domingo, 31 de março de 2019

O mundo material


Os virgens e a Madonna

Com este episódio do cavalo, ganhei mais respeito pela Madonna e perdi respeito pelos portugueses. Em pouco tempo, a Madonna ilustrou exactamente como Portugal funciona: nuns sítios predomina o favorzinho a qualquer custo, noutros o desfavor; os critérios são completamente aleatórios e ao sabor dos autarcas. Eis Portugal no seu melhor.

Lamento informar os meus caríssimos conterrâneos que tudo tem um preço, mas a decisão de o pagar é que não é sempre afirmativa. É óbvio que a Madonna não iria achar piada a que lhe dissessem "Não", invocando as razões que foram invocadas e da forma como foi feito. Reparem que em "Like a Virgin", vídeo filmado em Veneza em 1984, numa altura em que a artista não tinha o estatuto que tem hoje, há um leão "à solta".

Se querem atrair investimento internacional, têm de aprender a trabalhar com o mínimo de profissionalismo. É legítimo que achem que o risco de levar um cavalo para um palácio é elevado, mas expliquem o vosso ponto de vista de forma a que as pessoas vos entendam, ou seja, metam um preço na coisa. Digam que querem que a equipa da Madonna apresente pareceres técnicos reconhecidos internacionalmente de que a actividade em questão não irá causar danos. Depois exijam que ela obtenha um seguro que cubra todos os danos que possam acontecer, deixando a propriedade em condição semelhante à encontrada. Digam também que querem ver o orçamento de obras em caso de danos tipo "worst case scenario" e querem que tais obras envolvam especialistas de renome internacional e materiais de qualidade equivalente à que tem a propriedade.

Obviamente, se o custo da actividade for muito elevado, a seguradora irá dizer não a Madonna. Se o risco for comportável, todos os cuidados serão tidos para que os danos sejam minimizados. Que eu saiba, a Madonna não é conhecida por destruir propriedades a seu bel prazer, logo do ponto de vista dela a forma como agiram é basicamente um insulto pessoal porque não há fundamento técnico, apenas impressões pessoais.

E agora vamos lá a ver quantos palácio não andam por aí a cair aos pedaços sem a ajuda de Madonna e as virgens ofendidas de Portugal andam aí a engonhar, a eleger políticos que mantêm o país estagnado, sem que se crie riqueza para os manter...

Adenda: Outro aspecto a considerar com o cavalo e a Madonna é a segurança da artista. Imagine-se que o chão efectivamente se partia e a artista se magoava. Quem era responsável? O dono da propriedade. Ainda bem que o Basílio Horta disse não, não é? Não, não é, porque ele disse não porque lhe deu na telha. Podia ser uma pessoa que lhe desse para dizer sim, como foi o caso de Fernando Medina com o estacionamento em Lisboa. E duvido que, se he dissessem sim, incluíssem uma cláusula no contrato a dizer que se desresponsabilizavam de todos os acidentes que acontecessem a Madonna enquanto na propriedade.

Ter Madonna em Portugal é um enorme risco porque se lhe acontece alguma coisa, ela mete um processo em tribunal por danos e convenhamos que ela vale muito dinheiro. Imaginem que ela acaba em frente de juizes tipo Neto de Moura et al. como vítima. Ia ser giro, ia...

Portugal não é um país preparado para assumir este tipo de risco, nem sequer os responsáveis se apercebem que têm de se precaver contra os mesmos. As coisas não correm pior porque a probabilidade de desastres é baixa por definição, mas a lei dos grandes números não perdoa.






sábado, 30 de março de 2019

Uma lamparina sff

Enviaram-me o esclarecimento do Professor Marcelo -- que por sinal é o nosso ilustre PR -- a propósito dos conflitos de interesse do executivo e eu, na minha ingenuidade, pensei que ele nos ia explicar porque raio não puxa as orelhas ao Primeiro Ministro. Não é ele o guardião da Constituição da República Portuguesa, a tal que diz que "Portugal é uma República soberana, baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade popular e empenhada na construção de uma sociedade livre, justa e solidária."

Como é que o artigo primeiro -- e outros haverá, decerto -- da CRP é compatível com um governo que selecciona pessoas com base em laços familiares? Serão esses critérios normais numa sociedade que se diz "livre, justa, e solidária"? A mim parece-me algo mais parecido com o que se pratica na Máfia, que tem critérios de justiça diferentes do que se querem em sociedades saudáveis.

Afinal, o dito esclarecimento era em defesa própria, a dizer que não tinha sido favorecido pela família. Nós já tínhamos reparado que o MRS tinha sido elegido por voto popular com maioria absoluta, não por predilecção do PM António Costa, mas parece que o próprio MRS, que frequentemente é denotado como um génio da política, ainda não tinha reparado.

Das duas uma: ou Marcelo Rebelo de Sousa sofre do Síndrome de Asperger ou é profundamente incompetente. Génio não é, mas que apetece dar-lhe uma lamparina, apetece...



quinta-feira, 28 de março de 2019

Que estranha forma de vida

Não sei qual é mais estranho: que António Costa achasse que ninguém se importaria com os laços familiares dentro do executivo ou que só se tenha descoberto agora que havia coisas menos recomendáveis neste governo, que até tinha muita gente em comum com os governos de José Sócrates. Como diz o povo: à primeira caem todos, à segunda cai quem quer.

quarta-feira, 27 de março de 2019

O desaparecimento de Madeleine McCann

“The Disappearance of Madeleine McCann” é um polémico documentário da Netflix. A história é conhecida. A 3 de maio de 2007, Madeleine, uma menina inglesa de três anos, desapareceu. Os pais, Gerry e Kate McCann, estavam a jantar, com um grupo de casais amigos, desde as 20h30, num restaurante de Tapas do resort Ocean Club, na Praia da Luz (Portimão). De acordo com os testemunhos, de 20 em 20 minutos, alguém do grupo dava uma vista de olhos pelos diferentes miúdos deixados sozinhos a dormir. Era uma rotina que seguiam há uma semana.  Às 21h30, foi declarado o desaparecimento. As autoridades policiais chegariam ao local horas depois. Passaram quase 12 anos e o mistério continua. Não acredito na tese, defendida, desde quase o início, pelo inspector Gonçalo Amaral de que foram os pais que, por acidente ao sedá-la (os pais sempre negaram que sedassem os filhos), mataram a filha e depois encenaram um rapto.
Verdade que, aqui e acolá, transparece no documentário um certo desprezo e paternalismo dos ingleses em relação aos portugueses - somos pobres, os polícias andavam mal-vestidos, eram poucos profissionais, gostavam era de grandes almoçaradas, como, aliás, logo à época vários jornais britânicos acusaram. Acho até que têm razão nalgumas críticas aos métodos da Polícia Judiciária, que nós, na altura, gostávamos de acreditar que era a melhor do mundo - sempre achei uma treta sem pés na cabeça a tese de que os portugueses têm falta de auto-estima; nós somos "os melhores do mundo", como não se cansa de dizer o nosso querido e muito amado "Presidente dos afectos".

Dito isto, passado todo este tempo, continuam a chocar-me algumas coisas. Como é que os pais deixaram três crianças com menos de três anos a dormir sozinhas num quarto, enquanto jantavam tranquilamente num restaurante a dezenas de metros de distância? Pelos vistos, é uma prática normal entre os britânicos. Não há volta a dar. Este é um comportamento considerado bárbaro pelos nossos padrões, e ainda bem. Segundo, impressiona-me o impulso dos pais - um casal de médicos de Leicester - de chamar de imediato a comunicação social - ao que parece, antes de chamarem as próprias entidades policiais. Há muito a dizer sobre isto. Parece-me, antes de mais, um sinal de uma sociedade corrompida durante muito tempo por um jornalismo tablóide e por uma classe política rendida ao espectáculo e aos faits-divers – eram os anos áureos de Tony Blair e do seu amigo Rupert Murdoch. Quem se envolve com os media está a enfiar a cabeça na boca de um tigre com dentes bem afiados. Os heróis passam a vilões num piscar de olhos. Apresentados numa primeira fase como vítimas pela comunicação social, os McCann rapidamente foram vilipendiados e achincalhados por meio mundo. Por azar, esta tragédia coincidiu com o advento das redes sociais, onde os trolls puderam aliviar-se de todo o seu ódio em cima do casal. Hoje, os McCann devem estar arrependidos dessa imprudência. Ainda por cima. em vez de ajudar, os media podem antes ter - nalgumas fases, pelo menos - prejudicado a investigação.
Entretanto, os McCann processaram vários órgãos de comunicação social e apelaram a um debate sobre o papel dos media na sociedade. Há 100 anos, o jornalista e analista norte-americano Walter Lippmann explicou que os jornalistas se interessam por aquilo que acham que interessa ao seu público. Neste particular, nada mudou. O público quer boas histórias, e não se pode desiludir o público.


domingo, 24 de março de 2019

Irrevogável, a sério

Uma coisa que noto na minha interacção com os portugueses é que não têm noção do tempo em que vivem. Hoje em dia está tudo documentado e nada do que dizemos ou fazemos na Internet será apagado. Há pessoas que nem precisam de andar na Internet para terem a sua vida documentada, é o caso de políticos. Posto isto, acho curioso que não se tenha noção do nosso lugar na história--como é que cada um de nós quer ser lembrado daqui a 100 anos?

Portugal continua a sua tendência de decadência, houve apenas um interregno proporcionado pelos fundos comunitários, mas o empobrecimento vai acelerar por causa da dinâmica da população. Não só se empobrecerá porque a taxa de natalidade é baixa, como se irá empobrecer porque os jovens mais qualificados e que têm opção de sair, irão sair porque hoje em dia trabalhamos ao nível planetário.

Um dia, Portugal será um "case study" sobre o empobrecimento acelerado e nesse dia, quando a capacidade analítica for mais bem avançada do que o é hoje, tudo o que os portugueses publicam online será vasculhado para se tentar construir o porquê da coisa. Ir-se-ão encontrar as patetices do Presidente da República a dizer que as mulheres portuguesas são as melhores do mundo, um Primeiro Ministro que enche o Governo de famílias porque depois de ter criado uma alvo para a participação das mulheres, não soube criar um processo que investisse na formação e promoção delas, deferindo tal tarefa para pais e maridos, partidos que se dizem pró-mulheres e nunca tiveram uma mulher líder, etc.

Pode-se dizer que o nosso passado passará a ser irrevogável, mas a sério...

sábado, 23 de março de 2019

Vida preciosa, amor raro

Isto do pessoal do PS ser tão fofinho e andarem todos tão emparelhados, que até Aristofanes deve estar a dar pulos de alegria, dá-nos uma boa desculpa para ouvir o Girl and Boys do Prince. É que a vida é tão preciosa, queridos, e o amor tão raro!

I love you baby, I love you so much,
Maybe we can stay in touch
Meet me in another world, space and joy,
Vous êtes très belle, mama, girls and boys

Life is precious baby, love is so rare...



sexta-feira, 22 de março de 2019

The End!

O Robert Mueller terminou a sua investigação das ligações de Donald Trump à Rússia e submeteu o relatório final à consideração de William Barr, o recém-nomeado Attorney General, que indicou que talvez consiga dizer qualquer coisinha acerca do realtório este fim-de-semana.

Há quem especule que o relatório em si não será tão bombástico como muitas pessoas gostariam que fosse, mas o que muita gente esquece é que à medida que se desenrolava a investigação, Robert Mueller reencaminhava indícios que mereciam ser investigados mais aprofundamente para outros gabinetes, como o Attorney General de Nova Iorque. Ou seja, a procissão ainda vai no adro e, ao contrário da investigação de Mueller que se insere no âmbito do governo federal americano, uma investigação do estado de Nova Iorque fica fora do alcance do Presidente, que apenas pode perdoar crimes federais.

Outra coisa significativa acerca do alcance dos poderes do Presidente em bloquear o relatório tem a ver com a invocação de sigilo presidencial. O Presidente só pode invocar sigilo presidencial acerca de coisas que se passaram após se tornar Presidente, mas grande parte da investidação tinha a ver com coisas que se tinham passado durante a campanha presidencial e durante o período de transição que antecedeu a tomada de posse.

Estamos todos em pulgas, claro!


Feliz dia da poesia...

Quer dizer, para mim ainda é; para vocês já foi...

Light breaks where no sun shines
Dylan Thomas, 1914 - 1953


Light breaks where no sun shines;
Where no sea runs, the waters of the heart
Push in their tides;
And, broken ghosts with glow-worms in their heads,
The things of light
File through the flesh where no flesh decks the bones.

A candle in the thighs
Warms youth and seed and burns the seeds of age;
Where no seed stirs,
The fruit of man unwrinkles in the stars,
Bright as a fig;
Where no wax is, the candle shows its hairs.

Dawn breaks behind the eyes;
From poles of skull and toe the windy blood
Slides like a sea;
Nor fenced, nor staked, the gushers of the sky
Spout to the rod
Divining in a smile the oil of tears.

Night in the sockets rounds,
Like some pitch moon, the limit of the globes;
Day lights the bone;
Where no cold is, the skinning gales unpin
The winter’s robes;
The film of spring is hanging from the lids.


Light breaks on secret lots,
On tips of thought where thoughts smell in the rain;
When logics dies,
The secret of the soil grows through the eye,
And blood jumps in the sun;
Above the waste allotments the dawn halts.

quinta-feira, 21 de março de 2019

Um descanso

"Rosen: So the solution to unconscious bias is to bring men and women together?

Ginsburg: Well the more women—this is something that Justice [Sandra Day] O’Connor often said, that women of our age should get out there and make a good show, and that will encourage other women, and the more women that are out there doing things the better off all of us will be."

Fonte: The Atlantic

No Dia Internacional da Mulher, as minhas colegas que estão todas num outro lado da sala porque pertencem a equipas em que há muitas mulheres disseram-me que eu tinha de ir passar um bocadinho de tempo ao lado delas porque no meu lado são só homens. Pois são, eu já tinha reparado, só que quando estou no meu lado da sala, a falar com os colegas, esqueço-me que estou no meio de homens.

Aliás, para mim é desconfortável estar ao pé de mulheres. Perguntam se tenho filhos, quando digo que não, dizem-me que ainda vou a tempo. Depois também há a questão do que eu como; não é que eu coma pouco, nem seja muito magra, mas sou mais pequena do que o resto das senhoras e elas têm curiosidade em saber o que como. Os homens não me perguntam coisas destas e é um descanso enorme. Só é preciso eu saber quem são o Tiger Woods e o Cristiano Ronaldo, mas isso é cultura geral.

Portanto, minhas caras mulheres, arranjem mais empregos com homens, mas olhem que não se namora no trabalho. Por uma questão de higiene, não se mistura negócios com prazer.

Pilinhas

Saiu outro ranking de pilinhas para animar a malta e partilhar no Facebook: "Portugal é o segundo país da UE com estradas com mais qualidade", ficou entalado entre os Países Baixos e a França. Dado que Portugal está estagnado há 25 anos, o que é que os portugueses fazem exactamente com as estradas tão boas que têm? Se não criam valor mensurável para a economia, servem para quê -- aumentar a dívida?

sábado, 16 de março de 2019

Por falar em investigação

Na Quarta-feira, estava no carro muito concentrada em ir para a aula de yoga, quando ouço a Audie Cornish, na NPR, anunciar que vai entrevistar a Cary Aspinwall. OMG, eu sei quem é, eu sei quem é!!! Ela estudou jornalismo na Oklahoma State University e foi colega do meu ex-marido, aliás trabalharam no jornal da escola juntos.

Então, a grande Cary Aspinwall é jornalista de investigação no Dallas Morning News, já foi finalista do prémio Pulitzer, e, na sequência da queda do primeiro avião 737 Max da Lion Air, fez uma peça sobre as queixas que os pilotos americanos tinham acerca dos problemas que tiveram para pilotar o avião, queixas essas que foram submetidas à base de dados federal que é administrada pela FAA (Federal Aviation Agency), apesar de ser mantida pela NASA.

Ah, e haver jornalismo assim em Portugal -- era bom, era...
Ah, e haver mais mulheres na rádio em Portugal -- era bom, era...

Adenda:
O meu computador, que deve ser uma maçã podre, não me deixa comentar no post com a minha conta do Google. Agradeço desde já a simpatia de me darem uma lista de mulheres tão exaustiva. Quanto ao segundo comentário acerca da AOC, não aprecio muito as ideias dela e tenho especial cepticismo acerca da teoria monetária moderna, que acho uma coisa que não tem lógica, dada a forma como os governos gastam dinheiro. Aliás, já houve bastantes países que estragaram a economia por causa de financiar gastos públicos com política monetária.

Tristeza e alívio

Como talvez saibam, não tenho filhos. Houve muitas razões para não ter, mas uma delas era um medo terrível que sofressem ou que causassem mal a alguém. É ilógico, bem sei, mas muitas vezes acontece uma desgraça e a primeira coisa que sinto ao saber dela é um enorme alívio por não ter filhos.

Esta semana houve o tiroteio numa escola em S. Paulo no Brasil e, para mim, que vivos nos EUA, não é anormal abrir as notícias e saber de um tiroteio, mas senti uma imensa pena. Tenho uma amiga brasileira que está grávida e quando soube da notícia pensei imediatamente nela, nas vítimas, e nas suas famílias.

Há dois dias houve uma notícia que me deu um resquício de esperança que talvez as coisas melhorem. O Tribunal Supremo do Connecticut produziu uma sentença em que permite às vítimas do tiroteio de Sandy Hook e suas famílias processar as empresas que produzem armas. Apesar de haver uma protecção federal destas empresas, o tribunal concluiu que as suas técnicas de marketing não estavam abrangidas por esta protecção.

Depois acordei na Sexta-feira, e vi a dimensão do tiroteio na Nova Zelandia. Senti tristeza pelas vítimas e alívio por não ter filhos.

sexta-feira, 15 de março de 2019

i de investigação

A DdD soube de fonte segura que o Jornal i, depois de descobrir que Pedro Passos Coelho passou do regime parcial (50%) para o de tempo inteiro (100%) e de ter sido "aumentado" 800 euros para 2000 euros totais (Passos Coelho foi aumentado em 800 euros pelo ISCSP depois de passar a "tempo integral"), quando tem de trabalhar o dobro do tempo, irá dedicar uma edição especial ao excelente jornalismo de investigação que produz a propósito de PPC. As peças que estão a ser trabalhadas incluem:
  • Passos Coelho ignora pergunta de aluno
  • Aluno reprova cadeira de Passos Coelho
  • Passos Coelho contribui para o aquecimento global
  • Passos Coelho compra uma pastilha e não dá número de contribuinte
  • Passos Coelho não usa sempre roupa interior de fabrico nacional
  • Jantar queimado por Passos Coelho
  • Passos Coelho falha buraco do urinol
  • Passos Coelho não baixa tampo da sanita
  • Passos Coelho desliga despertador e adormece
  • Passos Coelho recusa-se a engordar para ficar fofinho como António Costa

terça-feira, 12 de março de 2019

Empregos garantidos

Ora digam lá se isto não lembra o efeito da função pública no mercado de trabalho em Portugal:

"Competition from these government-sponsored jobs would have an initially healthy result. It would force private companies to raise wages and increase benefits in order to keep up with the government. But as private-sector jobs improved, activists’ notion of what constitutes a good job would increase, and they would call for steadily higher wages and benefits for government work. Eventually this would exceed private companies’ ability to pay, so the job guarantee would come to represent the benchmark in the labor market and make up an ever-larger slice of the economy.

This would reduce productivity, since government jobs would likely generate less real value than private-sector jobs. Economists have found evidence that the beneficiaries of short-term government jobs tend not to go on to find work in the private sector after the programs end, suggesting that guaranteed jobs would be low-productivity work. As activists forced government wages and benefits higher, the private sector would find itself deprived of cooks, janitors, housekeepers, cashiers and the other people who make a modern economy run. In a worst-case scenario, this would be a one-way ratchet to a peculiarly dysfunctional form of communism.

So although a job guarantee could potentially be a good thing, politics seem likely to make it bad. A better idea is to use private-sector employment subsidies to encourage companies to hire more unemployed and underemployed workers -- an approach that the data suggests is much more effective in terms of building long-term worker skills. Additionally, a combination of wage subsidies, minimum wages and increased worker bargaining power could help private-sector workers capture a bigger share of the value they create."

Fonte: Noah Smith, Bloomberg

domingo, 10 de março de 2019

Não é verdade, pois não?

Estou a duvidar da minha sanidade mental. Vi agora que uma mulher e sua filha apareceram carbonizadas numa viatura num aparente suicídio da mãe, que dizem sofria de uma depressão. Isto sucede na mesma semana em que a cabeça de outra mulher apareceu numa praia, e outras duas mulheres foram mortas pelos companheiros. Foi uma semana negra para as mulheres e, se calhar, até há alguma outra notícia que me escapa...

Perante isto, Catarina Martins acusa António Costa de agir como Passos Coelho por causa da eterna crise no sistema financeiro português -- será que ela se esqueceu que faz parte da Geringonça, logo é co-responsável? Marcelo Rebelo de Sousa elogia António Costa por causa do seu legado-- qual legado: Tancos, incêndios, ou 5 mulheres encontradas mortas numa semana? Ah, e ontem foi o dia Internacional da Mulher e o pessoal foi manifestar-se para depois ir votar no PS, BE, e PCP.

Como é que a morte de cinco mulheres numa semana em circunstancias tão anormais não domina as notícias? Como é que as pessoas não estão a discutir a segurança das mulheres, mudar a lei para dar penas mais pesadas a agressores, para clarificar o que é violência, melhorar os serviços de saúde para acompanhar perturbações mentais, como? Qual é o papel de uma mulher em Portugal, o de vítima?




quarta-feira, 6 de março de 2019

Fake news

Hoje no Here and Now estavam a falar de uma peça que acabou de ser publicada na New Yorker acerca das práticas da Fox News na cobertura da campanha e agora da Presidência de Donald Trump. Uma das coisas que a peça revela é que Trump recebeu perguntas da entrevista com Megyn Kelly com antecedência. Algo parecido aconteceu no lado dos Democratas durante a campanha para a eleição, quando se descobriu que Donna Brazile lhes tinha enviado as perguntas de um debate na CNN -- ela foi imediatamente despedida.

Note-se que nada disto são crimes, mas violam o código de ética e deontologia do jornalismo e, ao contrário do que os portugueses pensam, os americanos são muito obcecados com este tipo de coisas. Pode haver lapsos ocasionais, mas quando são descobertos tem de haver consequências e cai o céu e a trindade quando há práticas abusivas consistentes. Os EUA são um país muito litigioso e não seguir o código de ética pode convidar processos em tribunal e limitar o uso da liberdade de expressão como mecanismo de defesa. A um meio de comunicação dá-se muito mais latitude para usar nomes e descrever situações do que a uma pessoa particular ou a uma empresa que não faça parte da comunicação social. Há sempre um exercício de comparação entre o interesse de o público saber e o direito à privacidade e bom nome.

Por exemplo, O Washington Post está a ser processado pela família do jovem que ficou famoso por causa do confronto entre os índios nativos americanos e os estudantes da escola católica e vai ter de provar que o objectivo da sua cobertura noticiosa era apenas o de informar e não tinha quaisquer outras intenções, nem foi feito por malícia.

A propósito deste processo em Tribunal, Donald Trump, que é especialista em jornalismo, já deu o seu parecer: houve violação dos princípios deontológicos de jornalismo e foi fake news. Em Portugal, também há uma especialista em jornalismo e fake news, a Elisa Ferreira, que, para além de ser Vice-Presidente do Banco de Portugal, foi convidada para dirigir o Público por um dia. Talvez ela queira escrever uma peça sobre o caso do Washington Post, já que não parece que o Banco de Portugal lhe dê muito trabalho.

sábado, 2 de março de 2019

Colagens

Não me recordo se vos disse, mas dei a minha TV a um dos moços que mudou a minha mobília. Não faz grande diferença, excepto sexta-feira à noite, que era quando muitas vezes via um filme no Netflix. Agora vejo no computador, mas tenho algumas saudades de um écran grande. Ontem, quase que vi alguma coisa no Netflix, mas deu-me a preguiça e fui ver as Histórias do Instagram. Uma das pessoas que sigo é a Sara Toufali, da Black and Blooms, que é basicamente sobre roupa e decoração do lar.

(E agora os apoiantes da Joana Bento Rodrigues gritam "'Tás a ver? É mulher, gosta de roupa e de decoração do lar!" E os detractores suspiram "Ó Rita, tem vergonha! Porque não aproveitas o cérebro para outra coisa melhor?")

Acho o caso da Sara Toufali interessante porque o blogue/Instagram não é muito antigo e ganhou projecção rapidamente depois de ela decidir adoptar um estilo mais boémio, que lhe permitiu fazer parcerias com marcas e também conhecer outras bloguers mais estabelecidas. Ou seja, parte é sorte, parte é ela ter um bom sentido estético, e outra parte é networking.

Então, ontem, nas histórias dela apareceu um link para uma peça da Domino, uma revista de decoração americana, em que ela fala sobre azulejos autocolantes. Quando li, quase que caí da cadeira. Então não é que o primeiro azulejo se chama "Porto"? Quando visito Portugal, é comum ver coisas decoradas com motivos de azulejos portugueses, mas são muito kitsch e não me agradam.

A Bleucoin, que é a empresa indiana que os produz, organizou a colecção por países e regiões: Itália, Portugal, Marrocos, Turquia, Europa... Os azulejos portugueses são mesmo giros. Ora vejam:

Isto não é o da Joana...

Gostaria de acrescentar umas coisas à discussão sobre aquela peça da Joana Bento Rodrigues. Encontrei a peça através de um amigo meu que a partilhou no Facebook e fiquei um bocado chateada com o comentário de alguém que eu não conhecia, que perguntava como é que o Observador publicava uma coisa daquelas. Só por ter lido aquilo apeteceu-me logo ser a favor da Joana porque argumentar a favor da censura é um primeiro sinal de que a coisa é mais complexa do que parece. Depois, vi que havia muita gente contra, ou seja, a JBR tornou-se no underdog aí do sítio e eu, como boa americana que sou, tenho de torcer pelo underdog.