Só existe uma amostra da história humana. Além do mais, as “partículas” desta vasta experiência têm consciência, uma consciência enviesada por toda a espécie de preconceitos cognitivos. Isto significa que o seu comportamento ainda é mais difícil de prever do que se fossem partículas rodopiantes, insensíveis e negligentes. Uma das muitas subtilezas da condição humana é as pessoas terem evoluído para aprenderem de forma quase instintiva com as suas experiencias. Por conseguinte, o seu comportamento é adaptativo, muda com o tempo. Não vagueamos, caminhamos por trilhos e o que encontramos vai determinando a nossa escolha de direção a cada bifurcação.
Sendo assim, o que podem os historiadores fazer? Em primeiro lugar, emulando os cientistas sociais e apoiando-se em dados quantitativos, os historiadores podem estabelecer “leis de cobertura” conforme são definidas por Carl Hempel: afirmações gerais sobre o passado que parecem cobrir a maioria dos casos (por exemplo, quando o poder fica nas mãos de um ditador em vez de um líder democrático aumentam as probabilidades de o país entrar em guerra). Ou então – embora as duas abordagens sejam mutuamente exclusivas -, o historiador pode comunicar com os mortos reconstruindo de forma imaginativa as suas experiencias (…) Estes dois modos de investigação histórica permitem-nos converter as relíquias do passado em história. Um corpo de conhecimento e interpretação que ordena e ilumina retrospectivamente a condição humana. Toda e qualquer afirmação preditiva séria sobre futuros possíveis baseia-se, de forma implícita ou explícita, num desses procedimentos históricos ou em ambos. Caso contrário, vale tanto como um horóscopo de jornal.
Niall Ferguson, Civilização - O Ocidente e os outros
"Sendo assim, o que podem os historiadores fazer? Em primeiro lugar, emulando os cientistas sociais e apoiando-se em dados quantitativos, os historiadores podem estabelecer “leis de cobertura” conforme são definidas por Carl Hempel: afirmações gerais sobre o passado que parecem cobrir a maioria dos casos"
ResponderEliminarO que é que a História (ou as ciências sociais, de forma mais abrangente) têm de especial neste caso? Toda a ciência assenta em utilizar dados quantitativos para criar hipóteses mais gerais que lancem luz sobre os casos concretos através dos quais foram deduzidas. "Países com ditadores entram mais vezes em guerra" não é muito diferente de "barreiras geográficas tendem a originar especiação entre duas populações semelhantes".