No primeiro Domingo de Maio de 2004, dia consagrado a
todas as Mães, Paulo Portas foi de abalada, num avião da Força Aérea
Portuguesa, à Ilha do Corvo. A televisão, como é uso nestes momentos
assinalados, e avisada de antemão para dar a ideia de espontaneidade, lá
estava, com câmaras e holofotes, para captar uma cena romanticamente fúnebre e
difundi-la, na hora nobre do noticiário para o país inteiro. Era então Primeiro-Ministro
o Doutor Durão Barroso, também em vésperas de dar o seu gritinho de Ipiranga
para a União Europeia, onde ainda se mantém já sem pedra e sem cal. Paulo
Portas ocupava o Ministério da Defesa, com a tutela das Forças Armadas. Só se
não entende a razão por que, em vez de um avião, não utilizou um dos seus
famosos submarinos, ainda com alguns problemazitos para serem resolvidos pela
Justiça. As gentes da Ilha do Corvo ficariam deslumbradas, como se fosse o dia
de São Vapor! Como católico fervoroso e de missa quase diária, Paulo Portas
tencionava resolver o grave problema dos ex-combatentes da Guerra Colonial,
maltratados por uma pátria que nunca os reconheceu, abandonando-os à sua sorte
macaca. Vai daí, o Ministro da Defesa do Reino de Portugal dirigiu-se ao cemitério
de Vila Nova do Corvo acompanhado de uma viúva, mãe de um filho que,
ingloriamente, tombara numas das três frentes de batalha acesas em outros
tantos territórios ditos ultramarinos. A televisão focou em grande plano o
político ufano e a pobre viúva junto à campa do soldado morto em combate. Perante
tão sagaz como ardilosa encenação, a mulherzinha chorava convulsivamente,
como se o filho tivesse acabado de ser devolvido à terra de onde proveio. Mas,
Paulo Portas, o católico indefectível, tinha na manga o seu colossal truque,
semelhante aos impostos da Gasparina figura das Finanças, e puxou-o no ápice da
farsa trágico-cómica: “A partir de agora, a senhora, e todos os outros
ex-combatentes vivos, irão receber uma pensão vitalícia por ter o seu filho
dado denodadamente a vida pela nossa tão amada pátria que tais ditosos filhos
teve… Este Governo quer ressarcir todos quantos deram o melhor da sua juventude
à pátria que os deu à luz (eu prefiro pariu…)”
Choro redobrado daquela Mãe crédula nas palavras tão políticas de um senhor ainda
mais bem bem-falante e tão exteriormente condoído. No dia da Mãe de 2004. Que
grande velhacaria… Afinal, a pensão vitalícia redundou nuns míseros 150 (cento
e cinquenta) euros por ano, fora os descontos e o tempo de permanência em
combate… A minha ficou-se pelos 137 euros. O vitalício transmudou-se em um só
ano (um
só), como é hábito de Paulo Portas; o irrevogável transforma-se, num
abrir e fechar de olhos, em revogável, como a pensão vitalícia para os
ex-combatentes. De regresso, o Ministro da Defesa deu boleia a um carteiro
deputado ou deputado carteiro do seu inefável partido, que, em Angra, realizava
o seu congresso ou comício, tanto faz. E o dia da Mãe acabou em missa a grande
instrumental: uma reunião místico / partidária, nimbada de fé e grande
entusiasmo. A conta da despesa da viagem foi enviada aos contribuintes… Mário
Soares tem carradas de razão quando hoje disse numa entrevista: a maior parte
deste Governo é formada por delinquentes, e a estes, digo agora eu, só se
lhes pode apresentar um caminho possível… Não o nomeio, mas para bom entendedor…
Fiquei espantado por ter o Correio dos Açores, na coluna de altos e baixos,
colocado Passos Coelho em primeiro lugar dos altos… A que mais havemos de
assistir!
Antes de concluir, não posso deixar de transcrever
um poema de José Orlando Bretão, já falecido, amigo e companheiro de Coimbra,
que foi meu contemporâneo na Guiné:
Esperávamos em silêncio
mastigando a memória das
coisas
e a Morte claramente apercebida
aguardava o seu quinhão
Pensávamos:
— “Cada coice de Mauser no ombro
é uma carícia da Pátria agradecida”………………….
Puta de Pátria que agradece aos coices.
A frase era do movimento nacional feminino, encontrei-a escrita em Ganjola na parede da caserna: "Soldado cada coice da tua arma é um agradecimento da tua pátria". Por baixo acrescentámos : Raios partam a pátria que agradece aos coices.
ResponderEliminarmário