segunda-feira, 14 de outubro de 2013

O CATÓLICO PAULO PORTAS E A GUERRA COLONIAL (1)

Por Cristóvão de Aguiar

No primeiro Domingo de Maio de 2004, dia consagrado a todas as Mães, Paulo Portas foi de abalada, num avião da Força Aérea Portuguesa, à Ilha do Corvo. A televisão, como é uso nestes momentos assinalados, e avisada de antemão para dar a ideia de espontaneidade, lá estava, com câmaras e holofotes, para captar uma cena romanticamente fúnebre e difundi-la, na hora nobre do noticiário  para o país inteiro. Era então Primeiro-Ministro o Doutor Durão Barroso, também em vésperas de dar o seu gritinho de Ipi­ranga para a União Europeia, onde ainda se mantém já sem pedra e sem cal. Paulo Portas ocupava o Ministério da Defesa, com a tutela das Forças Armadas. Só se não entende a razão por que, em vez de um avião, não utilizou um dos seus famosos submarinos, ainda com alguns problemazitos para serem resolvidos pela Justiça. As gentes da Ilha do Corvo ficariam deslumbradas, como se fosse o dia de São Vapor! Como católico fervoroso e de missa quase diá­ria, Paulo Portas tencionava resolver o grave problema dos ex-combatentes da Guerra Colonial, maltra­tados por uma pátria que nunca os reconheceu, abandonando-os à sua sorte macaca. Vai daí, o Ministro da Defesa do Reino de Por­tugal dirigiu-se ao cemitério de Vila Nova do Corvo acompanhado de uma viúva, mãe de um filho que, ingloriamente, tombara numas das três frentes de batalha acesas em outros tantos territórios ditos ultramarinos. A televisão focou em grande plano o político ufano e a pobre viúva junto à campa do soldado morto em combate. Pe­rante tão sagaz como ar­dilosa encena­ção, a mulherzinha chorava convulsiva­mente, como se o filho ti­vesse acabado de ser devolvido à terra de onde proveio. Mas, Paulo Portas, o católico inde­fectível, tinha na manga o seu colossal truque, semelhante aos impostos da Gasparina figura das Finanças, e puxou-o no ápice da farsa trágico-cómica: “A partir de agora, a senhora, e todos os outros ex-combatentes vivos, irão re­ceber uma pen­são vitalícia por ter o seu filho dado denodadamente a vida pela nossa tão amada pátria que tais ditosos filhos teve… Este Governo quer ressarcir todos quantos deram o melhor da sua juventude à pátria que os deu à luz (eu prefiro pariu…)” Choro re­do­brado daquela Mãe crédula nas palavras tão políticas de um se­nhor ainda mais bem bem-falante e tão exteriormente condo­ído. No dia da Mãe de 2004. Que grande velhacaria… Afinal, a pensão vitalícia redundou nuns míseros 150 (cento e cinquenta) euros por ano, fora os descontos e o tempo de permanência em combate… A minha ficou-se pelos 137 euros. O vitalício transmudou-se em um só ano (um só), como é hábito de Paulo Portas; o irrevogável trans­forma-se, num abrir e fechar de olhos, em revogável, como a pen­são vitalícia para os ex-combatentes. De regresso, o Ministro da Defesa deu boleia a um carteiro deputado ou deputado carteiro do seu inefável partido, que, em Angra, realizava o seu congresso ou comício, tanto faz. E o dia da Mãe acabou em missa a grande ins­trumental: uma reunião místico / partidária, nimbada de fé e grande entusiasmo. A conta da despesa da viagem foi enviada aos contri­buintes… Mário Soares tem carradas de razão quando hoje disse numa entrevista: a maior parte deste Governo é formada por delin­quen­tes, e a estes, digo agora eu, só se lhes pode apresentar um caminho possível… Não o nomeio, mas para bom entende­dor… Fiquei espantado por ter o Correio dos Açores, na coluna de altos e baixos, colocado Passos Coelho em primeiro lugar dos al­tos… A que mais havemos de assistir!
Antes de concluir, não posso deixar de transcrever um poema de José Orlando Bretão, já falecido, amigo e companheiro de Coim­bra, que foi meu contemporâneo na Guiné: 

Esperávamos em silên­cio
mastigando a memória das coi­sas
e a Morte claramente aperce­bida
aguar­dava o seu quinhão

Pen­sávamos: 
— “Cada coice de Mauser no ombro
é uma carícia da Pátria agrade­cida”………………….
Puta de Pátria que agra­dece aos coi­ces.

1 comentário:

  1. A frase era do movimento nacional feminino, encontrei-a escrita em Ganjola na parede da caserna: "Soldado cada coice da tua arma é um agradecimento da tua pátria". Por baixo acrescentámos : Raios partam a pátria que agradece aos coices.
    mário

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