Um blogue de tip@s que percebem montes de Economia, Estatística, História, Filosofia, Cinema, Roupa Interior Feminina, Literatura, Laser Alexandrite, Religião, Pontes, Educação, Direito e Constituições. Numa palavra, holísticos.
Tanto nos EUA como em Portugal devia-se falar mais de probabilidades condicionais em vez de probabilidades simples no que diz respeito às eleições.
Se, nos EUA, o objectivo é eliminar Trump, a estratégia que tem maior probabilidade de o eliminar é votar em Nikki Haley porque é mais fácil eliminá-lo nas primárias, quando menos gente vota, do que nas eleições de Novembro. Que haja pessoas que desperdicem o seu voto em Biden quando ele já tem vitória garantida é irracional e contra-produtivo.
Em Portugal, se o objectivo é minimizar o risco do Chega ir para o governo, então faria sentido a malta de Esquerda votar na AD porque é o partido que, segundo as sondagens, tem mais facilidade em chegar a uma maioria. Só que há pessoal de Esquerda que acha que fica com a consciência tranquila votando nos partidos minoritários da Esquerda, o que não adianta absolutamente nada para criar uma maioria de Esquerda e não reduz o risco do Chega.
O governador do Illinois, J.S. Pritzker, discursou na cerimónia de final de curso da Northwestern University no ano passado. Foi uma participação bastante bem humorada, em que alertou os recém-graduados para a necessidade de aprender a navegar um mundo em que pessoas idiotas podem ser bastante espertas, tão espertas que chegam a patrões e presidentes. Como é que ele identifica idiotas? Procurando as pessoas que agem sem empatia e compaixão, dado que ambas essas qualidades necessitam que se desligue os instintos pré-históricos, os que nos fazem desconfiar de pessoas que não pertencem à nossa tribo. Por esta métrica, as sociedades mais evoluídas são aquelas em que as pessoas têm confiança suficiente para não verem os outros como uma ameaça.
Tenho andado a pensar nisto no contexto do Chega. Não me identifico de todo com o discurso, aliás até acho que têm um discurso anti-Rita; no entanto, não os vejo como uma ameaça. Devo estar na minoria, pois no debate público tem-se dedicado bastante atenção à questão de o Chega poder chegar a governo e se os partidos deveriam assumir previamente que não fariam uma coligação com o Chega. Acho essa expectativa anti-democrática por várias razões.
Em Democracia, a solução votada não agradará a todos, logo não é nenhuma avaria que haja idiotas que cheguem ao governo, parafraseando o Pritzker. Depois, o problema não é tanto que as pessoas votem em idiotas, mas que haja pessoas que votam sempre nos mesmos, ou seja, deixam o caminho aberto para um número baixo de pessoas decidirem o resultado--quem muda o voto acaba por ter mais poder do que quem vota sempre nos mesmos. Há ainda a considerar que, em Portugal, o risco da extrema Direita está controlado porque a Esquerda é bastante eficaz como oposição; curiosamente, a Direita portuguesa não sabe fazer oposição. Finalmente, dado o alto nível de abstenção e a ineficácia da República Portuguesa em facilitar o voto, o que em si é anti-democrático, é-o ainda mais ignorar parte da vontade do eleitorado.
Ou seja, se o Chega tiver votos suficientes para ajudar a formar Governo, quero acreditar que a sociedade portuguesa saiba lidar com estes idiotas democraticamente. E até nem me admiraria que o Chega chegasse ao Governo via PS e o os idiotas do PS dissessem que a Geringonça 2.0 era necessária para controlar a Extrema Direita.
Hoje enviaram-me umas das propostas do Chega para as eleições, a 351 que diz "Combater a zoofilia e fazer um diagnóstico desta prática em Portugal". Não percebi o que poderia haver de errado com a zoofilia, logo fiz uma procura no Google. De repente, só vejo páginas de pornografia dedicada à bestialidade--ah, essa zoofilia! Será mesmo que o Chega está interessado em regular a bestialidade, parece-me tão aleatório, tipo, "então como é que vamos gerar crescimento em Portugal? Obviamente, limitando o sexo com animais."
Não devo ter compreendido bem, pensei para comigo, logo decidi ir ao dicionário da Priberam para ver exactamente o que me escapava na língua portuguesa. Pois, como eu suspeitava, as definições 1 e 2 não me pareceram nada de mal, dizem que se refere ao amor aos animais, ser amigo dos animais, coisa de franciscanos, portanto. Se calhar, é isso, o Chega quer expulsar os devotos de S. Francisco.
Com uns mesinhos de atraso, finalmente tive o meu check-up médico anual hoje. Dado que já estou acima do meio século, achei por bem levar uma lista de tópicos a discutir como mudanças hormonais, deficiências ou absorção inadequada de nutrientes, vacina de Covid, colonoscopia, ecografia em vez de mamografia por causa do despiste de cancro da mama, teste de diabetes tipo II, etc. No entanto, nada se passa comigo, sinto-me bem, mas as análises estão feitas e os exames encomendados.
Quanto à vacina de Covid, que não tomei no ano passado, ela deixou ao meu critério, mas não acha essencial. A gripe este ano foi mais severa em termos de sintomas do que o Covid, informou-me. Falámos do meu peso, mas a nurse practicioner (gosto muito dela) acha que estou óptima e que o resto de Memphis é que está um horror. Acredito. Quanto às hormonas, sinto mesmo que algo está a mudar porque estou a ficar mais paciente e importo-me menos com as coisas, o que dá jeito.
A última vez que me exaltei, ou talvez tenha perdido a paciência, foi a propósito de um role de queixinhas acerca de Portugal por causa de haver tantos imigrantes. Apetecia-me dar uma estalada ao Ventura porque é uma das fontes das queixinhas. Eu sou emigrante relativamente a Portugal, mas nos EUA sou imigrante, logo não me é difícil imaginar que estão a dizer mal de pessoas como eu -- chama-se empatia. Há também uma enorme hipocrisia, ou chamar-lhe pura estupidez seja mais adequado, porque os portugueses, que são autenticas ervas daninhas migratórias há mais de cinco séculos, não têm autoridade moral para criticar imigrantes ao mesmo tempo que se auto-elogiam como conquistadores e disseminadores da civilização! Pronto, já desci do caixote do sabão...
Daqui a um mês, eu, imigrante e cidadã naturalizada vou votar no meu país de acolhimento, mas como ainda não fui a Washington, D.C., regularizar os documentos portugueses não posso votar nas eleições de Portugal. Agora que Portugal está em eleições e, sabendo-se que a participação no processo democrático está em declínio, pensei que a questão de facilitar o acesso a documentos e o voto emigrante fosse uma das questões mais importantes da plataforma eleitoral de algum partido, mas enganei-me. Ninguém quer saber; nem o MRS, suposto génio, se interessa. Parece-me que o papel de MRS na democracia portuguesa é mais higiénico do que genial: desintegra-se facilmente -- basta juntar água e meter água é o que não falta.
Não sei se é por estarmos a viver a história em vez de a aprendermos de livros, mas há quase um consenso de que a democracia americana já não é o que era e eu até acrescento que se aportuguesou. Quem diria que tanta gente ainda fosse fã Trumpeta e nem vergonha tenha de o assumir? E os fãs de Biden também são censuráveis -- declaração de interesses: eu votei Biden porque na altura era o mais sensato pois ele assumiu-se como um presidente de transição. Biden e Trump já são conhecidos como presidente, o que torna bastante curioso que sejam tão populares, pois se há coisa que os americanos gostam é de mudança. E eu, portuguesa degenerada, mas americana bem formada, vou votar Nikki Haley nas primárias. Mesmo que fosse pró-Biden, votar Biden nas primárias é um desperdício do voto.