“Resta saber o que vai pesar mais para a
generalidade dos eleitores, se as dificuldades do passado ou as melhores
expectativas do presente”, conclui Paulo Ferreira no seu último artigo no "Observador". Ferreira não tem dúvidas de que os eleitores “votam com uma mão a
segurar a caneta e a outra a carteira.” “É a economia, estúpido”, diz o
articulista, relembrando a estafada expressão da campanha de Clinton contra o
Bush pai.
Já aqui escrevi uma vez que este determinismo
económico se transformou na nova sabedoria do senso comum. E os políticos são
os primeiros a acreditar nesta “verdade axiomática”. Não se cumpriram as
profecias de Marx, mas vingou a sua ideia central: é o dinheiro – a economia –
que faz girar o mundo.
Parece simples, não é? Basta analisar os indicadores
económicos para antecipar, com uma grande probabilidade, os resultados
eleitorais. Pois, o problema é que uma pessoa lê o artigo de Paulo Ferreira e
fica na mesma. Afinal, quem é que tem mais probabilidade de ganhar as eleições
tendo por base os tais indicadores? O Paulo Ferreira não faz a mínima ideia. Em
bom rigor, neste momento, ninguém tem a certeza de nada, mesmo estando munido
de todos os indicadores económicos existentes à face da terra. Mas no dia 4 de
outubro à noite muitos comentadores vão com certeza justificar os resultados eleitorais
com base na economia.
Que estranho determinismo económico este, que
só acerta nos resultados depois destes serem conhecidos. O problema é muito
mais complicado do que a leitura deste tipo de artigos leva a supor. Por exemplo, o que é que a economia tem a
ver com a percepção de muita gente que este governo não fez nenhuma “reforma estrutural”
a sério, tendo, no essencial, aumentado impostos e cortado salários e pensões? Que culpa tem a economia da campanha desastrosa de António Costa? Ou dos seus
erros crassos, como a saudação entusiástica da vitória eleitoral do Syrisa (o Bloco de
esquerda lá do sítio) ou o desenterro de dinossauros ideológicos como Ferro
Rodrigues e António Arnaud?
Presumo que estas questões, e muitas outras - que nem sequer passam pela cabeça
dos comentadores e analistas -, vão ter alguma influência nos resultados finais. Nem sempre, ou melhor, muitas vezes a economia não é a variável decisiva das eleições. Na maior parte dos casos, não passa de um dos elos na longa e emaranhada cadeia da motivação
humana.
Daí que pessoas com mais exigência de rigor se escusem a fazer palpites que mais vezes do que menos, nãp batem certos. Veja-se as ultimas da GB.
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