Quando digo que não sou feminista, os meu amigos americanos ficam chocados porque me consideram uma grande feminista. Só que o feminismo hoje em dia encalhou num porto em que todas as mulheres devem ser uniformes, com carreiras excitantes, vidas sociais activas, filhos super-inteligentes, parceiros que mudam fraldas, malucas na cama, etc. Eu acho muito cansativo ser tudo isso a toda a hora. O mundo está formatado para os homens e pouquíssimos homens conseguem realizar-se na profissão, na família, e como indivíduos e os que conseguem tiveram uma grande ajuda do factor sorte.
Depois, há outra coisa que me chateia, querer que toda a gente seja boa a tudo dificulta-me a vida. Uma vez tive um colega que trabalhava part-time, mas era o principal responsável pelos filhos, o que ele adorava. Dava-lhe mais prazer falar de cuidar do cão e da prole do que de falar de coisas do trabalho e era uma seca ter de trabalhar com ele porque atrasava-se nas tarefas, não fazia coisas que devia ter feito, etc. E a conversa matava-me de tédio. Ou seja, acho perfeitamente desejável que algumas pessoas se especializem em cuidados domésticos e puericultura, enquanto que os respectivos parceiros têm uma vida profissional fora de casa. Desde que o casal esteja de acordo na definição das responsabilidade, devemos apoiar e respeitar a diversidade de papeis.
Quando li a peça da Joana Bento Rodrigues no Observador, concordei com 80% do que ela disse, mas achei que foi muito infeliz na forma como argumentou até porque ela não pratica o que prega. É médica, que não é uma profissão fácil, requer um enorme investimento de tempo e dedicação, e não tem ares de ser submissa, à espera que o marido seja o ganha-pão que lhe proporcione uma vida confortável. Aliás, não só anda metida na política, como ainda lhe deu na telha de escrever uma peça para o Observador (o Público era capaz de não a ter publicado). Ainda por cima, tem uma aparência cuidada, até se maquilha, como diz que fazem as mulheres objecto.
Mesmo assim, visto de outro prisma, ela está a dar umas boas dicas às mulheres: filhas, se é para vocês ficarem em casa a tratar dos miúdos, exijam que o marido maximize o que traz para casa. Não se contentem com dois tostões, nem se casem com homens medíocres. Isto é divisão de tarefas, não é facilitar a vida a preguiçosos. E também dá um aviso aos homens: se querem boas mães para os vossos filhos, contribuam para o orçamento familiar.
A verdadeira igualdade só será atingida quando for tão natural uma mulher ficar em casa com os filhos, como um homem, como fazer o outsourcing do serviço, ou como decidir não ter filhos. Todas as escolhas são legítimas, desde que sejam o produto da vontade de cada um. Quanto ao resto, de as mulheres gostarem de se apresentar bonitas, bem vestidas, etc., é verdade. Aliás, quando queremos agradar a uma mulher até é comum comprar-lhe joalharia ou perfume e ela não leva a mal, nem nos corre à vassourada. Mas cá entre nós, se me comprarem uma garrafa de gin, eu prefiro...
Um brinde ás feministas lúcidas.
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