segunda-feira, 9 de setembro de 2024

A qualidade de vida

No outro dia, alguém postava no Facebook um argumento semelhante ao que o Nicholas Kristof fez há umas semanas no NYT: o PIB per capita europeu está a crescer tão devagar que as comparações com os EUA não são favoráveis.
"France offers almond croissants, luxury brands and an enviable way of life. But if it were a state, it would be one of the poorest per capita, on par with Arkansas.

[...] But by one European calculation, if economies continue to grow at the current pace, by 2035 the average American and the average European will be as far apart economically as the average European and Indian are today (in fairness, assessing the gaps also depends on what exchange rate is used).

Fonte: Nicholas Kristof, "Is Europe a Model for America? Or a Warning?" NYT, 28 de Agosto de 2024

E num dos comentários ao post dizia um português que a qualidade de vida nos EUA não era tão boa como na Europa. Mesmo muitos dos próprios americanos dizem o mesmo. Mas a Europa não é tão diferente dos EUA em qualidade de vida: há uma parte da população que tem dinheiro e consegue ter boa qualidade de vida e outra que nem por isso.

Um dos meus vizinhos é um americano que é médico reformado do sistema militar. Os militares nos EUA podem reformar-se ao fim de 20 anos de serviço activo. Para além da casa na minha vizinhança, ele e a esposa têm uma casa num lago. Todos os anos fazem uma ou duas férias internacionais. No ano passado, estiveram na Alemanha, agora estão no Canadá de férias.

Por falar em viagens internacionais, isto recorda-me o cunhado de uma ex-vizinha, um engenheiro reformado, que teve de cancelar várias viagens à Europa por causa da pandemia e que estava muito chateado porque sendo ele reformado, dois anos era um pedaço de tempo bastante significativo do período que ele tinha delineado para viajar.

Claro que casos avulsos não dão para generalizar, mas pelo que observo não acho que a qualidade de vida dos americanos seja assim tão má, apesar de nem toda a gente viver bem. E a tendência é para as coisas melhorarem.

sábado, 7 de setembro de 2024

A house for free

Daqui a menos de duas semanas, a expectativa é que o Federal Open Markets Committee decida cortar as taxas de juro de referência nos EUA, só não se sabe se vai ser 0,25% ou 0,5%. Também é esperado que o BCE continue a cortar os juros e as taxas de euribor já estão em tendência de queda. Tudo boas notícias para o programa de apoio a aquisição de habitação por jovens com menos de 35 anos e residentes em Portugal, que ganhem menos de 81 mil euros e queiram comprar casa até 450 mil euros.

As agências imobiliárias que lidam com estrangeiros já tomaram nota e estão a promover o programa. Penso que o objectivo desta política será diversificar a idade dos imigrantes, os tais que são conhecidos como "expats" na gíria americana. Com esta coisa do Trump e do Brexit, há muitas mulheres americanas e britânicas com mais de 50 anos a quererem mudar-se para Portugal e que precisam de namorad@s jovens e enxutos para gozarem melhor o sol e a praia. E se tais namorad@s já tiverem casa, tanto melhor.

sexta-feira, 6 de setembro de 2024

Com tradição de contradição

Discute-se mais uma vez a privatização da TAP. Não devia ter sido nacionalizada, mas já chega de empatar o país com esta discussão: vem um governo de Esquerda e nacionaliza; um de Direita e privatiza. Tudo isso consome recursos que o país não tem. Se é para andar neste tango, mais vale fechar a companhia porque assim não se gasta dinheiro e os contribuintes não têm de andar a financiar experiências ideológicas. Isso sim, seria corajoso!

quinta-feira, 5 de setembro de 2024

385

Já há uns tempos que não recordava de termos um tiroteio, mas hoje um miúdo de 14 anos matou quatro pessoas e feriu pelo menos nove numa escola secundária na Geórgia. Claro que deve haver bem mais traumatizados, mas nós não contamos esse tipo de ferimentos.

Não sei se era falha minha, que não prestei atenção, ou se realmente as coisas tinham acalmado. Há uns anos era quase um evento semanal haver tiroteios e parecia que as coisas não iam melhorar, mas ultimamente já não eram tão notícia. Mas consultei os dados agora e acontecem e acontecem com mais frequência do que antes.

A base de dados da Gun Violence Archive indica que desde o início da pandemia a violência com armas aumentou. No ano passado houve 656 tiroteios e, relativamente a este ano, o tiroteio de hoje foi o número 385.

quarta-feira, 4 de setembro de 2024

Dois meses e dois dias

A dois meses e dois dias das eleições, ainda não é muito visível que estamos em campanha. Como esta é a terceira campanha de Trump, deve haver alguma saturação, pois já se sabe que ele diz palermices e poucos já ligam. Vi hoje uma notícia em que ele disse que as escolas faziam operações para os miúdos mudarem de sexo. É irrelevante. Quem acredita em tal coisa não tem os filhos na escola; em vez disso educam-nos em casa. Não é tanto o que acontece que me surpreende. Estou curiosa para saber por onde anda a família de Trump. A Ivanka, o Jared, e a Melania não têm aparecido; mesmo o DJT Jr. anda murchinho.

Do lado azul, tem se falado da Kamala e do Tim terem a mesma idade, mas ele parecer muito mais velho do que ela. A meu ver, ele precisava de uma dietazinha; mas é saudável ver-se um homem a ser julgado pelo seu aspecto físico, dado que esse é o pão nosso a que se sujeitam as mulheres. O Steven Moore, um antiquário inglês, conhecido como o David Attenborough das chávenas, acha que os homens se deviam vestir de forma mais colorida, como antigamente. Isso seria o ideal para Walz, toda a gente iria falar dele.

terça-feira, 3 de setembro de 2024

Sugestões

Há dias, a revista The Atlantic publicou uma peça de opinião do HR McMaster, onde ele explicou a inovação da Administração Trump ao tratar a China como um adversário, em vez de parceiro. "Explicou" nem é de todo o tom usado, mas não me vem à cabeça uma boa tradução para a expressão que me ocorre "wax lyrical".

A tese é que Trump corrigiu várias políticas que o McMaster considera insensatas. A política da China ser vista como um parceiro social já vem da década de 70, logo subentende-se que McMaster acha que a política dos presidentes desde então, tanto Republicanos, como Democratas, estava errada.

Vindo de um militar de carreira, é natural que lhe seja mais fácil ver inimigos do que amigos: se todas as nações fossem amiguinhas, não haveria necessidade de haver forças militares. No entanto, a Constituição prevê que a máquina militar esteja sob a alçada do Presidente e o poder de declarar guerra caiba ao Congresso, ou seja, a ideia dos Founding Fathers é que a máquina militar é subserviente ao poder civil. O McMaster andou lá às voltas a tentar explicar que isto da mudança de atitude para com a China foi ideia do Trump, mas era uma ideia que ele próprio já tinha há bastante tempo. Ou seja, penso que o mais provável é ele ter sugestionado o Trump.

segunda-feira, 2 de setembro de 2024

August 30

Dear J.,

I hope you are doing well, now that the summer is almost over. When my alarm clock comes on at 6 AM, it is still almost dark and the morning feels crisp. Last week, I was in West Texas to visit the cotton crop. I think we, my coworker and I, drove to 16 or 17 counties, but my hotel was in Lubbock. I stayed at an Embassy Suites that had an indoor garden, which I really enjoyed; I knew about it from the previous time I had been to Lubbock. However, I did not sleep very well, since the bedroom was a bit chilly, even though I had the temperature set to 76º F as I do at home.

The other reason for my lack of enthusiasm for being there was my coworker. He sometimes asks personal questions like my age or in which party I vote. He is a Republican and says he does not like Trump, but he voted for Trump against Hillary and did not vote when Trump ran against Biden. He did not say whether he would vote in this election, but indicated that he does not like Kamala because she did nothing, especially on immigration after going to Latin America. Funny enough he did mention that he liked Trump’s policies, but wishes he would keep his mouth shut. He failed to recognize that Kamala did not have executive power to decide what to do on immigration policy and, I am afraid that, at the time, I also failed to remind him of that and the fact that immigration policy was at the heart of Trump’s presidency and, if that had been solved by him, then there would be no reason for Kamala to visit Latin America. Instead, I just had a little ranting episode about how we needed a woman president because woman are 50% of the population and should be represented in the higher office. Of course, it is true, but my tone of voice and impassioned speech did not help my or Kamala’s cause.

With the trip preventing me from doing my normal work, I ended up having to work during the weekend, which was probably just as well, so that I could keep my mind occupied, while I continued to fume about misogynistic men. Then, on Monday evening, as I was getting ready to go buy some food for my dog, my car would not start. Seconds after, I happened to get a message from one of my neighbors across the street and took the opportunity to lament my car situation. He immediately came over with his wife to check on my car. While we were looking at what could be wrong with it, we spoke about putting out flags to decorate the neighborhood for Labor Day, which I did not recall us doing—-not all holidays get a neighborhood decoration. Then he mentioned that if Trump won, we’d be decorating the neighborhood. I asked about Kamala winning, which would be an historical event, and he said “That bitch! I want to retire one day…” I was so shocked at what he said, plus upset at my impassioned rant when I was with my coworker, which had absolutely no persuasive value, that, this time, all I could think to say was to advise him to watch it, since Memphis is two-thirds Democrat, so it would look bad if anyone heard him in the neighborhood.

All last and this weeks I have been feeling strange, like I am on edge, and I think it has to do with all these Trump supporters. I actually know very few people who were promptly as happy as I was that Kamala was the candidate. The media is extremely pro-Kamala, but I still remember eight years ago thinking that there was no way Hillary could lose and, yet, she did. So now I am drowning my enthusiasm for Kamala and, instead, inviting dread to live rent-free in my head. I hope I have not made you more worried. I am planning on taking a meditation practice more seriously, so that I can stop being overly dramatic.

Have there been any good news in our old neighborhood?

I love you dearly,

Rita

quarta-feira, 7 de agosto de 2024

A valsa dos símbolos

Primeiro foi a CNN, depois a Atlantic, e finalmente o NYT a avançarem que Kamala Harris já tinha escolhido o parceiro de corrida e que seria Tim Walz, governador do Minnesota. A minha impressão do Minnesota, depois de trabalhar vários anos com pessoas de lá e de ter visitado, é que são pessoas bastante diferentes dos outros americanos que tenho conhecido. Por exemplo, não dá para fazer aquelas piadas para quebrar o gelo porque eles não entendem o humor e não se riem. No entanto, parece que Tim Walz é um tipo bem disposto que tem as chamadas "social skills," mas nasceu no Nebraska e foi para o Minnesota com 30 anos.

Também há outra caracterítica interessante em Walz, que é ter trabalhado na China durante um ano como professor do ensino secundário. Recordemo-nos que Trump teve uma presidência bastante crítica da China e Biden continuou a mesma linha de política, apenas com menos ruído e maior discrição. A escolha de Walz pode significar uma política menos retaliatória relativamente à China.

O Josh Shapiro ficou então para trás, mas nos últimos dias já tinha havido uns eventos cancelados, umas notícias acerca de ele ter lidado mal com uns casos de assédio sexual, e deopis há o facto de ser judeu, o que levantava questões acerca da sua viabilidade. Claro que o lóbi judeu tinha enorme preferência por este candidato, mas não seria uma escolha sensata tendo em consideração que os eleitores mais jovens são bastante sensíveis à situação trágica de Gaza.

Às abertas, o discurso dos media e do partido está um bocado limitado na questão da religião porque a lei federal proíbe que se discrimine com base em certos critérios:

Under the laws enforced by EEOC, it is illegal to discriminate against someone (applicant or employee) because of that person's race, color, religion, sex (including gender identity, sexual orientation, and pregnancy), national origin, age (40 or older), disability or genetic information.

Fonte: EEOC

Logo o facto de Shapiro ser judeu foi usado mais como ilustração de ser uma pessoa fortemente alinhada com Israel e, do ponto de vista político, o que tem vindo ao de cima, é que há bastante gente no Partido Democrática que é crítica de uma proximidade que se traduza numa carta branca a Israel; muitos prefeririam que se trabalhasse com vista a um cessar-fogo, mesmo Walz já expressou essa ideia.

Por falar em questões de discriminação, vale a pena fazer um à-parte. Sendo que o Partido Democrata é o mais alinhado com estes valores de não-discriminação, compreende-se a ironia da situação em que o partido se encontrava tendo Biden como candidato e este não querer sair, pois retirá-lo argumentando com base na idade ou incapacidade violaria a lei federal; no entanto, a Constituição permite que o Presidente seja retirado com base em incapacidade.

A segunda ironia era o facto de a VP ser uma mulher e negra/asiática, logo se não tivessem escolhido Kamala como a candidata natural à sua substituição também se estaria a sugerir que podia ter havido discriminação, especialmente porque quando Biden se apresentou a eleição há quatro anos, ele considerou-se um presidente de transição e o subentendido é que Kamala seria a herdeira da candidatura.

Vejo bastante simbolismo associado a todos estes acontecimentos recentes. Mesmo a decisão de escolher alguém para VP que é do Minnesota é simbólica: nas primárias do Partido Democrata do Minnesota, 19% dos votos foram para "uncommitted" porque os eleitores estavam insatisfeitos com a política de Biden relativamente a Israel-Gaza.

quinta-feira, 1 de agosto de 2024

Telhados de vidro

Roy Cooper, que me parecia um bom candidato a VP, saiu da lista de escolha "por motivos pessoais". Talvez ele tivesse alguma coisa que não sobrevivesse ao escrutínio a que foi sujeito e por isso saiu. Um dos candidatos supostamente bem classificados é Josh Shaphiro, governador da Pennsylvania, que tem apenas 51 anos. Mas penso que há o problema de ser judeu, o que seria bastante polarizante.

Mesmo a família de Trump tem estado ausente da campanha dele, e eu especularia que, se calhar, parte do motivo é o genro ser judeu. Não devemos esquecer que Al Gore também escolheu um candidato a VP judeu e deu no que deu. Finalmente, com o assasinato do diplomata do Hamas (que mundo estranho o nosso em que organizações terroristas têm diplomatas) supostamente por Israel, fica bastante complicado fazer qualquer coisa que possa comprometer futuras negociações de paz.

No entanto, não deixa de ser curioso que o primeiro evento de Kamala com o candidato escolhido irá ser em Philadelphia, exactamente na Pennsylvania.

segunda-feira, 29 de julho de 2024

Coincidência ou conveniência?

Joe Biden, o segundo presidente católico dos EUA (o primeiro foi o JFK), votou em 1982, enquanto senador, a favor de que o aborto fosse decidido a nível dos estados, em vez de ser um direito federal como preconizava Roe vs. Wade, quando Orrin Hatch (Senador Repulicano) propôs uma emenda à Constituição que foi a pré-votação no Senate Judiciary Committee, . A Emenda de Hatch nunca chegou a ser votada no Senado; em 1983, quando Hatch voltou à carga, Biden votou contra, mas isso não significou que tivesse mudado de ideias.

Durante décadas, Biden invocou a sua fé de católico para defender a sua posição anti-aborto, no entanto, tal fé não foi impedimento para que se casasse em 1973 com Jill Biden, que era uma jovem divorciada. Depois invocou questões monetárias, dizendo que quem era contra o aborto não devia ser obrigado a pagá-los.

Aquando da oportunidade de se candidatar a Vice-Presidente, ao lado de Obama, a fé católica não o impediu de "suavizar" a sua posição relativamente ao aborto. Mesmo assim, nem era carne, nem peixe: dizia que não podia impor as suas preferências ao mundo. Depois candidatou-se a Presidente e aí teve de ser a favor do aborto, pois era disso que a casa dos Democratas gastava.

Roe vs. Wade cai pelas mãos do Supremo Tribunal dos EUA em 2022, mais de um ano depois de Biden ser presidente. Não havendo uma norma federal, cada estado faz o que lhe dá na telha, que era exactamente o que Biden tinha votado a favor em 1982. Como Presidente, não promoveu qualquer tentativa de passar uma lei federal que garantisse o acesso ao aborto. A situação actual é discriminatória e viola a lei federal: quando uma mulher grávida se dirige às urgências, há hospitais que recusam admissão por medo de que a mulher necessite de um aborto.

Conclusão, Biden falhou uma das promessas mais importantes que fez durante a primeira campanha. Só não sabemos se a sua inacção foi uma coincidência ou foi por conveniência.

domingo, 28 de julho de 2024

Apreciação e anulação

"The appreciation of art is a true marriage of minds. And in art as in marriage, lack of consummation is grounds for annulment."

~ Mark Rothko

sexta-feira, 26 de julho de 2024

Ballet de um lado, breakdance do outro

Na Quarta-feira, o Netanyahu foi ao Congresso americano dar um discurso surreal no qual tentou justificar a morte dos civis palestinianos às mãos das manobras militares de Israel. A CNN fez a verificação dos factos apresentados e claro que dizer que houve muito embelezamento é eufemismo que indica que ele mentiu com todos os dentes que tinha.

Noticia o NYT que foi aplaudido por Republicanos. No lado dos Democratas, houve um boicote parcial, com Nancy Pelosi e Kamala Harris ausentes (Harris indicou ter conflito na sua agenda), juntamente com "duzias de Democratas. Até assessores de Esquerda meteram baixa médica para não terem de assistir ao discurso ou saíram em protesto com óculos de sol e máscaras a encobrir a sua identidade. Nancy Pelosi designou o discurso como "by far the worst presentation of any foreign dignitary invited and honored with the privilege of addressing the Congress of the United States." Na rua, protestos contra a guerra em Gaza.

Hoje, Quinta-feira, Kamala Harris reuniu-se com Netanyahu e defendeu que Israel institua um cessar fogo o mais depressa possível e negoceie a libertação dos reféns. Também disse que a dimensão da violência contra crianças e outros civis não é aceitável e que ela não se iria calar: “The images of dead children and desperate, hungry people fleeing for safety, sometimes displaced for the second, third or fourth time — we cannot look away in the face of these tragedies, we cannot allow ourselves to become numb to the suffering, and I will not be silent.”

Ou seja, nota-se que há um nível incrível de coordenação entre o partido e a candidata, e a política de Biden, bastante deferencial para com Israel, está a ser abandonada. É impossível não pensar que a médio/longo prazo os americanos irão ser alvo de ataques terroristas justificados pelo apoio que deram a este conflito de Israel--é isso que a história nos indica e, a julgar pelo sentimento anti-americano que se observa nas redes sociais, este conflito é uma ferramenta para recrutar futuros terroristas.

O anúncio do candidato a VP de Kamala Harris deverá ocorrer a 7 de Agosto; até lá vamos andar na expectativa, ou seja, toda a máquina mediática estará a cobrir o lado dos Democratas e Trump, se só tem as birras do costume, terá pouco apelo. No entanto, é esperado que Trump meta um processo em tribunal por causa da substituição de Biden e de Kamala estar a usar o dinheiro dessa campanha, o que lhe confere maior vantagem do que se tivesse de começar a angariar fundos do nada.

Quanto à escolha de VP, da lista que está a ser apresentada, eu acho que Mark Kelly do Arizona e Roy Cooper da Carolina do Norte são os mais prováveis. Dos dois, Roy Cooper tem aspecto físico mais convencional, é grisalho e parece um avôzinho como o Biden, características que foram benéficas para Obama.

quarta-feira, 24 de julho de 2024

Eu feminista lusitana

Surpreendentemente, quase todas as minhas amigas feministas de Houston preferem Biden a Harris, o que não consigo compreender de todo. É que não faz sentido, nem sequer se alinha com os valores que professam e não estou a falar apenas da questão de ela ser mulher e ele ser homem. Há também que notar que fisicamente ele não é capaz de exercer a função de Presidente. Eu acho cruel esperar que um octagenário tenha de se sujeitar a uma coisa tão árdua só porque nos dá um quentinho na barriga saber que um velhinho simpático vela por nós. (Esta preferência deve ser influência daquela ideia antropomorfizada de Deus, que muita gente acha ser um idoso de barbas muito carinhoso.)

Só ainda não falei com a minha amiga que tem 99 anos, mas aposto que ela ficou muito feliz porque, a última vez que a vi, no mês passado, ela disse-me muito desanimada que se calhar ele não ia ganhar. Eu não respondi que ele estava demasiado velho porque ela é mais velha do que ele, mas ela está lúcida e tem clara noção do que não é capaz. Biden já passou desse ponto.

A modos que nas últimas semanas tenho passado parte do meu tempo a argumentar que Biden não era bom candidato com algumas das minhas amigas de Esquerda, pessoas que frequentemente entram em diatribes contra o patriarcado e se identificam como feministas ferrenhas. E desde que Kamala foi elevada a candidata, as minhas amigas têm estado num silêncio que mais parece um luto, enquanto que eu irradio felicidade. Espero que acordem para o mundo um dia destes e me voltem a dar lições do feminismo americano. Não que eu precise porque o meu feminismo foi cunhado no pós-Revolução dos Cravos e é forte na minha pessoa.

terça-feira, 23 de julho de 2024

A diferença de um dia

Parece que nem foi há pouco mais de 24 horas que Kamala Harris se tornou a candidata. Hoje, jornais e revistas, que até há poucos dias se enchiam de notícias a ilustrar os defeitos de Harris, estão cheios de artigos a seu favor. E até ficámos a saber que Trump doou dinheiro duas vezes quando ela era candidata a District Attorney General na California e ela teve o discernimento de devolver os cheques, cujas imagens já rodam convenientemente nas redes sociais.

As doações estão a entrar em massa para o ActBlue, que conseguiu angariar $47 milhões nas primeiras 7 horas a seguir ao anúncio de que Harris era a candata e nas 24 horas atingiu $81 milhões. Eu fiz uma doação simbólica de $50, mas estou a contar dar mais. Quando Biden foi candidato em 2020 não dei nada, só dou a mulheres porque há que discriminar homens para manter o universo em equilíbrio.

Mas nem todos estão felizes, o Michael Bloomberg não está entusiasmado com Harris, diz que a decisão tem de ser democrática, mas pode-se argumentar que foi democrática, dado que ela estava incluída nas primárias com Biden e o entendimento era que se ele saisse, entrava ela. É lógico que podia haver outros candidatos, mas por enquanto ainda ninguém se chegou à frente, talvez sinal de que há coordenação dentro do Partido Democrata para não dividir ainda mais as opiniões e manter a unidade, unidade esta que tem sido a nota dominante desde ontem à tarde, quando foi feito a anúncio. A competição parece que vai ser em termos de quem ela escolherá para ser o número dois e o mais provável é que seja alguém mais convencional, tal como Obama escolheu Biden.

Com esta mudança, quase que nos esquecemos do atentado a Donald Trump e de que este escolheu J.D. Vance. Ou seja, talvez a crise dos Democratas tenha dado jeito porque retirou mediatismo às cenas do Trump, que estavam a começar a aquecer. Agora todos estarão focados em quem será o número dois de Harris e depois na Convenção Nacional dos Democratas que se realizará de 19 a 22 de Agosto, em Chicago.

domingo, 21 de julho de 2024

Habemus candidatum

E porque eu estou no Tennessee, tinha de ser:
The 77 Democratic National Committee delegates from Tennessee unanimously voted to endorse Kamala Harris for president during a conference call on Sunday afternoon, according to William Owen, a Democratic National Committee member who participated in the call. Owen said the vote made Tennessee the first state delegation in the country to formally back Harris for president.

Fonte: The New York Times