaridade, número de licenciaturas, de doutoramentos, etc., etc.
EliminarO que é mais difícil é passar do grau de qualificações para o grau de inteligência, assumindo implicitamente que a segunda depende unicamente da primeira. (Em todo o caso, veja o link do Flynn Effect)
Mas acho que quem diz que esta é a geração mais qualificada de sempre não está a pensar nestes termos; está, pura e simplesmente, a dizer o que o termo expressa: que esta é a geração com mais graus académicos, mais anos de estudo, mais licenciaturas e doutoramento.
Eu concordo com a Priscila.
Eliminar"A questão que se deve colocar, como disse o nosso leitor no seu comentario, é: por que motivo as empresas pagam mais aos homens do que às mulheres para as mesmas funções e cargos?"
ResponderEliminarMas se achas que deve ser esta a pergunta a fazer, então é porque concordas que os homens são mais bem pagos do que as mulheres. Ora, foi esse ponto de partida que tu negaste no teu 'post' inicial.
Eu não sei se pagam ou não, quer dizer, parto(agora)do princípio que sim tendo em conta as estatísticas que apresentaste. Reformulando: as estatísticas que apresentas captam ou não aquele tipo de factores que podem condicionar também os salários? Produtividade, horas de trabalho, qualificações não formais, etc.?
ResponderEliminarComo certamente imaginas, quaisquer estudos econométricos apenas podem incluir o que é mensurável. Horas de trabalho, sim, inclui-se. Níveis formais de educação também. Agora, motivação interior, capacidade negocial, qualificações não formais, etc, com certeza que não podem ser incluídas num estudo econométrico. Mas, e nisso penso que concordarás comigo, se com base no que é mensurável se conclui que as mulheres ganham menos. O ónus da prova recai sobre quem argumenta que quer homens quer mulheres são pagos de acordo com a sua produtividade.
EliminarHá um texto (em Word) de Bryan Caplan onde este argumenta a favor do uso dos traços psicológicos (usando modelos que os tornam mensuráveis) na teoria económica e apresenta isso como uma possivel explicação para as diferenças de rendimento e profissões entre homens e mulheres
Eliminarhttp://www.gmu.edu/departments/economics/bcaplan/bsmb2.doc (páginas 15-18)
A explicação concreta que ele dá parece-me um bocado fraquinha (poderá explicar porque homens e mulheres têm diferentes profissões, mas não as diferenças salariais entre homens e mulheres na mesma profissão)
Uma ideia que me ocorre é que, se assumirmos que as mulheres são, à partida, mais aplicadas, confiáveis, etc. que os homens, a teoria do "salário de eficiência" não implicará que este seja mais elevado para os homens do que para as mulheres?
ResponderEliminarMas duvido que esta teoria fosse testável...
Obrigado Miguel pela sugestão de leitura.
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