Comentário do ChatGPT (na pele de professor de ciência política, o que talvez influencie o resultado) ao texto de Manuel Carvalho no Público de hoje:
A posição do autor insere-se numa linha clássica da teoria democrática que considera que há limites inegociáveis na convivência política: os partidos que colocam em causa os próprios fundamentos do regime democrático liberal não devem beneficiar da mesma legitimidade substancial que os demais. Esta é uma tese com eco em autores como Giovanni Sartori, que distinguiu entre “partidos do sistema” e “partidos contra o sistema”.
A crítica à proposta de normalização do Chega — implícita ou explícita — é apresentada com coerência. O autor parte do princípio de que a democracia liberal não é neutra em relação aos valores: tem compromissos normativos claros, nomeadamente com a dignidade humana, o pluralismo e o respeito pelas minorias. Assim, recusar a paridade moral com partidos que promovem discursos xenófobos, racistas ou autoritários não é um gesto de sectarismo, mas sim um ato de defesa da própria democracia.
É particularmente relevante a distinção entre o respeito institucional devido aos mandatos democraticamente obtidos (isto é, o reconhecimento formal do direito de representação parlamentar) e a recusa de legitimação política mais ampla, por exemplo através de alianças ou negociações estruturantes. Esta distinção ajuda a evitar tanto o perigo da exclusão antidemocrática quanto o da normalização acrítica.
No entanto, pode apontar-se uma fragilidade na forma como o autor lida com o eleitorado do Chega. Ainda que admita que nem todos os votantes aderem convictamente ao programa do partido, a proposta de aplicar-lhes igualmente a “receita da superioridade moral” pode ser interpretada como moralismo desmobilizador. A ciência política ensina-nos que os comportamentos eleitorais são multifatoriais, e muitos eleitores recorrem a votos de protesto por frustração com o sistema, sem adesão ideológica profunda. Uma resposta democrática eficaz requer não apenas confronto argumentativo, mas também escuta ativa e políticas que respondam aos problemas reais que geram descontentamento.
Em suma, o texto apresenta uma defesa articulada e rigorosa da exclusão moral do Chega da esfera da normalidade política, ancorada numa conceção normativa da democracia. Contudo, para além da rejeição moral, o desafio democrático passa também por oferecer alternativas políticas credíveis e eficazes que evitem o crescimento do voto protesto e da apatia cívica.
Na mesma sequência, pedi um comentário ao facto de o líder do PS defender a não viabilização do governo da AD. Aqui está a parte final:
A legitimidade da posição do PS depende, em última instância, da coerência do seu discurso: se defende que o Chega representa um risco para a democracia, então tem de assumir as consequências dessa avaliação — o que inclui o dever de impedir o seu acesso ao poder, mesmo à custa de viabilizar um governo de centro-direita que considere imperfeito.
Recusar ambas as soluções — nem Chega, nem PSD — pode ser lido como uma postura de purismo político que ignora a lógica de compromisso característica das democracias parlamentares. Como argumentou Norberto Bobbio, a democracia não é o reino da pureza moral, mas do equilíbrio entre legitimidade, legalidade e compromisso.
A defesa da não negociação com o Chega mantém-se legítima enquanto defesa dos princípios democráticos. No entanto, para ser politicamente consequente, implica um certo grau de compromisso entre os partidos que partilham esses mesmos princípios. A recusa simultânea de negociar com o Chega e de viabilizar um governo do PSD sem Chega pode enfraquecer essa defesa, abrindo espaço precisamente ao que se pretende evitar: a entrada do Chega em zonas de influência e poder institucional.
Em última análise, a responsabilidade democrática não é apenas denunciar os perigos, mas agir para os impedir — mesmo que isso implique compromissos difíceis.
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