terça-feira, 31 de maio de 2022

Segundo dia

Começámos languidamente o nosso Domingo, com uma viagem de Lyft até ao restaurante Copper Vine, na Poydras St., por volta do meio-dia, para o brunch. A nossa mesa ficou situada na varanda, pois escolhemos restaurantes que oferecem mesas no exterior. Bebi uma mimosa e comi um prato de porco, o "cochon de lait Benny", que tinha a vantagem de não ter glúten, logo dava para eu comer. 

Estava bom, mas as verduras ("greens"), ao estilo do sul dos EUA, não me agradaram. Era kale, a tal couve que ficou famosa por causa do caldo verde, mas que, por estas bandas, tem a má sorte de ser cozida de tal forma que fica bastante amarga. O resto do prato estava bastante bom, apenas um bocado frio quando chegou à mesa. Mas foi uma boa experiência e o restaurante merece ser visitado num dia menos movimentado. Vamos a preços: a mimosa foi $10 e o cochon foi $16 e, depois do imposto e da gorjeta, ficou em quase $34. 

Depois do almoço fomos para o French Quarter, passeámos e visitámos algumas lojas de candeeiros, galerias de arte, joalharias, e fomos também ao museu na Royal St. onde está a Historic New Orleans Collection. Fica num edifício restaurado de forma a se preservar as os traços originais do edifício. No pátio central, havia um café que também servia almoços ligeiros, no qual aproveitei para tomar um café gelado com leite de coco. Paguei também a bebida da minha amiga e tudo ficou por $14,50, depois da gorjeta. Calhou mesmo bem porque estava mesmo cansada e o café ajudou-me a despertar. 

A minha exposição preferida no museu foi sobre a peça do Tennesse Williams, A Street Car Named Desire, que também deu origem a um filme, e decidi que tenho de encontrar uma cópia do livro para ler. Na loja do museu, encontrei a minha perdição: uma sai reversível em seda pintada à mão, que me custou $362, mas é tão bonita. Tive de comprar. 

Após o museu, fomos à Jackson Square, de onde foi retirada a estátua do Andrew Jackson.  Em redor da praça, há um rol de pessoas curiosas, inclusive videntes, cartomantes, pintores, caricaturistas, etc. Já há algum tempo que eu queria consultar uma vidente e como uma me chamou quando passámos, achei que era uma boa altura. Uma das coisas que me disse era que eu gastava muito dinheiro--os óculos escuros Gucci devem ter tido algum peso, mas ter gasto $60 em 10 minutos para me lerem as palmas das mãos e as cartas também deve ter contribuído. E será que acredito? Não faço ideia, mas em Nova Orleães temos de acreditar e eu até comprei salvia branca (cheira tão bem) numa loja de cristais e "New Age"($13,16).

O jantar foi no Sidecar Patio & Oyster Bar ($19,03) e jantei fish tacos (as tortilhas eram de milho). Depois regressámos ao French Quarter, fomos até à beira-rio para ver o Mississippi, passámos pela Bourbon St., que estava super-barulhenta e cheia de "characters", e ficámos tão exaustas que apanhámos um Lyft para voltar ao hotel.

domingo, 29 de maio de 2022

Bons tempos

"Laissez les bons temps rouler! | Let the good times roll!"

Escrevo-vos de Nova Orleães, onde cheguei ontem. Fica a 655 Km de minha casa. São à volta de seis horas de carro, se pararmos uma ou duas vezes para encher o tanque. Quanto custou? Gastei cerca de um tanque e meio de gasolina e custou à volta de $55. Achei que seria engraçado documentar os custos da viagem para compararem com o turismo português.

Deixei Memphis pouco depois das 9 da manhã, depois de levar o meu cão ao hotel de cães;  por volta das 17 horas já cá estava e fui jantar com uma amiga ao The Avenue Pub, que serve comida com inspiração belga. Comi uma salada com camarão ($12.50) e ela o cassoulet ($13.50), que foi servido numa taça de pão (o pão é redondo, ao qual se corta o topo e retira o miolo e o cassoulet é lá enfiado). Partilhámos uma garrafa de vinho Sauvignon Blanc ($27). O total da refeição para as duas depois do imposto foi $58.41 a que se acrescentou a gorjeta de $11. 

Terminámos o jantar às 18 horas, o que é um bocado cedo, mas eu não tinha almoçado, apenas comi um pacote de batatas fritas durante a viagem. Regressámos ao hotel, que fica a três quarteirões, trocámos de carteira e apanhámos o elétrico ($1.25) para ir ao French Quarter. Passeámos bastante e o plano era parar em algum sítio para beber qualquer coisa, mas estava tudo cheio. Havia um bar com uma banda de jazz muito boa, onde pensámos entrar, só que fechava às 23h e já passava das 22h30m, logo optámos por não parar. Não sei se foi da viagem, mas também estava super-cansada.

Durante as deambulações pedonais parámos na livraria Frenchmen Art & Books, que tem coisas muito engraçadas e onde comprei quatro livros por $72.05. Depois também encontrámos os poetas de rua e pedi a uma rapariga para me escrever um poema sobre livros. Paguei $30 pelo poema.

Apanhámos um Lyft quase às 23 horas, o nosso condutor era o George que conduzia um Tesla -- nunca tinha andado num Tesla, mas tirando o écran enorme com as imagens do que se passa em redor do carro, não vejo qual o poder transformativo do veículo. Bem sei que é eléctrico, mas so what? A nossa viagem de Lyft custou $20.99, que incluiu $5 de gorjeta.

Vamos ver como vamos passar o dia de hoje. Estou esganada de fome porque ainda não comi um pequeno-almoço de jeito e já são 10h30m da manhã...


terça-feira, 24 de maio de 2022

Mudança estrutural, será?

Se há coisa que a pandemia nos ensinou é que a economia portuguesa é um bocado lenta a reagir e que as autoridades portuguesas têm uma tendência para achar que Portugal é excepcional quando os choques externos demoram a se revelar. A invasão da Rússia mudou estruturalmente a Europa e, consequentemente, Portugal. Os efeitos ainda não estão solidificados, mas dão para se vislumbrar. 

Até agora, a política de energia servia para atenuar efeitos ambientais dentro da UE, dando-se preferência a energias renováveis e importando-se combustíveis fósseis de países como a Rússia. Esta política é agora impossível, dado que a Europa tem um déficit energético que terá de ser colmatado nos próximos seis meses, antes do próximo inverno. É quase certo que terá de haver um acordo com a Rússia, ou os europeus passarão frio e fome no próximo inverno, o que recordará alguns das dificuldades da República de Weimar, onde notas de banco foram usadas para acender fogões. 

Mas mesmo com acordo e a que preço, a Europa terá de mobilizar o seu investimento de forma a produzir mais energia e se tornar independente da Rússia. A Europa terá de fazer o que os EUA fizeram nos anos 70 e que foi considerar a independência energética como uma política de segurança nacional.

Por outro lado, também terá de ajudar a reconstruir a Ucrânia pela simples razão de os ucranianos estarem dispostos a se sacrificar para impedir a Rússia de avançar Europa a dentro. Depois, há também a necessidade de aumentar os gastos em despesas militares para que a Europa se possa defender de futuros e potenciais ataques.

Qual o papel de Portugal no meio disto? Até aqui, Portugal tem usado o investimento da UE para alimentar a corrupção e a extração de rendas; o mesmo se pode dizer das relações diplomáticas portuguesas. Por exemplo, no contexto actual, se Portugal tivesse usado melhor os investimentos em energias renováveis, estaria em melhor situação para fazer face aos efeitos da invasão. Outro exemplo, se as relações diplomáticas com Angola servissem os interesses de Portugal e da UE, também poderiam ser benéficas na gestão do défice energético da UE.

Viver do turismo, financiamento a taxas de juro negativas, e transferências da UE são estratégias inconsistentes com a situação mundial actual. Ou Portugal muda, ou os portugueses mudam: o aumento da emigração é quase certo. Ou talvez emigrar seja mesmo o fado de Portugal e, nesse caso, não há mesmo mudança estrutural. 

 




sexta-feira, 20 de maio de 2022

Benefícios de ser emigrante

Tenho recebido várias mensagens acerca das peças de opinião sobre Roe vs. Wade, em particular a de um veterinário e a de um estudante de licenciatura. Os autores bem tentaram ir à Wikipédia, mas os resultados não abonam muito a seu favor.

A parte mais divertida foi ler que, depois da decisão de Roe vs. Wade, os estados tinham legitimidade para legislar. Nesta parte, os americanos funcionam como os portugueses: o parlamento (dos estados) tem legitimidade para legislar independentemente das decisões dos tribunais. 

São mesmo precisas aulas de cidadania em Portugal para ensinar noções básicas de como a sociedade está organizada e é governada. 

Quanto aos artigos de opinião, será que não há ninguém em Portugal entendido em Direito americano que possa escrever qualquer coisa minimamente educada? 

terça-feira, 17 de maio de 2022

Invasão procura-se

Hoje saiu o índice de preços de vendas por atacado para Abril da economia alemã, que cresceu 23.8% comparado com o período homólogo de 2021. Em Março tinha crescido 22.6%. É um máximo desde 1968 e, apesar de não ser tão importante como os preços a retalho, é um número que assusta um bocado. 

Estou preocupada com Portugal porque tem um política que é adequada a tempos fartos na Alemanha. Para além da inflação, há também a necessidade dos europeus gastarem mais dinheiro em defesa e decerto que reconstruir a Ucrânia também irá custar uns trocos. 

Ou seja, o PM Costinha tem de começar a estudar técnicas de marketing para poder sacar mais dinheiro.  Também pode continuar a ser mal-educado e, se conseguir provocar os espanhóis de forma a que eles invadam Portugal, basta copiar as técnicas do Zelensky.

segunda-feira, 16 de maio de 2022

Terramotos

"So you found a girl
Who thinks really deep thoughts
What's so amazing about really deep thoughts?
Boy, you best pray that I bleed real soon
How's that thought for you?"

~ Tori Amos, Silent All These Years

Há, em Portugal, umas almas incomodadas com a Ucrânia ter ganhado a Eurovisão: que não foi por mérito, mas sim por motivo político. Pronto, não vale a pena estarem tristes. Vou-vos dar música a sério, que tem mérito e também mete política, religião, sociologia, filosofia, sexo...

É isso mesmo! O Rick Beato a falar sobre o Little Earthquakes, o álbum da Tori Amos que fez 30 anos em Fevereiro. Foi um dos primeiros CDs que comprei depois de vir para os EUA permanentemente, apesar de, na altura, pensar que a minha estadia ia ser temporária.  

 


quinta-feira, 12 de maio de 2022

Saudosismo

Vi mesmo agora que Portugal foi apurado para a Eurovisão com uma canção chamada "Saudade, saudade." Eu entendo que pessoas como eu, emigrantes e pobres de espírito, cultivem este saudosismo, mas o pessoal do Continente (não do hipermercado), que é tão sofisticado, faria melhor em tratar do futuro e usar o passado apenas como referência, não ponto de chegada. Depois recordo-me, como dizia a um amigo português hoje ao telefone, que os portugueses nem topam que têm um hino que elogia a emigração: heróis do mar, não heróis que ficam em terra.

Por falar em elogios aos portugueses, acabei de ler um livro sobre agricultura no Minho no século XX, chamado "Today There is No Misery". O autor é de antropologia e sociologia rural e apresentou um levantamento do que era viver no Minho rural, especificamente em Pedralva. Pelo caminho, avaliou as receitas propostas por economistas, engenheiros agrários, e governantes, das quais foi crítico. Concordei com bastante do que disse; aliás, os americanos, com o seu pragmatismo e obsessão em validar os argumentos através de dados, são sempre uma boa fonte de argumentos interessantes.

Tenho a felicidade de conhecer e ter bastantes amigos americanos que viveram os tempos da Depressão dos anos 30 e me contam como era a vida naquela altura. Mesmo na minha família americana, a minha ex-sogra, ainda tinha muitos dos hábitos de cozinha que tinha aprendido da mãe. Certas zonas de Portugal, quase até aos anos 70 eram bem pior do que a Depressão americana, o que impressiona bastante. Famílias a ter de dar os filhos para servir em casas mais abastadas porque não tinham como os sustentar, consumo de vinho porque era a única forma de obterem hidratos de carbono e calorias... Quase todo o trabalho em zonas rurais servia para não se morrer de fome. 

Foram tempos duríssimos, mas na altura havia alguma saudade de quando as coisas eram tão más que as pessoas eram forçadas a se ajudarem mutuamente. Esse espírito de entre-ajuda e sobrevivência parece ter ficado no passado, mas restam as canções a elogiar a saudade.

  

sexta-feira, 6 de maio de 2022

Estás aqui, estás a campar

No seguimento do rascunho da decisão do SCOTUS que poderá repelir Roe vs. Wade, começa-se a ver nas redes sociais um movimento de apoio ao acampamento, traduzido livremente como: Olha, se precisares de acampar noutro estado, levo-te a acampar num estado amigo de acampamentos, não te faço perguntas sobre o teu acampamento, nem conto a ninguém que acampaste.  

Quando eu me portava mal, ou até quando havia o mínimo indício que eu me pudesse portar mal, a minha mãe dizia-me, meio-zangada, meio-divertida ,"estás aqui, estás a campar", que era código para eu desistir da malandragem. Ironia, das ironias, calhou os americanos decidirem que a melhor metáfora para as nossas circunstâncias era o acampamento. 

Desde ontem, já recebi várias mensagens de SMS a pedir para apoiar a causa, que consiste em assinar uma petição, só que para a submeter pedem uma contribuição monetária para a organização. Não é por nada, mas há aqui um enorme risco moral. É que esta gente ganha mais com a questão do aborto no limbo, do que com o caso arrumado, logo é vantajoso manter as mulheres reféns.

Até o Michael Bloomberg já escreveu um editorial a defender que a solução era legislativa e o Senado a devia arrumar de vez. Note-se que, sem as tramóias do Bloomberg nas eleições, o Biden não teria sido o candidato democrata. Um dos argumentos em favor do Biden, era mesmo a sua capacidade de passar legislação no Congresso: quando o Obama precisou de passar o Affordable Care Act, encarregou o Biden de facilitar o processo legislativo.

Para contrariar o marketing negativo, saiu hoje a notícia que vamos ter a primeira mulher negra LGBTQ no cargo de Porta-Voz da Casa Branca. Coincidência que tal aconteça mais de um ano após o Biden ser Presidente e no dia a seguir à fuga de informação do SCOTUS. Até tivemos direito a um abraço entre a futura porta-voz e a actual, apesar de nos andarem sempre a avisar que ainda estamos em tempos pandémicos e há que ter cuidado. 

No que diz respeito à guerra, a Administração informa a imprensa que tem andado a ajudar os ucranianos e o submarino russo foi ao ar, perdão, ao fundo, com a ajuda dos meus queridos governantes. Ontem tínhamos aprendido que os americanos andavam a ajudar os russos a encontrar e alvejar os generais russos. Uma guerra dá sempre jeito para ficarmos mais informados, especialmente antes de irmos campar.


quarta-feira, 4 de maio de 2022

Nós, as idiotas

Anda uma grande confusão, deste lado do Atlântico, porque houve uma fuga de informação no SCOTUS de um rascunho de uma decisão que potencialmente poderá repelir a decisão de Roe vs. Wade,  a tal que permite que as mulheres tenham acesso ao aborto. Ficou tudo muito eriçado com tamanha afronta, especialmente do lados dos Democratas, aquele partido que, neste momento, detém a maioria no Congresso e até tem a Casa Branca.  

Ou seja, se se interessassem tanto pelos direitos das mulheres já teriam legislado em favor do aborto com o Obama ou com o Biden, dado que ambas as administrações tiveram maiorias no Congresso. Se não legislaram, calem-se agora; não nos façam de idiotas.

Biden já decidiu que vai candidatar-se a outro termo e eu já decidi que não só não voto nele, como desejo que seja derrotado. Houve mais transformação social com o Trump do que está a haver com o Biden e, para cúmulo dos cúmulos, ainda tivemos de levar com a saída desastrosa do Afeganistão. Venha o próximo.