domingo, 29 de setembro de 2019

Histórias de sobreviventes

Na página de YouTube da FEMA (Federal Emergency Management Agency) há um vídeo sobre histórias de sobreviventes de desastres, que achei bastante útil. A jornalista aconselha a nos informarmos para tentarmos compreender as nossas reacções em situações extremas e também para treinarmos o nosso corpo para funcionar em autopiloto nestas situações. Vale a pena ver.

Já sabe?

O Furacão Lorenzo acabou de intensificar para categoria 5, nas últimas horas. Como esta tempestade vai passar perto dos Açores daqui a uns dias, alguém se certifica que o nosso ilustre Primeiro Ministro sabe do que está para vir? É que quando as coisas correm mal, ele nunca sabe de nada, logo convém informar antes.

Fica aqui o link para a página do National Hurricane Center com o percurso projectado da tempestade. E também vos deixo o link para os avisos que o NHC emitiu e está a emitir para o Lorenzo. Se têm família na área, convém entrar em contacto e acompanharem a situação. Uma tempestade deste tamanho não têm precedente nesta região e não se sabe mesmo o que poderá acontecer, logo o melhor é terem planos de contingência. Têm até Terça-feira para se preparar.

Aqui está a lista de preparativos aconselhada pela Cruz Vermelha Internacional (em inglês).

O governo americano aconselha as famílias a fazerem um plano, cujas indicações podem consultar neste link (em inglês).


sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Coisa curiosa


Passei os últimos três dias a estudar os dados de produção agrícola e comércio internacional do Usbequistão. Não foi o mercado todo, mas lá andei pela Internet à caça de informação. Andei tão concentrada que um colega meu tocou na minha cadeira e dei um salto. Os meus colegas gozam muito comigo porque, apesar de estarmos num espaço comum, quando estou a trabalhar é difícil ligar ao que se passa em meu redor e quando me chamam não ouço.

sexta-feira, 20 de setembro de 2019

A paixão pela ignorância

Quando Mário Soares era Presidente da República e Cavaco Silva Primeiro Ministro, houve um episódio curioso em que o país ficou escandalizado porque Cavaco Silva não lia a imprensa, enquanto que Mário Soares a lia logo de manhã por várias horas e até lia o Le Monde, isto numa altura em que nem havia jornais na Internet. Cavaco Silva, apesar de doutorado no Reino Unido, era assim considerado um energúmeno.

Naquela altura, a maior parte dos adultos não era educada por aí além e, de acordo com o Censo de 1991, mais de um em cada 10 portugueses era analfabeto. Muitos jornalistas nem curso superior na área tinham, pois era uma profissão em que se começava como aprendiz e o conhecimento era passado dos profissionais mais velhos para os mais jovens. Entretanto, a taxa de analfabetismo caiu para 5,2% no Censo de 2011, mas em 2021, decerto que ainda será mais baixa. Esta evolução da população deveria indicar uma exigência ainda maior para com os políticos. Só que a qualidade dos políticos certamente está muito aquém do que se esperaria.

Catarina Martins vai para debates televisivos sem se preparar minimamente, e quando digo minimamente é generosidade da minha parte, até estou a pensar em menos do que o mínimo, pois há muito que nível de escolaridade mínimo obrigatório deixou de ser a escola primária. A propósito, quando contei o episódio da evaporação das barragens a um amigo americano, ele disse-me que, quando encontra americanos que dizem coisas desse tipo, os aconselha a arranjarem um advogado e a processarem a escola que frequentaram, pois foram ludibriados: "deprived of the education that they are entitled to."

Esta semana temos outro lapso na educação dos políticos, pois o Primeiro-Ministro decidiu inventar acerca do mercado imobiliário. Será que não intriga ninguém que um ex-Presidente da Câmara de Lisboa e um ex-Ministro da Administração Interna não perceba nada de imobiliário urbano? Demonstrou que não está a par do que se passa em outras cidades internacionais, claramente não percebe o que se passa em Lisboa, não discutiu o assunto com especialistas, e não é capaz de falar sobre diferentes propostas que tenham sido pensadas.

A única coisa que lhe veio à cabeça é dizer que se o mercado não se auto-regula, o estado tem de regular. O mercado autoregula-se bem: quando há excesso de procura, ou seja a oferta é insuficiente, o preço sobe e regula o acesso ao recurso do lado da procura, mas o preço mais alto também serve de incentivo para que haja maior oferta. O preço é um mecanismo de ajuste e parece que o mercado de Lisboa funciona muito bem.

O que não funciona são políticas que deixam o resto do país às moscas e incentivam as pessoas a ir viver para Lisboa, pois isso aumenta a procura. E também não funciona políticas que penalizam os senhorios, pois isso diminui a oferta. Alguém que é Primeiro-Ministro deveria saber isto de cor e salteado.

António Guterres foi para o governo a falar na paixão pela educação, mas o certo é que hoje em dia se paixão alguma há, só pode ser pela ignorância.

quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Massas crédulas e cínicas

As chamadas massas, um fenómeno surgido no século XIX com as grandes cidades, são constituídas por indivíduos desenraizados, atomizados, desconectados, solitários. Além disso, no século XX, como sublinhou Hannah Arendt, tornou-se evidente que as massas eram também, de forma aparentemente paradoxal, crédulas e cínicas. Num mundo em constante mudança e incompreensível para o comum dos mortais, as massas chegaram a um ponto em que acreditavam em tudo e em nada, achavam que tudo era possível e nada era verdadeiro. Uma mistura explosiva. A propaganda das massas descobriu que o seu público estava sempre disposto a acreditar no pior, por mais estapafúrdio que fosse. Os chefes totalitários perceberam, correctamente, que os seus públicos engoliam as maiores aldrabices sem protestar. Podiam mentir descaradamente num dia e serem desmentidos com factos irrefutáveis no dia a seguir. Não havia problema. É aqui que entra em cena o cinismo das massas. Em lugar de abandonarem o chefe que lhes havia mentido, as massas diriam que sempre souberam que a afirmação do chefe era falsa e admirá-lo-iam pela grande esperteza táctica. Hannah Arendt escreveu estas coisas nos anos 50 a pensar nos totalitarismos. Hoje, vivemos em democracias, mas as suas intuições estão mais actuais do que nunca.


Economia desencantada

Nota prévia: este poema é estatisticamente insignificativo com 1% de grau de desconfiança.

Um por cento de mil pessoas
não são dez
mas um bocadinho pequenino
infinitesimal
de todos nós.

A nossa vida é uma estimativa
rodeada de graus de desconfiança
e probabilidades tão importantes
que muitas vezes são frações
minúsculas
de quase nada.

O nosso lavor é feito de números
e projeções esperançadas
muitas vezes questionadas
inconclusivamente confirmadas.

O nosso trabalho não é ajudar o próximo
é apenas um palpite educado
um esforço desencantado
de ajudar 1% de todos os outros
que no fundo são quase nenhum
e, na melhor das hipóteses,
representam apenas um bocadinho mais do que ninguém.


Dili, Setembro de 2019

sábado, 14 de setembro de 2019

Evaporação para leigos

O ciclo da água é matéria da escola primária, que parece que agora se chama primeiro ciclo. Nele aprendemos todas as vias e formas em que a água circula no planeta Terra. A EPAL tem um gráfico giro na sua página de educação infantil:

sábado, 7 de setembro de 2019

Uma dick na Dicklândia

Enquanto eu dormia, a Joana Amaral Dias, que é a MILF (mãe irresistível, logo fodível) de Portugal, decidiu que a melhor maneira de educar os homens a não lhe enviar dick pics por mensagem privada é tornar estas mensagens públicas para que assim as namoradas, esposas, etc., dos ditos homens lhes tratem da saúde. Ou seja, torna-se o espaço público português numa Dicklândia e assim livramo-nos de todos e de todas as dicks.

domingo, 1 de setembro de 2019

Histórias

No evento de ontem da minha vizinhança, uma festa ao ar livre num dos pequenos parques da nossa aldeia de mais ou menos 100 casas, confessei a uma vizinha que tinha a minha casa ainda desorganizada e nem todas as divisões estavam mobiladas. Ela respondeu que na casa dela também não estavam todos os quartos mobilados, mas há uns três anos ela tinha decidido adoptar o minimalismo e gostava muito de não ter muita tralha, isto porque já se tinha mudado umas seis vezes e dava muito trabalho mudar tudo. Depois sugeriu-me que comprasse mobília na Restoration Hardware. Mas não há em Memphis, disse-lhe; mas há em Nashville, respondeu-me. E há online.

Na altura senti o universo parar porque fiquei sem resposta imediata, mas ocorreu-me dizer que gostava mais da Pottery Barn. Realmente, gosto mais da Pottery Barn e não é que desgoste da Restoration Hardware, mas aquele estilo não é o meu, nem sequer se encaixa bem no meu porque eu gosto de tralha, gosto de livros, de louças, de muita cor, e o RH é um estilo beige monocromático. A mobília é enorme e parece-me pouco confortável porque sou muito pequena.

Ir a uma loja e comprar toda a mobília também não se coaduna com a minha ideia de viver porque gosto de coleccionar coisas e de ter uma história para o que tenho. Onde é que arranjaste esse banco, Rita? Fui eu que fiz no sétimo ano, na aula de madeira. E essa secretária estilo mid-century modern? Um Sábado, em Fayetteville, por volta de 2005, regressava do Farmer's Market, quando vi que uma vizinha estava a ter um "garage sale". Fui lá ver o que tinha e comprei a secretária por $40, é Drexel de 1957. Anos mais tarde vi online que a dita secretária é um design de John Van Koert e cheguei a vê-la à venda por mais de $2000 porque entretanto o estilo mid-century modern entrou em voga...

Há umas semanas, quando estava a montar as cadeiras para a varanda, uma outra vizinha minha passava na rua e convidei-a para vir cá a casa para ver como estava. Foi por volta da altura de em que decorei o quarto de hóspedes à pressa porque ia ter visitas. Quando essa vizinha entrou no quarto, que é super-colorido, mas há uma atmosfera serena, ficou um pouco pensativa e disse-me que estava a tomar nota mental de como eu tinha organizado o espaço porque estava muito acolhedor.

Nesse quarto guardo a maior parte dos livros de poesia que tenho. Na parece há uma aguarela que uma amiga minha me fez depois de ambas lermos o livro Succulent Wild Woman e há um quadro com dois cisnes que eu bordei a meio-ponto no sétimo ano e que foi exposto na escola depois de terminar o trimestre. Na cama está uma colcha em crochet feita pela tia da minha mãe. Depois de eu a trazer, há mais de 15 anos, a minha mãe perguntou-me se usava a colcha e respondi-lhe que não, era demasiado pequena para a minha cama. Ralhou comigo porque devia ter dito alguma coisa para se poder aumentar.

Em vez de aumentar, a minha mãe pediu-me as medidas da cama e começou a fazer-me outra colcha, mas morreu antes de a terminar. Tentei continuar o trabalho, mas não tenho muita paciência para o crochet e o meu ponto não é tão consistente como o da minha mãe. Na estante do quarto de hóspedes há uma caixa que tem uma etiqueta que diz crochet e onde guardo as agulhas da minha mãe, as linhas, e o princípio da colcha.

A minha casa está cheia de histórias e não é só por eu ter muitos livros, as coisas têm histórias, umas curtas, outras mais longas. Não há muitas histórias para contar quando se vai ao RH comprar toda a mobília; há apenas a história original: eu gostava muito de tralha, mas há uns três anos adoptei o estilo minimalista.