A emissão de dívida a
5,1% é uma boa notícia. Conseguimos regressar aos mercados nas maturidades mais longas a taxas
razoáveis. Todavia devia ser motivo de alerta e não de euforia.
Sem entrar em grandes detalhes
matemáticos, o que verdadeiramente conta para a sustentabilidade da dívida não
é a taxa de juro de per si. O que
conta é a diferença entre a taxa de juro e a taxa de crescimento do PIB nominal
(que por sua vez é a taxa de crescimento real mais a taxa de inflação). Se nos
próximos anos as taxas de inflação continuarem tão baixas como actualmente e as taxas de
crescimento real do PIB andarem na casa dos 0,5%, isso quer dizer que a taxa de
crescimento nominal andará pelos 1%.
Uma taxa de juro média de 5%
implica que, a não ser que tenhamos superavits
razoáveis, o rácio da dívida continuará a crescer. E o que são superavits razoáveis? Correspondendo a
dívida a cerca de 130% do PIB, o saldo orçamental primário devia estar na casa
dos 130*(5%-1%). Ou seja, necessitamos de um saldo orçamental primário correspondente a cerca de 5,2% do PIB. Nós estamos tão longe desse valor que
qualquer euforia é ainda mais deslocada do que a actual euforia dos benfiquistas ― que
parecem ter-se esquecido das vantagens que perderam nos últimos dois
campeonatos.
Claro que podemos ser
mais optimistas e considerar que o BCE vai conseguir manter a inflação a 2% e
que o PIB vai crescer nos próximos tempos a taxas superiores. Mas, neste
momento, é mais prudente ser pessimista.
Não me ponho para aqui a
defender um programa cautelar porque isso nem sequer faz sentido. Só sabendo o
preço a pagar por esse programa é que se pode saber se vale a pena ou não. Esperemos
que esse programa esteja já a ser negociado para não ser
apanhados de calças na mão, como em 2011.
Adenda: O João Miranda argumenta que o que conta é a taxa média e esta tenderá a ser inferior à taxa das OTs a 10 anos. Infelizmente, também é verdade que quanto menor a maturidade dos empréstimos, maiores o riscos associados a possíveis subidas de taxa de juro. Se para o ano as taxas de juro subirem para 20%, as nossas OTs a 10 anos não serão afectadas, mas quando renovarmos a divida que vence dentro de um ano, veremos a taxa de juro a disparar. Assim, não é óbvio que devamos olhar para a taxa média e não para a OT a 10. Aliás, se fosse tão simples assim, os governos limitar-se-iam a emitir dívida a um ano e nem pensariam nos 10. Ainda há mais detalhes que se poderiam acrescentar a esta análise mas não pretendia que isto fosse demasiado técnico.
Adenda: O João Miranda argumenta que o que conta é a taxa média e esta tenderá a ser inferior à taxa das OTs a 10 anos. Infelizmente, também é verdade que quanto menor a maturidade dos empréstimos, maiores o riscos associados a possíveis subidas de taxa de juro. Se para o ano as taxas de juro subirem para 20%, as nossas OTs a 10 anos não serão afectadas, mas quando renovarmos a divida que vence dentro de um ano, veremos a taxa de juro a disparar. Assim, não é óbvio que devamos olhar para a taxa média e não para a OT a 10. Aliás, se fosse tão simples assim, os governos limitar-se-iam a emitir dívida a um ano e nem pensariam nos 10. Ainda há mais detalhes que se poderiam acrescentar a esta análise mas não pretendia que isto fosse demasiado técnico.
Caro LA-C,
ResponderEliminarEssa é uma coisa que eu (ainda) não consegui perceber no debate político que existe sobre a situação do País / Troika. Entre um Governo que (em maior ou menor grau) enbadeira em arco quando consegue défices abaixo do acordado com a Troika (mas ainda assim bastante acima do "zero") e uma oposição que acha que estando abaixo da meta quer dizer que se pode "estourar" dinheiro até à meta, ninguém fala do verdadeiro problema: a contínua (mais ou menos acelerada) subida da dívida pública.
Na prática, a conclusão é que se as condições macro se mantiverem a dívida é impagável!
ResponderEliminarÉ por isso que as taxas de juro que pagamos ainda têm um prémio de risco tão elevado. O facto de não ser muito mais elevado sugere que os mercados acreditam que as condições macro se vão modificar.
EliminarUma saída cautelar não tem apenas a ver com o "custo" da opção (natural subida dos juros da dívida), também tem "proveitos", como seja o de "obrigar" os nossos governos a cortarem (ou pelo menos a não subirem) as despesas do Estado, coisa que, até agora e como sabe, nenhum governo fez.
ResponderEliminarConcordará que este último aspecto é muito importante, apesar de dificilmente mensurável.
Uma saída cautelar não tem apenas a ver com o "custo" da opção (natural subida dos juros da dívida), também tem "proveitos", como seja o de "obrigar" os nossos governos a cortarem (ou pelo menos a não subirem) as despesas do Estado, coisa que, até agora e como sabe, nenhum governo fez.
ResponderEliminarConcordará que este último aspecto é muito importante, apesar de dificilmente mensurável.