Considero razoavelmente óbvio que os quadros de Miró devem ser vendidos. Não consigo conceber o contrário e até agora não ouvi um argumento minimamente convincente contra a sua venda.
Mas, de um ponto de vista puramente negocial, faz algum sentido inundar o mercado com mais de 80 quadros do mesmo pintor? Por muito difícil que seja perceber a valorização de certos quadros e de certos pintores, a lei da oferta e da procura também se aplica a este mercado. Inundar o mercado com 80 quadros do mesmo pintor é a melhor forma de garantir a sua desvalorização, não? Ou estou a ver mal?
Não fazia muito mais sentido leiloar uns 10 quadros e ir emprestando os outros a diversas galerias por esse mundo fora, Londres, Nova Iorque, etc, e ir vendendo com calma? E enquanto não se vendiam os Mirós, não se podia ter uns quantos em exposição em alguma galeria de arte em Portugal? Punha-se uma etiqueta com o preço para que quem quisesse fazer o obséquio de os comprar o poder fazer.
Ou seja, acho muito bem que se vendam os quadros, mas inundar o mercado com 80 quadros de Miró é mesmo a melhor estratégia?
Adenda: Vale a pena ler os comentários a esta entrada do Fonseca Rodrigo e do Fonseca Rui.
Adenda: Vale a pena ler os comentários a esta entrada do Fonseca Rodrigo e do Fonseca Rui.
Tive a mesma dúvida; o que li, segundo a leiloeira, é que esta é para eles a melhor estratégia, por causa da divulgação, e porque muitos dos quadros são de valor menor (os mais valiosos fazem de âncora para a venda dos quadros de menor valor); entendem eles que um leilão desta importância mobiliza os compradores e atrai a sua atenção, algo que não ocorreria se fossem vendidos os quadros "às pinguinhas". Admito que a Christie's queira ganhar dinheiro (e ganha em função do valor do martelo), pelo que me parece razoável pensar que se fosse mais valioso ir vendendo, a leiloeira preferiria executar a alienação desta forma (não consta que a Christie's tenha necessidade de destruir valor à pressa, ou fazer baixar os quadros de Miró no mercado internacional, prejudicando futuros negócios).
ResponderEliminarConvém ainda recordar que a Christie's é a maior leiloeira mundial, dificilmente encontras maiores "especialistas na arte de negociar arte". Acresce que eles vendem Mirós com regularidade, são os menos interessados em que os preços de Mirós desçam nos mercados internacionais, seria como matar a galinha dos ovos de ouro. Tem mais interesse a Christie's na salvaguarda do preço de Mirós que o Estado Português, que está a fazer uma venda "one shot". Não te esqueças que a Christie's tem uma reputação a defender, tem clientes que já lá compraram e venderam Mirós e outros quadros, no dia em que no mercado ficar a sensação que a Christie's não salvaguarda o valor intangível dos activos que transacciona, os gajos estão tramados.
Estimado Luís,
ResponderEliminarTambém considero que não seria razoável que Portugal comprasse neste momento os 80 Mirós.
E digo "comprasse" porque é disso mesmo que se trata. Se aparecessem neste momento no mercado aqueles 80 Mirós pertencentes a um japonês, por exemplo, a SEC iria ao mercado cobrir todos os lances para comprar o conjunto? Obviamente, não iria.
Então deve vendê-los.
E deve vendê-los em conjunto ou em separado, como sugere?
É uma questão que me suscitou uma reflexão que passo a expor:
A lei da oferta e da procura, como recorda, determinará uma redução do preço global no caso da venda por atacado, vis-a-vis a venda peça a peça, ou em lotes de, por exemplo 10 unidades, partindo do princípio que não há factores exógenos influentes, por exemplo, a subida ou queda da tendência dos preços no mercado global da arte.
No entanto, como o conjunto é formado por obras com valores de mercado muito díspares, para além das telas há muitos quadros em papel, desenhos, etc., a venda em separado, se por um lado poderia
aumentar o valor final ilíquido, o valor líquido poderia ser inferior em consequência dos custos de transacção, nomeadamente de transportes, seguros e ... comissões da leiloeira ou das leiloeiras.
E depois, se assim o assunto já é a confusão que se vê, se fosse multiplicado por várias vias imagine-se o que seria.
Quando coloquei o meu comentário, desconhecia o do Fonseca Rodrigo, que se restringe à hipótese dos quadros serem vendidos numa mesma sessão ou em sessões diferentes da Cristie´s. Concordo totalmente com o que ele diz.
ResponderEliminarQuando comentei, peguei, no entanto, na hipótese colocada pelo Luís: de a venda ser realizada em pequenos lotes (10 por exemplo) em momentos diferentes e em locais diferentes. Apontando, no fim de contas, para a solução da venda como previsto.
Cristóvão de Aguiar
ResponderEliminarEstou ferozmente contra o que se tem dito e escrito a favor da alienação dos quadros de Miró e de tudo quanto pertença ao património imaterial de uma nação. Dá ideia de que tais iluminados pensadores pouco ou nenhuma sensibilidade possuem quanto ao fenómeno cultural e só lhes interessa o lucro que dele poderá eventualmente advir. É triste ver um país em boca de venda! Tapar um buraco financeiro com os quadros de Miró é o mesmo que querer vazar o mar inteiro numa covinha feita na areia da praia. Mas, se o que tem de ser tem muita força, leiloemos então outros bens mais lucrativos, capazes de tapar todas as buraqueiras que se têm vindo a abrir no chão já tão roto deste país. E dou exemplos: A Sé Velha de Coimbra, os Jerónimos, a Torre de Belém, a Biblioteca Joanina, a Sé de Braga, os ossos e os túmulos dos mais antigos Reis de Portugal, a Custódia de Belém, os Painéis de São Vicente, de Nuno Gonçalves, que sei eu! Os americanos, podeis ter a certeza, compravam tudo a peso de dólar. Como povo recente e ávido de possuir uma dimensão histórica que não tem, dava-lhe grande jeito, por isso abriria sem olhar a preço os cordões à bolsa e levavam tudo, pedra sobre pedra, osso sobre osso, e montaria tudo, rigorosamente, no chão do seu God’s Country… E sem pagarmos transporte… Poder-se-ia, ao contrário dos quadros de Miró, que só a retalho teriam mais-valia, vender por grosso, que o lucro seria maior e talvez ficássemos desendividados e limpinhos…
Cristóvão de Aguiar
Caríssimo Cristovão Aguiar,
ResponderEliminarEu, que nada iluminado me creio, que sempre vivi na dúvida, e já vivi mais ou menos os mesmos anos que o Cristovão, não vejo razoabilidade na compra de 85 Mirós pelo Estado português (porque é disso que se trata) que são parte dos salvados do astronómico roubo cometido por uma súcia que continua impune.
E não vejo razoabilidade, além do mais, porque estando o país na situação financeira que conhecemos e sofremos (não cabe neste comentário apontar culpados e coniventes) não foi possível manter na "Casa das Histórias" a colecção inicialmente prevista de quadros de Paula Rego. Uma colecção que mereceu o investimento de um projecto emblemático de Souto Moura e que hoje alberga a parte menor daquilo que estava pensado e, suponho, contratado até. Se não temos fôlego para manter na "Casa das Histórias" uma colecção da artista portuguesa mais distinguida internacionalmente, a que título vamos investir dezenas de milhões em obras do pintor catalão?
Imagine, caríssimo Cristóvão, que a diarreia mental do vigarista Costa, quando se banhava, ele e os comparsas, em rios de dinheiro alheio, não se tinha limitado aos 85 Mirós, mas tinha arrematado no mesmo lance 32 Picassos, 86 Dalis, 39 Pollocks, 23 Damien Hirst, e mais uns quantos de igual ou maior grandeza, investindo 300 milhões, 500 milhões (escolha o Cristovão um número sff). Compravam-se todos? Ou só os Mirós?
Se este conjunto de 85 Mirós aparecesse no mercado à venda, deveria o Estado português licitar e cobrir o maior lance para o trazer para Portugal? É diferente? Porquê?
Se tiver curiosidade e pachorra qb, convido-o a ler e criticar o que escrevi aqui
http://aliastu.blogspot.pt/2014/02/mirologia-ou-loucura-colectiva.html
Quanto à comparação deste caso de eventual compra de Mirós com a eventual alienação de património (esse sim) genuinamente português, não a entendo de modo algum.
Cristóvão de Aguiar
ResponderEliminarQue compra? Então o Estado português ia comprar quadros que lhe pertencem? O problema é querer reduzir tudo a um cifrão. A chamada cultura do cifrão! Nunca estive para aí virado, e não tenho nenhuma consideração intelectual por quem assim pauta o seu pensamento (?).Tenho outros valores que não o dinheiro, dinheiro, mais-valias e outras porcarias... Reparou na insanidade mental do Secretário da Cultura e do seu chefe? Ah, grande gente que está ao leme deste País! Uma cambada de meninada que nem sabe quantos Cantos tem os Lusíadas e espezinham o que de melhor temos: a Língua e a Cultura. Se o Miró não é português, é pelo menos universal. Não lhe basta isto? Então, vendamos todos os artistas não portugueses que andam pelos museus portugueses.
Cristóvão de Aguiar
Parece impossível que certas pessoas, com boa formação académica, não entendam que Portugal não está a vender os quadros do Miró, mas tão-somente a tentar reduzir o prejuízo que a nacionalização do BPN acarretou, uma vez que os quadros fazem parte do “espólio” que aquele Banco deixou, a par de um enorme buraco financeiros, que parece não ter fundo. E que, a transferência dos quadros para a propriedade do Estado, corresponde à assunção de uma despesa superior a 35 milhões de euros, ou seja, uma despesa muito maior do que a que Portugal despende, por ano, com o funcionamento de todos os museus dependentes do ministério da cultura, incluindo aquisições de obras de arte.
ResponderEliminarEsta gente parece não saber o valor do dinheiro, não reparando que 35 milhões de euros correspondem a 35.000 euros, vezes 1.000, ou seja, muito mais do que 70.000 salários mínimos!
Tiro no Pé:
ResponderEliminarE a quanto monta o buraco do BPN? Por acaso pode informar-me? Pode também informar-me qual a percentagem de alívio que o dinheiro proveniente dos quadros dará a tal dívida do tal Banco que foi traficado por elementos do PSD? Agradeço uma resposta convincente... Antes de terminar, também gostava de saber se V. Ex.ª me inclui no ciclo de "Esta gente"? Quanto às contas que apresenta, não pense que fico de boca aberta de tanta sabedoria aritmética. Apesar da minha formação em humanidades, sou também capaz de fazer contas sem utilizar máquinas de calcular. Com os meus respeitosos cumprimentos, insisto mais uma vez em dizer que os seus argumentos são puros lugares-comuns, iguais àqueles que qualquer aldeão utilizaria.
Cristóvão de Aguiar
O que o Aguiar quer é conversa, mas tem que bater a outra porta - hoje estou sem paciência para aturar provocadores.
EliminarO Cristovão Aguiar tem toda a razão. Se o argumento invocado é o de que os quadros vão custar dinheiro ao Estado pois vieram para às suas mãos por via da nacionalização do BPN, então o que é relevante determinar é quanto é que, em percentagem do valor do resgate do BPN, estes Mirós custam.
EliminarEm seguida, convinha produzir uma análise cuidada no sentido de averiguar se estes Mirós não serão um activo que se poderá valorizar e/ou se existem outras formas de os fazer render (ver citação em baixo e seguir o link), em vez de os vender ao desbarato.
Tirado do blogue Declínio e Queda:
De referir também que o espólio do museu Miró em Barcelona ronda, se a memória não me trai, cerca de duzentas obras. Quantos turistas atrairia uma exibição permanente de 80 e tal obras do pintor em Portugal? Será que isso valeria mais de trinta milhões de euros? Onde estão os cálculos certamente elaborados pelos gestores criteriosos que hoje nos iluminam? Ninguém quer saber.
http://declinioqueda.wordpress.com/2014/02/06/o-que-falta-recordar-pedro/
Cristóvão de Aguiar
EliminarSe não viu, tenta arranjar maneira de ver e ouvir a Quadratura do Círculo de hoje. Abra os ouvidos e ouça o que disse Pacheco Pereira sobre este caso insólito dos quadros de Miró. Talvez aprenda alguma coisinha! Quanto a ser provocador, V. é que sabe. Provocar, por vezes, é ter o interlocutor em boa consideração. A propósito, tem mesmo porta aonde se bater?
Cristóvão de Aguiar
Estou enternecido. Falam dos quadros Miró como se a arte fosse camisas. Não percebem que se Portugal quisesse comprar 85 quadros eles nao apareciam no mercado? Agora que o temos, era estupidez nao ficar com eles. Estes quadros sao igual a dinheiro, que ainda por cima valoriza.
ResponderEliminarEstou enternecido. Falam dos quadros Miró como se a arte fosse camisas. Não percebem que se Portugal quisesse comprar 85 quadros eles nao apareciam no mercado? Agora que o temos, era estupidez nao ficar com eles. Estes quadros sao igual a dinheiro, que ainda por cima valoriza.
ResponderEliminarSr. Cristóvão de Aguiar estou de acordo com tudo o que escreveu. Mas, não esqueçamos que 35 milhões dão para 70.000 salários mínimos ou, ainda, ao valor do trabalho em Portugal podem dar para 140.000 postos de trabalho, ou, ainda, se metidos dentro de um pote aí só dará para meia dúzia de "lapas", que é para isso que tudo aponta. Ou não será? Não nos preocupemos com o nosso património, passado ou presente, pois como diz uma amiga minha Portugal não tem futuro. Quase nada ou muito pouco temos de nosso. EDP, REN, Caixa Seguros, CTT, etc. De seguida as Águas, os Miró e aguardo com esperança que não se esqueçam do Palácio de Belém.
ResponderEliminarCumprimentos
D'Albano
Sr. Albano:
EliminarO seu argumento é muito pouco convincente e de certo modo primário. Faz lembrar os intervenientes da opinião pública da SIC. Como por exemplo: o dinheiro que gastamos com os deputados dava para dar de comer aos pobrezinhos deste país... Os milhões que valem os quadros são um bom investimento. A arte é um dos mais seguros investimentos. Os Bancos lá sabem...
Cristóvão de Aguiar
Bem, este banco em concreto não sabia lá muito bem. Se soubesse não teria ido à falência.
Eliminar:) :)
Sr. Cristóvão de Aguiar possivelmente não entendeu o meu escrito. Meter os 35 milhões num pote para os mesmos de sempre não é justo. Sobre o meu modo primário nasci com ele, mas não me confunda com a SIC.
ResponderEliminarCumprimentos
D'Albano