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quarta-feira, 13 de agosto de 2025

Nem tudo está perdido, especialmente na rua

Eis que mês e meio depois de uma grávida em final de gestação ser atendida por cinco hospitais devido a dores e a bebé ter falecido pouco tempo depois de nascer, temos um outro caso em que uma grávida não conseguiu ir ao hospital por falha humana no algoritmo informático, mas teve um parto com sucesso no meio da rua. Concluo que é mais seguro dar à luz na rua, do que ir a cinco hospitais. Isto é uma excelente notícia porque permite ao governo continuar a exploração do surrealismo governativo que se instalou em território lusitano. Por este caminho, se terminar o mandato é sorte porque duvido que consiga ser reeleito.

Claro que estou a ser injusta porque há coisas bastante importantes que tem tratado, como a preocupação do executivo em limitar o tempo que as mães têm acesso a um horário laboral reduzido para que possam amamentar os filhos. Não basta Portugal ter pouquíssimas grávidas, ainda tem a infelicidade de haver umas que têm o hábito de abusar dos seus direitos pós-parto. A Ministra do Trabalho, Solidariedade, e Segurança Social, Maria do Rosário Palma Ramalho, acha que se deve mudar a lei para que não haja abusos porque "acha" difícil de conceber que uma criança seja amamentada depois dos dois anos porque deve comer sopa e outras coisas e não viver só de leite materno. Normalmente, há um processo de fiscalização para encontrar abusos, em vez de se mudar leis para os evitar, mas agora sabemos que não há fiscalização, logo abusem à vontade dos vossos direitos em todas as leis e não se acanhem.

Agora, vocês que me lêem se calhar pensam, espera lá, o governo não tem acesso aos dados de desenvolvimento das crianças e não podia fazer um estudo a ver se realmente vale a pena amamentar depois dos dois anos? Ou podiam arranjar um investigador que fizesse uma revisão de literatura médica ou um estudo de práticas noutros países e depois, mediante os resultados, propunha uma modificação da lei, se necessária? E até podia fazer um estudo a ver se o ter um horário reduzido de trabalho tem efeitos na carreira das mulheres, na sua satisfação laboral, etc.?

Não, a Ministra "acha" que há abuso, não tem provas de que haja abuso, nem tem uma contagem dos casos de abuso--apenas acha. Ora, eu também acho que pelo seu discurso há provas suficientes que esta senhora não tem capacidade intelectual para ser ministra de coisa alguma. Ela nem do meu cão tomava conta. Por mim, na rua é que estava bem, como as grávidas.

quarta-feira, 6 de agosto de 2025

Quase a encerrar

Se estão de férias, aproveitem e vão visitar esta exposição super-original da Constança Cabral, que está aberta ao público até ao dia 8 de Agosto no Espaço Museológico Olhar o Mar, na Lourinhã. Um projecto super-giro com reproduções em papel de flores da flora portuguesa. Se tiverem crianças, também é um bom programa.

segunda-feira, 28 de julho de 2025

Ideologias e cidadanias

Depois de ler a Eneida, estou agora a ler a Ilíada. São livros que são o foco de aulas online por um jovem inglês que tirou o mestrado em Clássicas em Oxford. Inscrevi-me porque penso que sozinha não me atreveria a ler estas obras, mas achei importante lê-las, logo pagar para as ler cria um custo e uma espécie de obrigação que tenho cumprido. É pena que não funcione exactamente assim com o meu pagamento ao ginásio.

Se a Eneida era violenta (recordo-me em particular da descrição da morte de Priam), a Ilíada é brutal, verdadeiramente animalesca, em que se aceita com normalidade matar pessoas, violar mulheres, matar crianças, maltratar corpos, etc. Grande parte dos acontecimentos da Ilíada são relatados na Eneida, mas com menos violência gráfica. Os dois relatos referem acontecimentos que ocorreram por volta do séculos XIII a XII A.C.: a Ilíada talvez tenha sido composta por volta de 750 a 700 A.C., ou seja quase meio milénio depois, e a Eneida foi publicada no ano de 19 A.C. Supõe-se que Homero, que compôs a Ilíada, tenha sido uma amalgama de pessoas em vez de apenas um poeta, enquanto que a Eneida foi composta por Virgílio, o poeta romano, que a escreveu para elogiar e talvez criticar ou influenciar o Imperador Augusto.

Sendo a Ilíada supostamente o produto de vários homens, é impressionante a consistência de violência gráfica, mas isso está mais na mimha cabeça do que na cabeça deles, se calhar. Nessa altura, a vida era assim e a Europa era um sítio violento e não é preciso recuar muito para encontrar níveis absurdos de violência durante a nossa vida. Talvez o que distinga um período de paz de um período de guerra seja para além do número de vítimas, o facto de homens em idade activa serem alvo de violência porque as mulheres, as crianças, os idosos, enfim as minorias são sempre alvo de violência, haja paz ou guerra. Mas já Virgílio foi mais contido talvez porque não tivesse experiência de combater numa guerra, ou talvez nestes quase sete séculos entre os dois relatos tivesse havido progresso em termos do que era aceitável, uma mudança de ideologia, portanto.

O facto de tanta da história da humanidade ser dominada por conflitos e guerras devia pôr-nos de pé atrás: não devíamos achar que a paz é o estado natural da nossa existência; pelo contrário, a paz deve ser encarada como um alvo em constante movimento e o ideal é formar cidadãos que tenham apreço e um sentido de responsabilidade pelo esforço necessário para trabalhar para a paz.

Posto isto, quando penso em cidadania, não me vem à cabeça educação sexual, prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, gestão de ansiedade, etc., mas faz sentido falar de coisas como o movimento gay e LGBTQ, o feminismo, o racismo, etc. porque são casos concretos em que podemos observar como se molda a sociedade no sentido de haver mais dignidade humana, tanto a nível da participação individual, como da função e funcionamento das instituições. A dignidade da pessoa humana é um valor fundamental na sociedade portuguesa, dado que é a base da República Portuguesa.

Agora, isto não implica que não seja importante discutir temas de cariz sexual nas escolas. Aliás, é um tema extremamente crítico hoje em dia por causa da forma como os jovens têm acesso à informação e também de como são alvo de predadores sexuais ou de como iniciam a sua actividade sexual: pornografia online, apps como o Tinder, redes de tráfico humano, etc. Depois, como a política de saúde pública mundial dos EUA mudou, devemos também preparar-nos para poder haver um aumento das doenças sexualmente transmissíveis a nível mundial e como Portugal está com maior abertura a pessoas internacionais, decerto que há potencial para a situação piorar.

Por isso surpreendem-me duas coisas: uma que o governo, meta estes assuntos na gaveta da ideologia; outra que a oposição insista que a única forma é exigir que estes assuntos sejam inseridos na aula de "cidadania". Países como a Suécia, Países Baixos, Reino Unido, e Canadá oferecem aulas de educação sexual nas escolas, porque é que Portugal não oferece também?

quinta-feira, 24 de julho de 2025

Algum progresso, mas nem por isso resultados

Há um mês, quando fui a Portugal, entrei com o passaporte americano. O moço que carimbou o meu passaporte no aeroporto em Lisboa disse-me que eu devia ter o português, mas eu respondi que demorava muito tempo. Respondeu que não, que era rápido. Não confiei muito porque tradicionalmente, Portugal é quase sempre complicado, e eu também preciso de renovar o cartão de cidadão e para renovar passaporte é preciso cartão de cidadão válido, logo estão a ver a complicação que vive sem pagar renda na minha cabeça. Hoje fui investigar se tinha havido algum progresso porque estava a falar com o meu sobrinho para ele renovar o passaporte dele.

Em Portugal, está tudo porreiro. Dá para agendar online, tirar o passaporte rápido e até renovar pela Internet e receber o documento pelo correio. Para quem está no estrangeiro, é mais complicado porque é preciso ir aos serviços consulares ou a Portugal presencialmente. No meu caso, a página de Internet do serviço consular em Washington, D.C., nem diz o que se pode tratar no consulado, mas dá para contactar o consulado para agendar uma marcação.

Surpreendentemente, no site do serviço consular de Boston está tudo bem esmiuçado (até falam da carta de condução), o que indica que cada serviço consular mete a informação que entende na sua página de Internet, o que me parece má prática. Porque é que o governo português não contrata uns designers digitais em Trás-os-Montes para consolidar a informação de toda a gente? É que decerto que o processo é uniforme para todos, logo faz sentido uniformizar as páginas. E digo em Trás os Montes, mas o Alentejo também serve e assim ajudava a descentralizar os serviços e a contribuir para a economia local de zonas fora de Lisboa.

Também gostaria de sugerir que facilitem o acesso aos serviços consulares no estrangeiro e estejam preparados para situações extremas. Quem está em Portugal está bem por enquanto (desde que o Ventura fique desaventurado), mas quem está no estrangeiro pode estar em risco dada a instabilidade política em tantos sítios. Por exemplo, o Trump quando deporta pessoas nem sequer os envia para o país de origem, logo não se surpreendam se um dia destes houver portugueses a acabar em prisões em El Salvador, Guatemala, Sudão do Sul, etc. e, nessa altura, Portugal tem de decidir rapidamente como agir com essas pessoas, se é que querem agir. Depois há também a situação no Médio Oriente que não se sabe se pode piorar e há bastantes portugueses que trabalham lá.

E já agora importam-se de arranjar esta página no Portal das Comunidades? É que há um link para a página aqui, mas o link devia ir para uma página onde se explica onde obter o passaporte electrónico.

segunda-feira, 7 de abril de 2025

Jacarandágate

Andava eu pelo Instagram a tentar relaxar antes de ir para a cama quando aparece o Carlos Moedas a tentar explicar o Jacarandágate. Dizia ele que as árvores em questão estavam demasiado danificadas para serem transplantadas. Ora antes do parque de estacionamento abortar, a justificação para o projecto era que as árvores não estavam em risco porque iam ser transplantadas -- em Março e Abril. 

  1. Ninguém transplanta árvores caducifólias em Março e Abril. Se é para haver transplante, este teria de ser feito no outono ou inverno, quando as árvores estão em dormência. Quero ver estas árvores que transplantaram agora a sobreviver o calor sufocante de verão, quando não tiveram tempo nenhum para desenvolver raízes no novo local de plantio. Espero bem que haja um plano de irrigação para as coitadas. Ou seja, este projecto não envolveu ninguém com competências técnicas em agronomia ou paisagismo. 
  2. Os jacarandás são uma das imagens mais populares de Lisboa e é comum encontrarem-se fotos nas redes sociais. Eu não me admiraria que um dia Lisboa desenvolvesse um turismo sazonal de reconhecimento mundial só para visitar a cidade quando as árvores estão em flor. Turismo desse tipo é comum noutros países: as tulipas na Holanda, as cerejeiras em flor no Japão e em Washington D.C., a folhagem de outono na Nova Inglaterra, etc. Ou seja, quem é a alma que achou que isto ia ser uma boa ideia? 
  3. O país vai a eleições em breve. Quem é que decide ir para a frente com um projecto que é óbvio que não vai ser popular meses antes de eleições? Ainda por cima cortar árvores vistosas para enfiar mais outro parque de estacionamento, como se esse parque fosse fazer uma enorme diferença. 

terça-feira, 21 de janeiro de 2025

Um caco, mas...

Há mais de 20 anos que não passava tanto tempo em Coimbra, que continua um completo caco. A minha mãe achava que era uma cidade belíssima, mas o fado diz que o seu encanto é maior na hora da despedida. Efectivamente, não penso que é o sítio que é encantador, mas talvez a ideia de lá se ter estado ou, no meu caso, cresci lá quando ainda havia coisas bastante bonitas, mas eu tenho um imenso fraco por espaços verdes e lembro-me de ir com o meu avô passear pelo parque à beira rio para andar nos baloiços e sentir-me super-orgulhosa de conseguir manter o baloiço em movimento sem ajuda dos adultos. Devia ter uns três ou quatro anos.

Nota-se que os actuais residentes também fogem da cidade: pouca gente anda pela Baixa e os sítios mais dinâmicos são ao pé de centros comerciais estilo americano, que ficam no que antes eram arredores. Não sei se alguma vez voltará a ser uma cidade com uma Baixa a sério, mas tenho especial apreço pela Loja das Meias que ainda não desistiu da sua localização na R. Ferreira Borges.

É um bocado misterioso como é que, num país e cidade com tantas regras e impedimentos legais, é possível haver uma cidade sem qualquer planeamento urbano. Os prédios são erigidos ao calhas, os espaços verdes são insuficientes ou inexistentes e os que existem não servem qualquer função para além de ocupar espaço. Os jardins de outrora como o Parque Manuel Braga à beira rio ou o Jardim da Sereia continuam uma sombra do que já foram. Também se destruíram os canteiros no Largo da Portagem, e os da Avenida Sá da Bandeira idem. A calçada está danificada em vários sítios, por exemplo, na R. Lourenço de Almeida Azevedo, algumas almas empreendedoras decidiram colocar cimento a tapar alguns dos buracos das calçadas.

Depois, continua-se com a circulação rodoviária na Baixa da cidade completamente ilógica. Deus nos livre de haver um acidente grave ou um incêndio na Baixa porque os carros de bombeiros e ambulâncias demorarão mais do dobro do tempo necessário a chegar ao local do sinistro. Claro que talvez tentem salvar as vitimas indo em sentido contrário, se tiverem espaço.

Mas houve algum progresso. Finalmente, os prédios à beira rio cuja obra estava há décadas embargada foram terminados, um absurdo ter demorado tanto tempo a resolver o assunto. Também parece que vai haver mesmo um metro que afinal é uma carreira (não tem nada a ver comigo) de autocarros porque não há dinheiro para fazer um metro a sério, apesar de se ter andado a estudar o assunto há décadas com gente muito bem paga.

E, finalmente, há um Centro de Arte Contemporânea de Coimbra, criado em 2020, ao pé do Arco de Almedina. Gostei bastante da ideia, só é pena quase ninguém o visitar porque passa despercebido, mas dizem que está num espaço temporário. Idem para o Museu Municipal de Coimbra -- Edifício Chiado, mesmo ao pé, mas a esse vou lá sempre que passo pela cidade porque alguém tem de apoiar a iniciativa e é um sítio simpático para além de ser um edifício bastante icónico da Baixa de Coimbra, desenhado pelo atelier do Eiffel. Misteriosamente, para entrar nestes dois estabelecimentos tem de se pagar com cartão multibanco português ou dinheiro porque a máquina não aceita cartões estrangeiros.

Sim, é uma cidade universitária, mas talvez na era da inteligência artificial consiga untrapassar os limites da natural.

quinta-feira, 30 de maio de 2024

The Good, the Bad, and the Ugly

Há uns dias, calhou ir ao Portal das Finanças e eis a minha surpresa quando encontro um lembrete a dizer que está para pagamento o IMI e eu podia consultar os documentos que me permitiriam pagar a prestação. Desta vez não era preciso porque o meu procurador já tinha enviado, mas fiquei feliz de ver o Portal das Finanças mais organizado do que o costume. E hoje recebi correspondência electrónica do lar onde o meu pai vive com uma carta do Ministério da Saúde a indicar que estava em falta o pagamento de taxas moderadoras dos cuidados de saúde que o meu pai recebeu desde 2020. Devia quase 126 euros. Não percebo a razão de terem demorado tanto tempo para pedir o pagamento, mas talvez tenha a ver com a mudança de governo. Dá-me a impressão, bastante alicerçada por estes dois eventos, que as coisas estão mais fluídas, o que acho realmente bom.

No entanto, há um aspecto mau na história das taxas moderadoras. Para mim, o pagamento de 126 euros é trivial, mas imagino que tal não seja para muitas famílias e idosos, logo não é razoável que o estado deixe acumular os pagamentos referentes a quatro anos. Há, também, um outro aspecto estranho. Que aconteceria a esta dívida se o meu pai já não estivesse vivo? O Ministério da Saúde deveria ser mais diligente em manter todas estas contas em dia.

Por fim, uma coisa extremamente feia que a Nicky Haley fez: escreveu "Finish them!" em bombas que vão ser usadas pelo exército israelita. Dado o histórico deste exército, que é um dos mais sofisticados do mundo, em encontrar alvos civis e humanitários, em vez de alvos terroristas, é completamente incompreensível o que ela fez. E chateia-me ainda mais porque eu votei nela nas primárias presidênciais. Como é que uma mulher, ainda por cima que foi Embaixadora junto das Nações Unidas, faz uma coisa destas? Não tem desculpa. Acho que vou ter de lhe escrever a reclamar.

quarta-feira, 15 de maio de 2024

Inclusividade

"Estes resultados foram resultado do esforço dos portugueses e de uma visão muito firme e determinada do anterior Governo em prossegui-los. Lamento a atitude de vários, que vejo hoje, que não hesitam em pôr em causa a credibilidade do país para obter ganhos políticos simplesmente para atacar o anterior Governo e socorrem-se de tudo", declarou Fernando Medina.

Fonte: Notícias ao Minuto, 14 de Maio de 2024

"Resultados que foram resultado" são sempre bem-vindos e claro que é de louvar haver governos que "prosseguem" resultados. Também gostei "da perperplexidade com que alguns dos meus ex-colegas assistiram ao que assistiram". É bom ter pessoas que falam assim chegar a ministros: dá um ar de inclusividade aos governos portugueses. Finalmentente, a sentença de incompetência dos técnicos da UTAO é-me particularmente cara porque demonstra que para ele a UTAO deve ser uma entidade que avaliza as decisões do governo, em vez de fazer uma apreciação independente, o que também contribuiria para a tal inclusividade.

segunda-feira, 1 de abril de 2024

Montanha russa à vista

Na semana passada saíram as intenções de plantio das colheitas para 2024 nos EUA. De acordo com os resultados do inquérito da USDA, os agricultores americanos planeiam plantar uma área menor. Pode ser que os preços dos futuros do milho e da soja os tenham desencorajado, mas a minha opinião pessoal é que com as eleições à porta e a possibilidade de Trump voltar à presidência é arriscado plantar. O maior parceiro comercial dos EUA na agicultura é a China e quando Trump esteve na presidência desencadeou uma disputa comercial que deprimiu os preços das commodities. Concluo então que, ou os agricultores acham que Trump vai ganhar, ou têm a certeza que ganha pois para ganhar basta as zonas rurais votarem nele.

Apesar da economia americana estar bastante sã, o que beneficia outros países, a guerra contra a inflação ainda não está ganha e uma presidência Trump irá criar um ambiente inflácionário, dada a história da última presidência dele antes da pandemia. Sendo assim, dificilmente se criará condições para as taxas de juro baixarem, a não ser que haja um choque imprevisto.

Para Portugal, as maluqueiras de Trump até poderão ser benéficas porque o número de americanos que irá dar à sola aumentará de certeza, e muito provavelmente alguns irão para aí. Sim, irá ser inflacionista e os locais irão perder poder de compra, mas o lado bom é que a dívida pública irá baixar mais depressa. Só que também implica que será mais oneroso emitir nova dívida pública.

Os recentes bons resultados do excedente orçamental já geram discussões sobre políticas redistributivas. O que a história recente de Portugal nos ensina é que tais políticas acabam sempre por criar dívida pública, pois políticas redistributivas têm efeitos estruturais, apesar da decisão de as implementar ser baseada em resultados que se revelam conjunturais.

domingo, 17 de março de 2024

O bom e o mau

No resultado das eleições de Portugal, dava jeito que os votos dos emigrantes fossem contados mais rapidamente. Mas pronto, talvez assim percebam o quão dificil é contar os votos dos americanos que até demoram menos tempo a ser contados do que os votos do emigrantes portugueses. Outra coisa a considerar é que não é muito democrático Portugal ter uma política oficial de captação de investimento dos emigrantes, ao mesmo tempo que o número de deputados que os emigrantes podem eleger para o Parlamento é insignificante. Isto devia ser corrigido numa revisão constitucional.

Independentemente da contagem final, a Direita conquistou mais votos do que a Esquerda, o que é um resultado bastante saudável em Democracia, dado que o PS já governa há oito anos e corria-se o risco de Portugal se tornar numa pseudo-ditadura de Esquerda, dado que desde 1991, só dois governos de Direita (1991 e 2011) conseguiram terminar um mandato completo vs. quatro da Esquerda. É natural que, à medida que um partido governa, se crie algum desgaste, que leve os eleitores a mudar de opinião, só que em Portugal isto raramente tem acontecido, pois, curiosamente, as maiorias tendem a acontecer em mandatos que não o primeiro.

O facto de o Chega ter acumulado tantos votos com uma plataforma eleitoral considerada anti-democrática é visto por muitos como uma mancha negra no projecto democrático português, mas não é assim tão mau. O aumento de popularidade de valores da extrema Direita está em ascendência em vários países, logo o Chega não é um fenómeno original e nem sequer é muito expressivo, pois em percentagem de votos tem menos popularidade do que noutros países--em França, a Marine Le Pen teve 23,2% de votos na primeira ronda e na segunda aumentou para 41,5%. Por outro lado, a atitude de muitas pessoas de Esquerda em Portugal, que não conseguem conceputalizar um país governado legitimamente por partidos tanto de Esquerda como de Direita está ao mesmo nível democrático de muita retórica dos extremistas da Direita.

Há também a considerar outro aspecto menos positivo para a Democracia portuguesa: com o envelhecimento da população e com o aumento da emigração, muitas pessoas deixam de votar porque não há um esforço oficial para facilitar o acesso ao voto através do correio ou de outra forma. Até recentemente, esta censura da participação eleitoral favorecia o PS, mas os ventos parecem estar a mudar--sei de pelo menos alguém num lar de terceira idade em Portugal que votaria PS, mas não tinha como votar. Pessoalmente, não teria votado no Chega, mas ainda não fui a Washington, D.C., regularizar os meus documentos, logo para efeitos de eleições para o Parlamento não existo.

Apesar das dificuldades de algumas pessoas em votar, houve uma redução da abstenção nestas eleições e tal é mérito do Chega, que conseguiu mobilizar eleitores, o que demonstra que os outros partidos também têm esse potencial. Dado que o Chega é agora o terceiro maior partido no Parlamento não pode ser tratado como uma pedra no sapato, por mais inconveniente que seja. Antes das eleições, Luís Montenegro comprometeu-se que não faria coligações com o Chega, mas não há nenhum impedimento que o faça depois das eleições. Pode perfeitamente negociar os pontos que lhe interessam estar em acordo com o Chega e repudiar os que não estão sujeitos a negociação e assim o programa do Chega que entra para um acordo com o PSD não seria o mesmo que Montenegro tinha enjeitado pré-eleições.

É algo semelhante ao que aconteceu em 2015, quando António Costa entrou em "acordo" com o BE e o PCP apenas nas áreas que lhe interessavam na altura, ou seja, ele não avalizou todo o programa desses partidos que foi sujeito a eleições.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

Geringonça 2.0

O governador do Illinois, J.S. Pritzker, discursou na cerimónia de final de curso da Northwestern University no ano passado. Foi uma participação bastante bem humorada, em que alertou os recém-graduados para a necessidade de aprender a navegar um mundo em que pessoas idiotas podem ser bastante espertas, tão espertas que chegam a patrões e presidentes. Como é que ele identifica idiotas? Procurando as pessoas que agem sem empatia e compaixão, dado que ambas essas qualidades necessitam que se desligue os instintos pré-históricos, os que nos fazem desconfiar de pessoas que não pertencem à nossa tribo. Por esta métrica, as sociedades mais evoluídas são aquelas em que as pessoas têm confiança suficiente para não verem os outros como uma ameaça.

Tenho andado a pensar nisto no contexto do Chega. Não me identifico de todo com o discurso, aliás até acho que têm um discurso anti-Rita; no entanto, não os vejo como uma ameaça. Devo estar na minoria, pois no debate público tem-se dedicado bastante atenção à questão de o Chega poder chegar a governo e se os partidos deveriam assumir previamente que não fariam uma coligação com o Chega. Acho essa expectativa anti-democrática por várias razões.

Em Democracia, a solução votada não agradará a todos, logo não é nenhuma avaria que haja idiotas que cheguem ao governo, parafraseando o Pritzker. Depois, o problema não é tanto que as pessoas votem em idiotas, mas que haja pessoas que votam sempre nos mesmos, ou seja, deixam o caminho aberto para um número baixo de pessoas decidirem o resultado--quem muda o voto acaba por ter mais poder do que quem vota sempre nos mesmos. Há ainda a considerar que, em Portugal, o risco da extrema Direita está controlado porque a Esquerda é bastante eficaz como oposição; curiosamente, a Direita portuguesa não sabe fazer oposição. Finalmente, dado o alto nível de abstenção e a ineficácia da República Portuguesa em facilitar o voto, o que em si é anti-democrático, é-o ainda mais ignorar parte da vontade do eleitorado.

Ou seja, se o Chega tiver votos suficientes para ajudar a formar Governo, quero acreditar que a sociedade portuguesa saiba lidar com estes idiotas democraticamente. E até nem me admiraria que o Chega chegasse ao Governo via PS e o os idiotas do PS dissessem que a Geringonça 2.0 era necessária para controlar a Extrema Direita.

sábado, 10 de fevereiro de 2024

Proposta 351

Hoje enviaram-me umas das propostas do Chega para as eleições, a 351 que diz "Combater a zoofilia e fazer um diagnóstico desta prática em Portugal". Não percebi o que poderia haver de errado com a zoofilia, logo fiz uma procura no Google. De repente, só vejo páginas de pornografia dedicada à bestialidade--ah, essa zoofilia! Será mesmo que o Chega está interessado em regular a bestialidade, parece-me tão aleatório, tipo, "então como é que vamos gerar crescimento em Portugal? Obviamente, limitando o sexo com animais."

Não devo ter compreendido bem, pensei para comigo, logo decidi ir ao dicionário da Priberam para ver exactamente o que me escapava na língua portuguesa. Pois, como eu suspeitava, as definições 1 e 2 não me pareceram nada de mal, dizem que se refere ao amor aos animais, ser amigo dos animais, coisa de franciscanos, portanto. Se calhar, é isso, o Chega quer expulsar os devotos de S. Francisco.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

É mesmo querida!

Com uns mesinhos de atraso, finalmente tive o meu check-up médico anual hoje. Dado que já estou acima do meio século, achei por bem levar uma lista de tópicos a discutir como mudanças hormonais, deficiências ou absorção inadequada de nutrientes, vacina de Covid, colonoscopia, ecografia em vez de mamografia por causa do despiste de cancro da mama, teste de diabetes tipo II, etc. No entanto, nada se passa comigo, sinto-me bem, mas as análises estão feitas e os exames encomendados.

Quanto à vacina de Covid, que não tomei no ano passado, ela deixou ao meu critério, mas não acha essencial. A gripe este ano foi mais severa em termos de sintomas do que o Covid, informou-me. Falámos do meu peso, mas a nurse practicioner (gosto muito dela) acha que estou óptima e que o resto de Memphis é que está um horror. Acredito. Quanto às hormonas, sinto mesmo que algo está a mudar porque estou a ficar mais paciente e importo-me menos com as coisas, o que dá jeito.

A última vez que me exaltei, ou talvez tenha perdido a paciência, foi a propósito de um role de queixinhas acerca de Portugal por causa de haver tantos imigrantes. Apetecia-me dar uma estalada ao Ventura porque é uma das fontes das queixinhas. Eu sou emigrante relativamente a Portugal, mas nos EUA sou imigrante, logo não me é difícil imaginar que estão a dizer mal de pessoas como eu -- chama-se empatia. Há também uma enorme hipocrisia, ou chamar-lhe pura estupidez seja mais adequado, porque os portugueses, que são autenticas ervas daninhas migratórias há mais de cinco séculos, não têm autoridade moral para criticar imigrantes ao mesmo tempo que se auto-elogiam como conquistadores e disseminadores da civilização! Pronto, já desci do caixote do sabão...

Daqui a um mês, eu, imigrante e cidadã naturalizada vou votar no meu país de acolhimento, mas como ainda não fui a Washington, D.C., regularizar os documentos portugueses não posso votar nas eleições de Portugal. Agora que Portugal está em eleições e, sabendo-se que a participação no processo democrático está em declínio, pensei que a questão de facilitar o acesso a documentos e o voto emigrante fosse uma das questões mais importantes da plataforma eleitoral de algum partido, mas enganei-me. Ninguém quer saber; nem o MRS, suposto génio, se interessa. Parece-me que o papel de MRS na democracia portuguesa é mais higiénico do que genial: desintegra-se facilmente -- basta juntar água e meter água é o que não falta.

Não sei se é por estarmos a viver a história em vez de a aprendermos de livros, mas há quase um consenso de que a democracia americana já não é o que era e eu até acrescento que se aportuguesou. Quem diria que tanta gente ainda fosse fã Trumpeta e nem vergonha tenha de o assumir? E os fãs de Biden também são censuráveis -- declaração de interesses: eu votei Biden porque na altura era o mais sensato pois ele assumiu-se como um presidente de transição. Biden e Trump já são conhecidos como presidente, o que torna bastante curioso que sejam tão populares, pois se há coisa que os americanos gostam é de mudança. E eu, portuguesa degenerada, mas americana bem formada, vou votar Nikki Haley nas primárias. Mesmo que fosse pró-Biden, votar Biden nas primárias é um desperdício do voto.

sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

Eleições hilariantes

Sem dúvida que 2024 nos irá regalar com uma fartura de anedotas eleitorais, tanto aqui como aí. Esta semana que passou é prova disso. No Iowa, o Trump foi o candidato mais votado no caucaso do Partido Republicano, que se realizou na Segunda-feira, feriado federal em que se celebra Martin Luther King, Jr. Terça de manhã, a bolsa no vermelho, e o indice do dólar a apreciar.

Entretanto, também esta semana, calhou apanhar um vídeo do André Ventura que alguém postou no Facebook, no qual ele apontava para uns papeis colados a uma parede e dizia que se o Chega for eleito para governar, iriam terminar os apoios de causas da Esquerda, como o dinheiro gasto em promover a identidade de género, etc. É a mesma campanha que o PS usou em 2015: ia poupar dinheiro cortando gorduras e isso ia gerar crescimento. Para o Chega, as causas da Esquerda são as gorduras da Direita mais à direita, logo merecem ser cativadas. Resta a dúvida se já não o foram pelo PS.

Como não há duas sem três, ontem vi que Pedro Nuno Santos decidiu adoptar o lema do Trump para a sua campanha eleitoral. Votem PS para fazer Portugal "grande outra vez". Se havia alguma dúvida que PNS é outro líder idiota socialista, esta ficou completamente dissipada. Mas vocês sabem que me dá imenso prazer ver o pessoal socialista, que gozava tanto com o Trump e os americanos, adoptar o lema do Trump. Também é engraçado pensar no que considera PNS o período grande de Portugal porque parece que não é o período do governo de António Costa. Talvez seja o de Passos.

sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

Falta de noção

Finalmente, chegou a moda de se designar os empregados das empresas como talento. Agora em vez de se falar em fuga de cérebros fala-se em fuga de talento. E para se encontrar talento devia-se contactar uma empresa de recrutamento, como na América, que é o país que inventa este tipo de coisas. A solução para a fuga de talento é, na opinião de Soledade Carvalho Duarte, que se modifiquem as políticas fiscais e salariais.

Apesar da alta carga fiscal, a decisão de praticar salários baixos é essencialmente das empresas e não me parece que possa ser alterada por decreto. Aliás, o salário mínimo que é alterado por decreto, é relativamente alto quando comparado com o salário médio e não parece ter tido grande efeito no desaceleramento da fuga de talento. Faria sentido haver uma reforma fiscal que simplificasse o sistema, mas é das tais coisas em que o cão ladra mas não morde, pois os portugueses já sabem como manipular a situação e falam, falam, mas não querem mudança. Afinal o PS governa desde 2015 e mesmo que nas próximas eleições ganhe outro partido, é quase certo que só dura um mandato, se isso.

De qualquer das formas, o poder político reage às modas e, antes do PM Costa se demitir, o PS falou em devolver um ano de propinas, que representa 697 euros por ano, por cada ano que um licenciado trabalhasse em Portugal. Em princípio esta política não devia ter efeito prático porque facilmente se consegue um salário mais alto no estrangeiro que cubra este valor, que afinal representa 58 euros por mês. E quem não consegue um salário melhor no estrangeiro não ia emigrar de qualquer forma, logo não faz sentido o estado pagar a quem não ia emigrar. E se vai pagar a alguém, não é socialmente justo pagar aos licenciados a quem já pagou a maior parte da licenciatura--é que as propinas não representam o custo total da educação recebida.

No essencial, não há qualquer noção de como tirar o país do percurso não sustentável em que segue; mas retornando à questão de recrutar talento, há uns largos anos calhou um "head hunter" recrutar-me para um emprego. Como ele estava em início de actividade foi bastante transparente comigo e disse-me que a empresa lhe tinha pagado $40 mil por me ter encontrado. Duvido que haja uma única empresa em Portugal que consiga pagar este tipo de dinheiro só para encontrar um empregado, ou seja, Portugal não oferece qualquer competição na retenção de talento face ao estrangeiro.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Retrocesso e progresso

A propósito da nova exigência de ter um cartão associado às contas bancárias em Portugal para se poder efectuar pagamento de serviços, recebi hoje um telefonema da minha gerente de conta do Novo Banco. Fiquei feliz porque é mulher e o meu primeiro gerente era homem, logo o rácio 50% que o PM Costinha queria implementar foi concretizado, apesar de a empresa ser privada. Pena o PS não conseguir arranjar uma mulher que consiga liderar a malta socialista.

Então o telefonema foi acerca de eu ter pedido um cartão de débito, que já me foi enviado, só que enviaram para a minha morada no Texas porque ainda não tinham processado o pedido de alteração de morada que tinha feito mais de um mês antes, quando aí estive. Para que não andasse um cartão de débito com o meu nome à solta no Texas tivemos de activar o cartão e depois cancelá-lo para eu poder pedir um cartão novo, dado que a minha morada já está regularizada. Pelo sim, pelo não, enviei dinheiro a mais este mês para pagar a minha parte da mensalidade dos cuidados do meu pai porque calculei que algo podia correr mal que comprometesse o uso da conta em Janeiro para efectuar o pagamento. Já sabem que eu sofro de ansiedade...

Aproveitei para dizer à minha gerente que achava o preço da minha conta muito caro (€60 por ano), mas ela disse-me que não há contas grátis--é como os almoços. Na minha ideia, se pago tanto por uma conta e se me dou ao trabalho de me deslocar a uma agência para mudar a morada, altura em que apresento os documentos com a morada nova e comprovo a minha identidade junto de uma pessoa física, a morada devia ser alterada imediatamente no sistema ou, pelo menos, entrar em vigor no dia seguinte, depois do sistema fazer a sua actualização diária. Não faz sentido esperar um mês para efectuar a mudança. Quando se fala em produtividade baixa em Portugal, isto é um bom exemplo.

Entretanto, nas minhas contas americanas, é tudo bipolar: ou muito pouco ou muito sofisticado. Por exemplo, para fazer pagamentos de serviços acontece frequentemente o banco não conseguir fazer transferência directa para o prestador e então dizem que vão ter de enviar um cheque pelo correio. A sério que nós ainda usamos cheques. E quem paga o selo é o banco, que não me cobra nada nem da transação, nem sequer pago custos de manutenção da conta, dado que tenho pelo menos um depósito mensal.

Na minha conta à ordem do Capital One até processam o meu salário assim que recebem a ordem de depósito, logo fico com o dinheiro disponível na conta um a dois dias antes do normal: dizem que é para minha conveniência. E pagam 4,3% de juros ao ano na conta a prazo. Como não há balcões da Capital One em Memphis, trato tudo pelo telefone ou pela Internet. Reparei há dias que também dá para fazer associar contas em outros bancos à minha conta de forma a que eu possa transferir dinheiro facilmente e sem pagar nada.

As mudanças mais sofisticadas aconteceram porque os bancos normais viram que estavam a perder negócio para as aplicações digitais como a Venmo, a CashApp, a Paypal, etc. Por exemplo, o senhor que corta a minha relva nem conta bancária tem e recebe o pagamento via PayPal; para aceder aos fundos tem um cartão de débito da PayPal. A manicurista também recebe pela PayPal e a minha cabeleireira recebe por Zelle. Duvido que os americanos larguem os cheques num futuro próximo. O mote deles é "if it ain't broke, don't fix it."

quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

Pensamentos avulsos

  1. Hoje, quando vi uma foto de Pedro Nuno Santos ao lado de outra de José Luís Carneiro, acendeu-se uma lâmpada no meu cérebro: os portugueses não gostam de votar em homens com barba. Aliás, nunca houve nenhum Primeiro-Ministro ou Presidente da República barbudo. Lembram-se de quando Marcelo tinha barba? A única coisa que ganhou foi a liderança do PSD e perdeu a corrida a Presidente da Câmara de Lisboa. Ou seja, PNS pode ganhar a liderança do PS, mas não penso que irá muito mais longe.

    Pelos meus cálculos, André Ventura barbudo também não irá muito mais longe na política nacional: talvez consiga ser ministro de alguma coisa, mas mais do que isso é difícil. Claro que seria muito mais gratificante derrotá-lo em termos das ideias idiotas com que se decide projectar, mas quem não tem cão caça com gato e eu não sou esquisita.

  2. Por falar em eleições, Trump anunciou que iria ser um ditador desde o primeiro dia, caso ganhasse as eleições. Como se nós já não contássemos com uma vingançazita. Entretanto, bastantes republicanos estão interessados em que a Nikki Haley progrida nas primárias e que Chris Christie desista da corrida. Seria curioso ver se ela conseguia derrotar Trump. Também seria bom ter outra mulher candidata à Presidência.

    Note-se que Trump tem um ponto fraco: a sua guerra comercial com a China causou uma descida forte do preço das commodities agrícolas e houve bastante incerteza durante esse período, para além de perdas monetárias com a perda de volume exportado para a China. Como a maior parte do seu eleitorado está em zonas rurais, também seria interessante ver se os agicultores, sabendo agora do que a casa gasta, o iriam apoiar outra vez nas urnas.

  3. Ainda o Kissinger. Tentei ler o obituário dele no NYT e aquilo é super-comprido -- não sei se cheguei perto do fim, quando decidi adiar o exercício. Nele até se citava o Presidente Obama na revista The Atlantic:
    President Barack Obama, who was 7 years old when Mr. Kissinger first took office, was less enamored of him. Mr. Obama noted toward the end of his presidency that he had spent much of his tenure trying to repair the world that Mr. Kissinger left. He saw Mr. Kissinger’s failures as a cautionary tale.

    “We dropped more ordnance on Cambodia and Laos than on Europe in World War II,” Mr. Obama said in an interview with The Atlantic in 2016, “and yet, ultimately, Nixon withdrew, Kissinger went to Paris, and all we left behind was chaos, slaughter and authoritarian governments that finally, over time, have emerged from that hell.”

    ~ NYT, 29/11/2023

    É uma ideia simpática achar que todo o mal que os EUA fizeram se deveu apenas à proximidade de Kissinger dos vários governos americanos, mas os americanos não precisaram de Kissinger para lançar duas bombas atómicas, por exemplo, ou para invadir o Iraque. Ou seja, não há grande garantia que, se não existisse, as coisas teriam sido bem melhores. Pelo contrário, veja-se o papel de Kissinger no desenvolvimento da China. Quantas vidas não salvou e quantas pessoas não saíram da pobreza?

    O legado de Kissinger é complexo e não pode ser caracterizado de positivo ou negativo porque foi ambas as coisas, mas não se pode negar que o homem se interessava por estudar o mundo e tinha uma visão multicultural, para além de ter sido um intelectual a sério.

terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Serviço público

No dia 28 de Novembro, recebi um email do Novo Banco a indicar que, como não tenho um cartão de crédito ou de débito associado à minha conta, a partir de 19 de Dezembro não vou poder fazer transferências da minha conta que sejam agendadas pela página de Internet do Novo Banco e em 28 de Dezembro acontecerá o mesmo às transações agendadas por via da app. Para transferir dinheiro, é necessário ter um cartão "associado" à conta. Enviei um email ao banco a pedir esclarecimentos na Sexta-feira, mas ainda não recebi resposta. Hoje tentei agendar uma reunião com o banco, mas não aceitam números de telefone americanos no formulário da app, apesar de a minha morada ser americana. Aliás, eu abri a minha conta nos EUA, na época em que o BES tinha escritórios aqui. Desde então o serviço deteriorou bastante, apesar das novas tecnologias de informação.

Diz o Novo Banco que esta mudança é devida a "questões regulamentares", o que remete a culpa para o Banco de Portugal. Alguém pergunte ao Centeno se faz sentido obrigar os clientes de bancos a ter cartões bancários para efectuar transferências, dado que um cartão não é garantia de nada e frequentemente representa um custo para o utilizador. Para além disso, um cartão bancário aumenta a probabilidade que a pessoa seja roubada. Utilizar um cartão de débito não é seguro porque pode ser duplicado; quanto aos cartões de crédito também podem ser roubados. Depois, os bancos estão a fazer tanto dinheiro em juros e custos de transacção que o regulador devia estar mais preocupado com os consumidores do que em promover os produtos dos bancos.

Para quem reside fora de Portugal, ainda faz menos sentido esta restrição, dada a dificuldade em se mudar a nossa morada. Por exemplo, quando estive em Portugal no mês passado fui ao Novo Banco mudar a minha morada, que já estava obsoleta há mais de cinco anos. Porquê só agora? Porque para mudar era preciso um comprovativo oficial de morada fiscal, só que sendo eu emigrante, a minha morada fiscal é a morada do meu procurador fiscal.

Quando cheguei ao banco, a senhora que estava ao balcão da frente pediu-me o tal do comprovativo oficial de morada e quando eu disse que morava nos EUA, ela presumiu (erradamente) que os americanos também emitiam comprovativos oficiais de morada via um inexistente Portal das Finanças americano. Mostrei a minha carta de condução americana e lá mudaram, mas ela ainda me disse que não sabia se seria suficiente porque não era um comprovativo oficial de morada. O Guterres, o Sócrates, o Costa não chegaram a Primeiro Ministro prometendo maior simplidade burocrática?

Adiante, a razão de eu não ter cartão de débito é fácil de comprender: foi enviado para a minha morada antiga no Texas, logo nunca foi activado e nunca apareceu na minha conta do banco, logo cancelei porque estava farta de pagar por um cartão que eu não tinha. Só que com esta mudança, tive de pedir um cartão de débito na semana passada -- aqui entre nós, acham que o dito tem tempo de chegar aos EUA antes de 19 de Dezembro e de ser activado? É que todos os meses tenho de pagar a conta dos cuidados do meu pai num lar de terceira idade e não sei se deva enviar dinheiro a mais em Dezembro caso não consiga em Janeiro. Convinha isto ficar esclarecido antes porque senão desisto de pagar com o Novo Banco e começo a pagar via Wise, ou coisa que o valha.

Entretanto, hoje comecei a perguntar aos meus amigos portugueses se tinham conhecimento destas mudanças: um que está nos EUA e vai frequentemente a Portugal não sabia de nada; os que estão em Portugal têm uma vaga ideia, mas nem sabem se as suas contas à ordem estão associadas a um cartão para que as transações não sejam canceladas. Não tenho visto nenhuma discussão na Comunicação Social de uma mudança que me parece bastante problemática. Quando entrar em vigor, veremos as consequências.

quinta-feira, 30 de novembro de 2023

Um período grave

Bem sei que, ultimamente, não me tem dado para escrever, ou melhor, escrevo imenso na minha cabeça, mas depois não chego a executar o acto. Tenho tido alguma consistência a escrever para a minha vizinha, talvez uma ou duas vezes por mês, apesar de, ultimamente, com as viagens e o ritmo de trabalho, as missivas se terem espaçado. Hoje apeteceu-me vir aqui e não por uma razão apenas.

Há umas semanas, fiquei incrédula quando vi que há quem ache que a demissão de António Costa representa algum tipo de golpe judicial, como se ele tivesse sido forçado a demitir-se. Tenho uma opinião completamente contrária, pois o governo PS já teve bastantes escandâlos em que a demissão de António Costa era o mínimo esperado e, como nas outras vezes não se demitiu, é surpreendente que o tenha feito. Ou seja, o seu comportamente passado não dá credibilidade à ideia de que ele não tinha outra hipótese. Para mim é evidente que ele pretere os interesses do país aos próprios e do partido, logo a sua demissão deve ter sido motivada por algo que desconhecemos.

Galamba finalmente demitiu-se para que, logo a seguir, na Comunicação Social aparecessem conjecturas acerca da possibilidade de Pedro Nuno Santos o poder salvar. É como se alguém atirasse barro à parede para tirar a temperatura dos ânimos. Como é que alguém do calibre de Galamba chega onde está e lá fica tanto tempo, sem que sequer tenha o benefício da nossa ignorância acerca da sua incompetência? Podia-se invocar a lei dos grandes números, mas, num país tão pequeno, onde o PS já governa há tantos anos, talvez se deva cunhar a lei do pequeno número de amigos. Só que um Primeiro Ministro não pode ter amigos, dizia António Costa para se distanciar da pocilga política que criou. Fica a nota para quem vier a seguir.

Aqui na minha parte do mundo, as coisas estão curiosas. Os Democratas acham que a questão do aborto lhes dá apoio político, mas no meu caso--e note-se que eu não sou uma pessoa representativa do eleitorado americano--retira-lhes apoio. Como já aqui escrevi, sinto que a questão do aborto faz de nós mulheres reféns políticos, especialmente pelo partido Democrata. Não há nenhum assunto pertinente ao corpo dos homens que seja tão contencioso como a questão do aborto para as mulheres, logo a ideia da igualdade entre homens e mulheres está cada vez mais no reino da utopia.

Talvez num futuro próximo no qual a gestão de bebés possa ser feita fora do corpo das mulheres, o debate mude de figura, mas não sou tão optimista. O que penso estar a acontecer é uma reversão à média e, se formos a ver, historicamente, as mulheres nunca usufruiram verdadeiramente de igualdade e os períodos em que tiveram mais direitos nunca duraram muito.

Neste contexto, votar Democrata não ajuda as mulheres porque dá-se uma cheque em branco aos Democratas que eles usam noutros assuntos que não o do avanço das mulheres na sociedade. Depois há o facto curioso de a sociedade americana se tornar muito mais activa no sentido de preservar direitos quando os Republicanos estão na Presidência. Esta curiosidade não é única daqui porque, em Portugal, os governos de Direita também têm maior resistência da sociedade portuguesa do que os governos de Esquerda. Talvez a malta da Esquerda saiba resistir melhor do que os de Direita.

Finalmente, há a questão Israel-Gaza/Palestina. Neste conflito, a maior parte das vítimas são mulheres e crianças e os Estados Unidos não têm qualquer problema em enviar armas a Israel sem exigir que se salvaguardem as convenções internacionais que regem conflitos e os direitos humanos. Se Trump se comportasse assim, os americanos sairiam à rua. Há muitas mulheres americanas que estão contra Biden neste conflito, ou seja, o melhor dos cenários para os Democratas é Biden morrer antes das eleições. Se ele for a votos, perde com certeza mesmo contra Trump.

Enquanto escrevia este post, saiu a notícia de que Henry Kissinger morreu aos 100 anos. Pode-se não gostar do homem, mas tinha um calibre intelectual que hoje em dia raramente se encontra; se quiserem ler o seu pensamento, têm acesso a algumas entrevistas dele aqui. Em 2018, Kinssinger dizia ao FT "We are in a very, very grave period." Ainda estamos.

segunda-feira, 13 de novembro de 2023

Decepcionante

Estou extremamente decepcionada com os comentadores portugueses. Ainda não vi ninguém perguntar o porquê de António Costa salvar a todo o custo o pêlo do Galamba. Se fosse nos EUA já alguém teria especulado que Galamba deve saber algo acerca de António Costa que António Costa não quer que venha a público, ou seja, Costa deve estar a ser alvo de chantagem. É a única explicação lógica para António Costa não ter demitido Galamba. E MRS "a vê-los passar", completamente impotente por vontade própria.