Por minha vez, como tenho uma certa atração por coisas simétricas, gosto de virar a coisa ao contrário e expressar que os portugueses não são lá muito inteligentes. É obviamente uma generalização. Sou frequentemente acusada de usar muitas generalizações, o que é sempre péssimo quando dão mau aspecto aos portugueses, mas muito bem apontadas quando é a propósito dos americanos.
Eu acho os americanos muito malucos, varridos mesmo, basta ver o circo que foi o Trump. Para mim não é muito mau ser maluco; tento ser pelo menos um bocadinho chanfrada, o que até abona a favor de eu ser americana. As minhas generalizações não são tão diferentes das generalizações dos meus conterrâneos portugueses, o que, a meu ver, evidencia que ainda sou muito portuguesa.
Uma das formas de refutar um argumento em Portugal é dizer que generalizações são inválidas, o que por si só é uma generalização e até invalida certas figuras de estilo, como a sinédoque e a hipérbole. Mas nós portugueses contemporâneos estamos em boa companhia porque a questão já era problemática para o Camões, que também cometia o pecado de ser português, de generalizar e exagerar. Aliás, os Lusíadas começam logo mal: "As armas e os barões assinalados, que da ocidental praia lusitana..."
Estas questões são muito divertidas porque imaginemos que Portugal e EUA têm a mesma prevalência de pessoas menos dotadas ou malucas. Dado que há 328 milhões de americanos e 10,2 milhões de portugueses, cada português que encontramos representa mais de 30 americanos. Ora, se eu encontro um programa de TV em que 30 americanos mais um português são ridicularizados, é natural que eu pense que o problema é mais comum nos EUA do que em Portugal, mas não é. E não conseguir discernir o cerne da questão é parte do problema.
https://www.publico.pt/2021/01/25/opiniao/opiniao/explicar-andre-ventura-aviso-navegacao-1947784
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