quarta-feira, 5 de abril de 2017

Call for papers 5

 Abstract: Pretendo nesta comunicação encontrar o meu eu.
Não sei o que é, nem onde está. Estão-me vedadas, argumentarei, várias vias, bela aliteração, de busca, ia dizer de caça. Pode caçar-se um eu, mas esta é uma tese que decorre de encontrá-lo e que só desenvolverei depois, ainda que até pudesse desenvolvê-la antes. Não é a primeira vez, nem é por acaso, que alguém aqui, quem, cita Rabelais, pudera ter eu sido, que terá escrito, parto, quem sempre, em busca do grande, quanto, talvez, a melhor, das melhores, palavras. Uma das vias vedadas, continua bela, é ver-me ao espelho. Vejo alguma coisa lá, é certo, mas se é um eu, e se me pertence, já não é. Será um olho um eu ou um par deles, uma boca, um nariz, e sabe-se quanto um nariz não falemos do nariz. E se outro par de olhos aparecesse no espelho, seria meu o par e parte do eu, do meu, tantas são as dificuldades de me olhar ao espelho. A introspecção é igualmente vá, improdutiva. Nunca valeu a ninguém, um eu de outrem dito em forma negativa, olhar para dentro. Diz-se muito que sim, mas encontramos lá somente ter sido feliz ou infeliz, estar a ser feliz ou infeliz, esperar vir a ser feliz ou infeliz, ou seja, memórias, experiências, expectativas. Se isto é um eu, ainda que se dê, não garante que seja meu. Mas mostrarei que nem um eu tem desta maneira comprovada a sua existência, que dizer da sua pertença. Vou ficar-me pela demolição destas duas várias vias vãs, e fá-lo-lei, eu que nem onde nem o que sou sei, aliterando.

1 comentário:

  1. Uma vez que não lhe basta a distinção entre o Self e o Ego, vai sair daí uma "teoria de tudo". Cá estarei para ler os progressos.

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