Ao ler a peça do Pedro Brás Teixeira no Eco, ocorreu-me ir comparar o novo Programa Nacional de Reformas (PNR) com o anterior. O Pedro acha que o novo programa é bastante vago e eu subscrevo a opinião dele, mas achei que havia lá coisas engraçadas.
Note-se a ausência do ano de 2015 na tabela do PNR 2017. O do ano passado começava em 2014, no qual a economia teve um desempenho fraco -- cresceu 0,9%; o desempenho de 2015 foi bem melhor e era intenção do governo actual melhorá-lo ainda mais, só que parece que piorou, logo convém deixar esse ano de fora da tabela, não vá dar a ideia que este governo atrasou a retoma da economia depois de, no ano passado, andar a anunciar aos sete ventos que a retoma tinha retomado apenas quando a Geringonça subiu ao poder.
No PNR do ano passado, estava projectado que a economia crescesse 1,8% em 2016, mas neste momento estima-se que tenha crescido 1,4%, pior do que os 1,6% 2015 (revistos positivamente de 1,5%). Os optimistas dirão que a desaceleração do crescimento foi o preço que se pagou para endireitar o défice, só que a dívida pública em percentagem do PIB agravou-se, indicando que o aumento de dívida pública aumentou muito mais do que o retorno observado no crescimento da economia -- detalhes... Ou será que foi o preço a pagar por uma maior equidade na distribuição dos rendimentos? Veremos se funcionou quando o coeficiente de GINI para 2016 for publicado.
Relativamente à produtividade aparente do trabalho, no PNR de 2016 estava sempre projectada que aumentasse 0,9% ou mais; já no actual PNR, a produtividade cresce 0,5% este ano, mas depois crescerá pelo menos 0,8%, e será sempre a abrir até 1,2% em 2021. Em 2014 diminuiu 0,5%, em 2015 aumentou 0,1%, e em 2016 estima-se que desceu 0,2% (bem pior do que a projecção de 1% do governo, no ano passado). Antes de 2011, era raro a produtividade crescer menos do que 2,3%, logo a que se deve a fraca produtividade de 2016, quando a economia já devia estar em melhor condição do que em 2015?
O deflator do PIB, que se previa ser 2,1% em 2016, só foi 1,4 -- dava jeito um 2,1% no ano passado, é por isso que o 2,1% parecia tão anormal no meio dos outros números. Por falar em dava jeito, dava jeito que os portugueses consumissem menos e investissem mais. As pessoas adiavam o consumo e este deixaria de ser tão importante para o PIB: se os portugueses poupassem mais e guardassem o seu dinheiro em bancos, recapitalizava-se os bancos e estes dariam empréstimos a empresários diligentes -- nunca a trafulhas que escapam à malha da lei --, que fariam investimentos supimpas e o povo luso seria feliz para sempre...
, documento aqui
http://www.portugal.gov.pt/media/27273825/20170413-pe2017-2021.pdf
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