quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Snobismo apimentado

Eu não devia escrever a esta hora -- aqui já são 21h19, que é como quem diz, hora de eu ir para a cama porque me levanto antes das seis; quer dizer, é mais idealismo porque eu carrego no snooze umas duas vezes --, mas hoje estava a pensar em moinhos e em ainda não vos ter falado sobre o meu moinho. Qual moinho? O de pimenta, claro.

terça-feira, 28 de agosto de 2018

Um elefante numa loja de porcelana

Nesta última semana, tivemos mais um outro tiroteio na Florida, o que talvez fosse notícia, mas como o Senador John McCain (Republicano, representante do Arizona) faleceu na tarde de Sábado, toda a atenção está a ser focada na reacção do Presidente Trump à morte de McCain. Convenhamos que Trump enfiou-se numa situação má ao criticar McCain sabendo de antemão que a saúde do Senador estava fragilizada. Mas mesmo depois da morte de McCain, o Presidente Trump continuou a faltar ao respeito à memória e ao legado de McCain, que até era a voz mais anti-Trump com assento no Congresso.

Apesar do protocolo ditar que quando um membro do Congresso morre, a bandeira fica a meia haste no dia da morte e no dia seguinte, o normal é o Presidente assinar uma proclamação que prolongue este acto, como forma de honrar o defunto, o que Trump não fez; hoje acordámos e a bandeira da Casa Branca já não estava a meia-haste. Os ânimos exaltaram-se bastante e da maneira que as coisas caminham, o enterro de McCain será transformado numa marcha anti-Trump que unirá pessoas da Direita e da Esquerda americanas.

Não é propriamente surprendente, pois se McCain é conhecido por alguma coisa é mesmo pela sua capacidade de conseguir apoio à esquerda e à direita. (Noto que ainda não consigo pensar em "McCain era"; no Domingo, quando soube da sua morte senti alguma confusão, pois no Sábado tinha sido anunciado que ele iria prescindir de tratamento, mas não entendi que já estivesse tão próximo da morte.) No funeral, Barack Obama e George W. Bush, que têm em comum terem derrotado John McCain em eleições presidenciais, irão proferir panegíricos (é este o termo para "eulogy" em português?).

Na Casa Branca, o Presidente tentou focar a atenção no acordo de comércio internacional com o México, dizendo que era necessário mudar o nome do acordo, pois NAFTA (North-American Free Trade Agreement) tem uma conotação negativa -- até parece que NAFTA é um hotel ao qual se dá um banho de tinta e se muda o nome para tentar passá-lo por novo. Só que o México e o Canadá são "BFFs" e será difícil conseguir um acordo apenas com o México, para além de que o México deve estar preocupado com coisas mais importantes do que o nome do acordo.

A vida na América prossegue com o Presidente Trump a agir como um elefante numa loja de porcelana...

domingo, 26 de agosto de 2018

Dirt Devil

Quase que me esquecia de vos mostrar o Dirt Devil que vi no Texas, num campo em que a colheita foi perdida e, para receber compensação do governo, o agricultor teve de retirar toda a vegetação -- acho uma prática muito irresponsável porque é má gestão da terra, dado que retira humidade do solo e promove a erosão, mas isso são outros 500.

Uma amiga minha do Instagram, que vive no Alentejo, disse-me que, em português, se chama espojinho, uma palavra que desconhecia, mas que acho muito engraçada.

Harvey: um ano

Ontem foi o primeiro aniversário da entrada em terra do furacão Harvey e hoje, há um ano, começava a chover em Houston. Nos noticiários entrevistam especialistas e políticos acerca do nível de preparação da cidade. Houston está menos preparada agora do que antes porque tem menos dinheiro, dada a despesa que teve com Harvey. Por exemplo, ainda há incerteza acerca de como proceder com as casas que inundaram: será que devem ser compradas pela cidade e, se sim, de onde virá esse dinheiro?

A marcar o aniversário, houve eleições no condado de Harris acerca da emissão de $2,5 mil milhões em bonds para financiar projectos relacionados com o controle de inundações e a medida teve votação favorável; em termos práticos, esta medida traduzir-se-á num aumento dos impostos de propriedade em cerca de $5 por ano, em média. No entanto, e apesar do governo federal dos EUA ter dado $5 mil milhões à zona costeira afectada, este montante não é suficiente para pagar todos os custos necessários para melhorar a infraestrutura.

Tem havido uma grande discussão no estado do Texas neste último ano porque o Governador Greg Abbott não deixa usar o fundo de emergência do estado para lidar com estas despesas: o Economic Stabilization Fund que, apropriadamente, tem a alcunha de "Rainy Day Fund" e onde foram poupados mais de $10 mil milhões.

Lembrei-me de ir ler as coisas que escrevi há um ano, quando o Harvey "visitava" Houston. Não parece que tenha passado tanto tempo, mas foi um ano cheio de tropelias na minha vida. Recordo-me de, na altura, ter sido bastante diligente em actualizar a minha situação no Facebook para os meus amigos não se preocuparem, até porque não sabia se ia perder a electricidade ou o acesso à rede, e ficar surpreendida por as pessoas só terem tido noção da situação depois da tempestade ter passado.

Deixo-vos uma lista do que escrevi aqui acerca da tempestade na altura, enquanto penso no que ainda falta escrever deste ano que passou:
  1. Furacão Harvey, 25/8/2017
  2. Harvey Ainda, 27/8/2017
  3. Harvey Dia 4, 28/8/2017
  4. Harvey Recuperação, 29/8/2017 (com uma fotografia de uma cadela que sobreviveu os furacões Katrina e Harvey)
  5. Harvey Dia 5, 29/8/2017
  6. Na Vizinhança, 30/8/2017
  7. Olá, 1/9/2017




sábado, 25 de agosto de 2018

Jack on the rocks...

Uma das coisas a fazer no Tennessee é visitar a distilaria do Jack Daniel's, em Lynchburg. Não sou -- ou melhor, era -- grande apreciadora de whiskey, e nem sequer sabia que Jack Daniel's era tão conceituado, até porque levou a medalha de ouro na Feira Mundial de St. Louis, em 1904, mas é sempre bom aprender estas coisas. (Relativamente a esta feira, há uma outra história que é de cultura geral. Como deverão saber, no sul dos EUA, o chá gelado é a bebida de referência. Pois, é uma invenção que frequentemente é associada a essa feira, mas parece que precede a mesma.)

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Viagens na minha terra

No fim-de-semana que passou, dei um pulo a Nashville, TN, e tenho estado a escrever sobre isso, mas está a demorar um bocado. Entretanto, ontem, vim aqui a Lubbock, TX, que fica na região da Texas Panhandle (asa de frigideira do Texas) para vir inspeccionar os campos de algodão. Não vos posso mostrar o algodão, mas vou mostrar-vos o Canyon de Palo Duro e o Reservatório de Água de MacKenzie.

E pronto...

Já podemos suspirar de alívio porque não temos de viver em suspense para toda a eternidade, como se faz em Portugal com o caso de José Sócrates. O julgamento de Paul Manafort, que trabalhou para Donald Trump, terminou e ele foi considerado culpado de fraude em oito casos. É esperado que apele o veredicto.

Hoje, também, Michael Cohen, o antigo amigo/advogado de Donald Trump, incriminou o Presidente para além de entrar o veredicto de culpado na violação da lei de financiamento de campanhas eleitorais.

Tudo como dantes em Abrantes: a Justiça americana segue o seu caminho e recomenda-se...

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Sobre nada

[Um post que era para ser uma coisa e acabou por ser outra. E comecei a escrever isto há dois anos, para aí...]

Adoro estar sozinha. Não sinto grande falta de pessoas e sou extremamente selectiva com os meus amigos -- há amigos e conhecidos. Como sou muito má a manter contacto à distância com conhecidos, esses acabam por se esquecer de mim, o que me satisfaz muito. Mas de vez em quando, há pessoas que se aproximam de mim e pedem-me a opinião sobre coisas, tipo coisas importantes como percursos de carreira. É um grande erro pedir-me conselhos ou esperarem uma opinião minha, se não querem uma resposta frontal.

domingo, 12 de agosto de 2018

Distância

Na semana passada fui a Houston. Foi uma visita rápida, que contava relatar por aqui enquanto decorria, mas acabei não tendo tempo porque andei sempre com amigos ou estava cansada da viagem. Decidi ficar a primeira noite no Sam Houston Curio Hotel, na Baixa, porque ficava perto do sítio onde tinha de estar na Sexta-feira de manhã. Como cheguei à noite, fui ao bar por uns minutos e bebi o meu primeiro Martini. Normalmente, bebo um copo de vinho ou um gin e tónica, mas decidi não ser tão previsível e experimentar algo novo. o único problema é que não consegui dormir bem essa noite. Talvez eu e os Martinis não sejamos compatíveis à noite, porque repeti a experiência ontem, não em Houston, mas em Memphis, e o resultado foi o mesmo.

A minha manhã de há duas Sexta-feiras foi animada e, apesar da noite mal-dormida, consegui completar o que tinha de fazer. Depois, almocei com uma amiga portuguesa e é tão bom partilhar um almoço em português. De tarde, fui à minha antiga vizinhança, o que me traz um leque variado de emoções, mas parece que as coisas estão a assentar, pois desta vez, conduzir por Houston foi muito mais orgânico, como se fizesse parte de mim. Na última visita, senti uma mistura de medo e surpresa por já ter esquecido algumas partes da cidade. Às vezes detesto a forma como o meu cérebro funciona, a maneira como se adapta à mudança tão rapidamente.

Como a minha vizinha não estava em casa, aproveitei para ir fazer uma pedicure no meu sítio preferido. É sempre um bocado assustador bater à porta dela e não obter resposta porque estou sempre a pensar que algo de mau aconteceu. Não foi mau, foi apenas uma nova experiência que ela decidiu ter aos 94 anos: foi à acupuntura e já estava de regresso depois de eu estar despachada. A filha estava com ela e durante a nossa visita passámos grande parte do tempo a falar da grande notícia desse dia -- um homem suicidou-se num dos parques da cidade.

Há umas semanas, um dos melhores cardiologistas dos EUA -- ele operou o George H. W. Bush -- ia para o trabalho de bicicleta quando foi morto a tiro: um ciclista cruzou-se com ele, parou, puxou a arma e matou-o. A polícia pediu aos residentes para ver se tinham imagens de vídeo e houve alguém que conseguiu ajudar. Depois dessas imagens passarem na comunicação social, alguém conseguiu identificar o ciclista e iniciou-se uma caça ao homem.

Enquanto isto se passava em Houston, uma mulher no Ohio recebia pelo correio a escritura de uma casa em Houston. A casa tinha sido doada por um antigo polícia que, há uns anos, tinha ajudado a filha dessa mulher, uma jovem que era tóxico-dependente e residia em Houston.

Esse polícia bom-samaritano foi o homem que supostamente matou o cirurgião e parece que tinha uma lista de pessoas, que se suspeita estarem também na mira. Nessa manhã de 3 de Agosto, o antigo polícia foi rodeado pela polícia e matou-se com um tiro à frente deles. Para além da arma, tinha também um colete à prova de bala, logo suspeita-se que ele estivesse preparado para fazer alguma coisa má.

Nas últimas semanas, tinha doado a casa e vendido a sua colecção de armas, ou seja, começou a fazer os preparativos para a sua eventual morte. O motivo disto tudo aconteceu há 20 anos, quando a mãe deste homem foi operada pelo cirurgião e não sobreviveu. O que poderia ter acontecido nessa manhã morreu com ele, mas é bastante provável que haja pessoas que podiam estar mortas hoje se as coisas se tivessem desenrolado de outra forma.

A filha da minha vizinha contava isto com grande entusiasmo, enquanto víamos imagens na televisão e ela reconhecia as vizinhanças das imagens e dizia quem tinha morado naquela área. Era estranho ser tão próximo e durante o regresso da visita ao acupunturista, tinham feito um pequeno desvio para ir investigar alguns dos sítios do caso. A minha vizinha dizia à filha "Tu és tão mórbida!" como que a tentar acalmá-la e mais lhe dizia que não ia visitar mais sítios nenhuns do caso com ela. Comentávamos que este caso era tão estranho que, com certeza, irá inspirar um filme para passar na Crime TV, ou um canal semelhante. A realidade é tão mais estranha do que a ficção...

Por umas horas foi como se eu não tivesse partido e quando me despedi, a minha vizinha, que tantas vezes me enxotava de casa dela porque precisava de ir ver um jogo de baseball na TV, ou golfe, ou basquetebol, disse-me que tinha muitas saudades minhas e rapidamente, quase que despercebido, ouvi um "I love you!" Nunca mo tinha dito quando eu estava próximo, mas a distância ajudou a aproximar-nos ainda mais. Isso e eu terminar todos os meus emails que lhe envio semanalmente com "I love you" ou "Love ya" ou "Love, as always". Nunca se sabe o dia de amanhã.











quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Meu caro Eurico Lemos Pires


Perguntei pela tua saúde há pouco mais de um mês, quando estive pela última vez no Instituto de Educação da UM, que, na sua versão inicial (a Unidade Científico-Pedagógica de Ciências da Educação, nos já distantes anos 70 do século passado), tu ajudaste a criar. Tinhas vindo de Angola, um “retornado” que como tantos outros não quis carpir mágoas mas trabalhar, e decidiste abraçar uma das tuas paixões – pensar a educação de um ponto de vista sociológico, mas suficientemente abrangente para não ficares pelos discursos cheios de palavras e vazios de conteúdo prático, que sempre prezaste.

terça-feira, 7 de agosto de 2018

Elas e eles

O NYT tem um artigo a falar da idade em que as mulheres têm filhos e de como isso afecta o futuro das crianças. O problema é um de selecção: as mulheres que têm um nível de educação mais alto e/ou adiam ter filhos por causa da carreira acabam por poder dar melhores condições económicas aos pequenos, o que melhora as expectativas de vida dos mesmos.

Acho esta discussão um bocado incompleta porque também devíamos ter em conta o número de actos sexuais que os jovens têm versus os mais velhos. Se calhar, com a idade avançada, o pessoal tem mais sexo quando quer procriar; de resto, estão satisfeitos em olhar um para o outro languidamente porque se amam muito, mas apenas figurativamente.

E depois onde ficam os homens nisto tudo? É que parece que elas é que tomam as decisões todas, estilo ida ao super-mercado: hoje apetecia-me uma queca reprodutiva para o jantar. Vamos ver como está o menu do bar da esquina. Eu sei que há aquela coisa da emancipação das mulheres e de elas decidirem o que fazer com o corpo, mas se uma mulher quer engravidar e o parceiro não, será que ela leva sempre a dela avante?

Há uma outra hipótese, pois claro: talvez haja um segmento da população masculina que goste de ter relações com mulheres mais novas, que são também aquelas que têm um nível de educação mais baixo. Se calhar, há maior probabilidade que elas prescindam do preservativo, o que "supostamente" dá mais prazer a eles. E talvez o custo de oportunidade de um homem deixar uma mulher sem grandes perspectivas de vida porque não gosta muito de estudar seja mais alto do que se deixar uma mulher com uma carreira estabelecida.

Ou seja, talvez a situação actual não seja apenas o resultado de selecção delas mas também deles e nós só apreciamos o ponto de vista que dá jeito à tese que queremos defender.